Cerveja e futebol, duas paixões

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Olá, futebolistas cervejeiros, saudações rubro-negras para todos!

Hoje a coluna vai se dedicar a um tema polêmico, mas quem foge de polêmica é político do centrão. Aqui é raiz mesmo, é dedo na “cara” e gritaria, doa a quem doer.

Dizem, popularmente, que têm 3 coisas que não se discute: política, religião e futebol. Eu acrescentaria no rol dos temas problemáticos aos apupos dos mais sensíveis a cerveja também.

E sim, a cerveja é um tema transversal à política (quem nunca “condenou” Lula como bebum?), à religião (quem nunca viu um “crente” dizendo que cerveja é do Satanás?) e ao futebol (esta eu nem preciso explicar, mas irei, nos próximos parágrafos… acompanhe).

Então, sim, hoje falaremos de duas grandes paixões da humanidade: cerveja e futebol. E também da relação intrínseca entre ambas as coisas. Sigam-me os bons.

Paixão: não se explica, sente-se

O texto de hoje não é técnico, não é intelectual e não tem análise sensorial. O texto de hoje é apenas paixão e transpiração. É a pura essência do futebol e da cerveja, é a emoção em sua forma mais pura.

O caro leitor pode não gostar de futebol, pode não gostar de cerveja, mas jamais será dotado da insensibilidade de dizer que esses dois elementos são passionais e dominantes em um contexto nacional geral.

Não há porque se explicar que se gosta de futebol, não é necessário também se dizer porque se gosta de cerveja, ou melhor dizendo, de uma boa cerveja. Ambos elementos são descritivos e explicativos por si só. Ama-se, e ponto final.

Melhor ainda quando essa paixão vem de forma combinada e entrelaçada, assistir ao jogo do seu time de coração com aquela bela cerveja que você também adora é uma sensação que beira o indescritível.

Certamente o leitor pode gostar apenas do futebol (e ser abstêmio) ou gostar apenas da cerveja (e dizer que o futebol é o “ópio das massas” – realmente, o tal do “Carlos Marques[1]” não estaria totalmente errado, mas esse não é o foco no momento), todavia, esses gostos em separado não anulam a relação intrínseca entre ambos: cerveja e futebol.

Não adianta eu tentar explicar o que não se explica, mas posso mostrar como se sente, quando se sente e porque se sente. E as duas paixões descritas são sensivelmente patentes em nosso cotidiano.

O êxtase

Caso o prezado leitor tenha chegado até aqui e não tenha discordado de um todo, vou forçá-lo ao seu limite. Cerveja e futebol se combinam sim! Eles se entrelaçam de uma maneira inexpugnável, eles são motores correlatos de uma mesma bomba motora de um coração (às vezes sofredor).

E isso não importa seu time, não importa sua cerveja, esses pontos são detalhes mínimos dentro da contextualização geral. Quem não concorda é clubista.

Ainda assim, Mammon, sempre ele, sabe que dá para juntar paixão com monetização (aliás, quem nunca pensou nisso não é? Até o próprio argumento do egoísmo econômico de Adam Smith se baseia, ainda que vagamente, nessa noção de paixão aliada à necessidade econômica). Um dos grandes exemplos disso foi quando a Brahma fez uma edição comemorativa com latas homenageando os times de futebol.

Quem acompanha as colunas semanais por aqui sabe o quanto eu sou crítico severo das cervejas de massa, e não poderia deixar de fazer minha crítica à Brahma sempre que posso, inclusive centrando esforços na figura folclórica do “tio botequeiro”, que só toma Brahma de Agudos.

beba-até-cairTodavia, essa ação de marketing tem seu valor, tem seu apelo à paixão, e principalmente seu apelo à rivalidade. Quem não viu os anúncios dos supermercados com uma pilha de Brahmas com a homenagem no rótulo ao Clube de Regatas Vasco da Gama e os dizeres: “beba até cair”. Sim, até hoje só foi necessário seguir essa recomendação 4 vezes em toda a história do futebol brasileiro. Mais uma vez, SRN!

Futebol é justamente isso, é achaque, é zoação, é rivalidade, é provocação, é vitória, é derrota, é sofrimento, é êxtase. É preciso compreender como a cerveja serve de aditivo de alta octanagem para essa conflagração passional.

Óbvio que não estou defendendo atos de violência, como os praticados pelos integrantes de torcidas organizadas nem nada disso. A paz deve reinar, dentro ou fora dos estádios, ganhando o perdendo, não importa, não deve haver violência de maneira alguma.

Isso não quer dizer que o elemento lúdico e do frenesi associado à vitória ou à derrota deva ser limado do espetáculo futebolístico, algo similar ao que ocorre na liga americana de futebol americano, a NFL, que a cada dia se populariza mais aqui no Brasil.

Lá, sequer é permitido que um jogador que marque pontos, seja por meio de um touchdown (que vale seis pontos) ou de um field goal (que vale três pontos), possa comemorar seu feito em campo, sob pena de ser punido e até excluído do campo de jogo. Não se pode dançar, não se pode gritar efusivamente e não se pode “ir para a galera”, sob pena de ser punido por tais atos “desrespeitosos” de comemoração. Por isso que a liga recebeu até o apelido jocoso de No Fun League (ou seja, Liga sem Graça), ao contrário do que o acrônimo NFL realmente significa, que seria National Football League (traduzido por: Liga do Futebol Nacional).

A cerveja, o futebol e a comemoração

Os louros da vitória a quem ganhou, ao perdedor que fiquem as lições, as gozações e toda sorte de brincadeiras saudáveis (como as incontáveis figurinhas de WhatsApp). Não adianta conter aquilo que se propaga de maneira tão autêntica e espontânea, de forma tão passional entre os apaixonados, pelo esporte bretão ou pelo nobre líquido sagrado, o suco da confusão, o extrato de cevada, água e lúpulo (ou qualquer outro adjunto que você queira por aqui).

Até já tentaram proibir a venda de bebidas alcoólicas nos estádios, mas essa é uma medida inócua, pois casos de violência continuam a ocorrer. Isso sem falar que por causa da pandemia do COVID-19, os jogos atualmente não têm torcida. Então, de casa, o futebol sempre casa com cerveja!

A comemoração do futebol com uma cerveja bem acompanhada pela vitória é o que há de mais genuíno, passional e estonteante na vida cotidiana. Por mais que o leitor fuja desse estereótipo, conhece sempre alguém quem se enquadra, ou talvez já tenha ele mesmo se enquadrado nessa formatação de torcida, de paixão e de comemoração.

Não há porque se envergonhar, todos ganham e todos perdem um dia, aproveite o seu sem reclamar.

Saideira

A saideira de hoje não tem muito o que pontuar, já que o fim do Brasileirão atesta aquilo que é incontestável: o vencedor e o rebaixado, e vocês já sabem quem é quem. Então, pegue uma boa cerveja, relaxe, deguste e comemore (ou chore), já que ambas as opções são igualmente válidas.

Só não pode reclamar ou ficar de mimimi por causa disso, afinal, estamos em #otopatamar. E tenho dito, por fim, na saideira, mais uma vez, “Saudações Rubro-Negras”!

Música para degustação

Eu até poderia tentar inovar, procurar uma música diferentona para recomendar, mas a melhor música que retrata o conteúdo do atual texto é o hit noventista da banda mineira Skank, com a canção É Uma Partida De Futebol.

Algo atemporal, imortal e eternamente passional, tal como cerveja e futebol!

Mas se ele ganha não adianta

Não há garganta que não pare de berrar!

E tenho dito!

Saúde!!

[1] Karl Marx (sic).


FOTO DE CAPA: kharlamovaa / Flick

Lauro Ericksen

Lauro Ericksen

Um cervejeiro fiel, opositor ferrenho de Mammon (מָמוֹן) - o "deus mercado" -, e que só gosta de beber cerveja boa, a preços justos, sempre fazendo análise sensorial do que degusta.
Ministro honorário do STC: Supremo Tribunal da Cerveja.
Doutor (com doutorado) pela UFRN, mas, que, para pagar as contas das cervejas, a divisão social do trabalho obriga a ser: Oficial de Justiça Avaliador Federal e Professor Universitário. Flamenguista por opção do coração (ou seja, campeão sempre!).

Sigam-me no Untappd (https://untappd.com/user/Ericksen) para mais avaliações cervejeiras sinceras, sem jabá (todavia, se for dado, eu só não bebo veneno).

A verdade doa a quem doer... E aí, doeu?

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