[PERFIS LITERÁRIOS] Conceição Flores: Ó Capitã! Minha capitã

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Nos versos de “Especulações em torno da palavra homem”, Carlos Drummond de Andrade nos traz um poema de reflexão filosófica em torno do sentido da vida. E a partir desse pensamento, sobretudo quando o bardo mineiro pondera – “Quanto vale o homem?/ Menos, mais que o peso?/ Hoje mais que ontem?” – lamentamos consternados a notícia de que a professora Dra. Conceição Flores foi demitida da instituição em que lecionava há vários anos.

Para nós, não cabe aqui julgar o estabelecimento, que todos já conhecem e sabem como tem lidado nos últimos anos com os profissionais de ensino, todavia, reconhecemos a grande profissional que Conceição Flores foi para o Curso de Letras, sendo um dos seu pilares.

Conceição Flores, não é apenas uma professora com titulo de doutora, ela é ser humano de muito valor. Uma profissional que ama o que faz, uma intelectual sensível, inteligente, que nos faz invocar o mestre Antônio Candido no seu conhecido ensaio “Direito à Literatura” para reforçar uma das grandes virtudes da mestra Flores, ela que tem uma das características mais nobres do ser humano: o senso de humanidade. Candido defende a humanização como “o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante.”

E essa grande virtude que Conceição Flores possui, inclusive por haver colaborado fortemente para formação do seu alunado. Com efeito, ela contribuiu para educar e formar centenas de profissionais que estão hoje no mercado e não apenas como professores, pesquisadores, mas também como verdadeiros entusiastas da nossa cultura literária.

Divulgadora da nossa literatura organizou inúmeros eventos em prol dos nossos autores, bate-papos, palestras, além de incentivar a leitura de autores potiguares, orientar ensaios, artigos, pesquisas e monografias. Para reforçar o que afirmamos basta mencionar uma de suas parcerias de longa data, com a poeta e escritora Diva Cunha, com quem massificou a divulgação da literatura potiguar entre estudantes do curso de Letras na instituição em que ambas ensinaram.

Tendo em vista os méritos e qualidades que a professora possui, fizemos a relação com o poema de Drummond, e se tivéssemos oportunidade de falar ao mestre, diríamos que o ser humano sempre valerá muito, independente de sua raça, cor, posição politica/ideológica, ou religião; tem o seu valor, uma importância única, um significado que transcende a sua existência e que tem relevância para os demais homens e mulheres.

Façamos uma reflexão no sentido de compreender onde e como estamos agindo em benefício do próximo. E que saibamos o nosso verdadeiro valor no mundo.

Sejamos como os discípulos do professor Keating no filme “Sociedade dos Poetas Mortos”, que se revoltam contra a exclusão do professor do quadro docente da escola e, em um ato de protesto, sobem nas carteiras da sala de aula e recitam o primeiro verso do poema “Oh Captain! My Captain”, de Walt Whitman.

Que este texto tão singelo, expresse toda a gratidão que Conceição Flores fez em prol das nossas letras.

Thiago Gonzaga

Thiago Gonzaga

Pesquisador da literatura potiguar e um amante dos livros.

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