Saudações, cervejeiros!
Se há algo que engrandece o ser humano, de forma bastante ampla e sem contraindicações é o conhecimento. Tanto isso é verdade que existe o famoso ditado: o conhecimento liberta.
Quando começamos a pensar na verdade contida no ditado mencionado, e como que isso pode ser aplicado e vivenciado na cultura cervejeira, é possível se chegar ao entendimento que o conhecimento traz a libertação pela escolha.
Contudo, não é apenas a escolha pela escolha. Isto é, não é o mero ato de escolher sem saber justificar. Afinal de contas, o conhecimento (libertador) é sempre baseado em uma crença justificada (como verdadeira). Outrossim, é a escolha autonomamente colocada, dentre uma ampla gama de estilos que permite o florescimento da cultura cervejeira.
Trocando isso em miúdos (afinal, esse será o andamento do texto de hoje), quanto mais se conhece e se aprofunda as degustações cervejeiras, mais se é possível ter uma decisão (ou escolha) autônoma diante do que é posto. A oferta do mercado cervejeiro vem se ampliando a cada dia, novas cervejarias surgem, trazendo novas cervejas e diversificando estilos. Esse movimento de expansão e diversificação é tão amplo que, às vezes, parece difícil até mesmo o que escolher.
Nesse sentido, conhecendo e se aventurando em novas estilos passa a se ter uma base melhor e mais bem justificada de escolhas. Quanto mais se prova, mais se aprende e quanto mais se aprende mais se sabe escolher.
Então, convido-os a adentrar um pouco mais nos vieses da cultura cervejeira para conhecer cada vez mais.
A amplitude de estilos artesanais
A princípio, a variedade de estilos cervejeiros que existem (para não citar os menos populares atualmente) soa como uma barreira de entrada. Parece ser difícil conhecer cada um, e quanto mais difícil isso parece, menos fácil se torna escolher o que se deve beber (ou o que se pode escolher para beber).
Certamente que em uma ida despretensiosa ao supermercado, para quem está acostumado apenas com as cervejas de massa, escolher, por conta própria, uma cerveja artesanal não soa como uma das tarefas mais simples. Porém, isso não se torna (ou não se tornará) mais fácil sem que uma escolha qualquer seja feita.
A amplitude dos estilos artesanais é um desafio para a escolha. De outra banda, por ser um desafio, também é uma oportunidade a ser conhecida. Como toda oportunidade, pode haver o erro ou o acerto.
Nesse ponto, aliás, até mesmo quem já bebe cervejas artesanais há algum tempo pode incorrer no erro. Seja pela publicidade hypada de uma cerveja, ou simplesmente porque outras pessoas estão falando bem sobre ela, ainda que ela nem seja tudo isso.
Inobstante, mais interessante que se focar na possibilidade do erro na escolha, é pensar que cada experiência pode contar para que seu próprio julgamento sobre um estilo cervejeiro, ou sobre uma cerveja em específico, seja construído. É na construção de cada uma dessas experiências que a autonomia futura do conhecimento sobre cervejas vai sendo formada.
Adquirindo autonomia: provando, degustando e também errando
Tenho um lema muito particular de que só aceito que eu mesmo critique algo caso eu saiba do que se trata. A crítica, seja ela positiva ou negativa, sem o devido embasamento, deixa de ser crítica e passa a ser apenas ódio gratuito. Todavia compreendo que quando se tem o embasamento prático sobre algo, toda sorte de crítica pode ser feita, doa a quem doer.
Nesse processo de escolhas e de degustações, o erro na decisão sobre o que se bebe é algo corriqueiro e necessário. Aliás, só conseguimos formular o conhecimento sobre os mais diversos estilos de cerveja provando e sabendo do que se trata. Provar algo que não se gosta (ainda que não conscientemente) faz parte do ciclo do conhecimento.
Prova-se, gostar ou não é consequência. A diferença entre um fato e outro é a repetição. Pode-se repetir para que a dúvida seja sanada, afinal, nem sempre se gosta de tudo ou e todos os estilos de cerveja logo de cara. O exemplo mais comuns são as IPA’s mais amargas, ou quiçá as Sour’s mais ácidas… pode ser que em uma segunda chance as coisas mudem de figura, e seu gosto se amolde ao estilo proposto.
Conhecendo e escolhendo cervejas
Ampliar o leque das degustações capacita o bebedor a poder escolher, seja diante dos estilos cervejeiros propostos ou diante dos seus próprios gostos, aquilo que será conhecido e bebido. Certamente que após algum tempo de estrada e várias horas-copo depois, é mais fácil perceber quais cervejas ou estilos de cerveja não agradam de forma alguma e até mesmo em quais cervejarias não vale a pena gastar seu dinheiro.
O conhecimento traz a autonomia cervejeira suficiente para que não se dependa da indicação ou da preponderância de um influencer digital qualquer, o qual provavelmente não será imparcial (sempre rola um jabá cervejeiro) e na maioria das vezes não detém o conhecimento suficiente para indicar nada.
Depender da escolha de outrem, por mais que seja o caminho mais fácil para quem não quer ter muito trabalho em conhecer ou desvendar os mistérios sensoriais dos mais diversos estilos de cerveja, é a forma mais preguiçosa de se enganar e também de se decepcionar. Escolher pelo caminho do conhecimento cervejeiro é saber escolher para si próprio. Cultivar a autonomia cervejeira é o verdadeiro espírito da cultura cervejeira e faz parte de sua riqueza intrínseca.
Saideira
Conhecer sobre cervejas não significa beber apenas cervejas boas ou cervejas que você achou boas. O processo de conhecimento dos mais diversos estilos compreende também degustações não tão boas assim. Mas, faz parte do contexto de conhecer os mais diversos tipos e estilos de cerveja.
Mais importante que isso, é saber que o conhecimento sobre cervejas é capaz de gerar a autonomia nas escolhas futuras. Ao se formar o entendimento sobre o que é mais aprazível a ser degustado dentro do amplo universo das cervejas artesanais, as escolhas acabam sendo mais bem direcionadas para aqueles estilos que se gosta mais.
Quanto mais se conhece sobre os estilos cervejeiros e suas nuances, mais se está capacitado para escolher as próprias cervejas, sem depender das indicações, nem sempre boas, de outras pessoas, sejam Sommeliers ou não…
Afinal, não tem nada melhor do que escolher bem, algo para si mesmo!
Saúde!
Recomendação Musical
Como o importante é sempre conhecer mais e mais, estou trazendo na recomendação musical de hoje uma banda que, provavelmente, a maioria não conhece!
Trata-se de um dos maiores expoentes do rock da Espanha do final dos anos 80 e início dos anos 90, a banda Héroes del Silencio, com seu megahit: Hechizo!
Apreciem!