Cascudo vive!

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Este ano comemorou-se trinta e oito anos do encantamento de Luís da Câmara Cascudo e, juntamente com a data, celebra-se também o surgimento de muitas novidades sobre o maior escritor do Rio Grande do Norte.

Vem por aí uma serie de novas publicações, de livros inéditos, recém-descobertos por Woldney Ribeiro (responsável técnico pela manutenção e estruturação do acervo do Instituto Ludovicus). Acabou de ser lançada pela Editora Global na Coleção Melhores Crônicas, Luís da Câmara Cascudo, uma seleção, como o próprio título sugere, das crônicas do potiguar, com organização e prefácio do pesquisador, membro do IHGRN e da Academia Norte-rio-grandense de Letras, Humberto Hermenegildo de Araújo.

Não somos especialistas da imensa obra cascudiana, mas achamos interessante a reunião de textos no novo livro, sobretudo pelo fato de, como é notório, Cascudo ter começado desde jovem como cronista, embora muito próximo de articulista. Entendemos, dessa forma, baseados na ideia de que a maioria das crônicas do nosso mais ilustre escritor são de perfis, pessoas, lugares, ruas..; tipo de texto que se destaca bastante, por exemplo, em suas Actas Diurnas.  Outro ponto a ser considerado, em 2005, lançou-se o livro Crônicas de Origem, de Cascudo, com foco na Natal dos anos de 1920, organizado pelo professor Raimundo Arrais (UFRN).

Entretanto, fazemos essa observação apenas para valorizar ainda mais o livro recém-lançado e, claro, reconhecer o desafio que enfrentou o escritor Humberto Hermenegildo de Araújo,  selecionando as crônicas, que, no nosso entendimento, são as que mais se aproximam do gênero clássico, do que seria uma crônica literária, e colocam Câmara Cascudo ao lado dos grandes cronistas do Estado: Newton Navarro, Berilo Wanderley, Dorian Jorge Freire, Sanderson Negreiros…

Em Melhores Crônicas de Luís da Câmara Cascudo, a escrita é leve, os textos curtos, na maioria ligados ao contexto em que foram produzidos, tudo numa linguagem simples, e numa estrutura, com começo meio e fim, principalmente com um conteúdo mais amplo, que não se limita ao plano local, sendo sob este aspecto justamente o oposto do livro organizado por Arrais. E é aí que queríamos chegar: Nessa capacidade de Cascudo de  transitar em seus textos entre o local  e o universal.

Encontramos nas crônicas do novo livro um Cascudo já maduro, experiente na escrita, por volta dos seus cinquenta anos. Eis um trabalho que não se restringe apenas a pesquisadores ou interessados na obra do mestre. É um livro pra todo e qualquer leitor, que aprecie uma boa leitura.

Câmara Cascudo continua vivo, seja através do Instituto Ludovicus, administrado por Camila e Daliana Cascudo; seja pelas novas descobertas de originais em sua biblioteca, ou até mesmo os novos relançamentos, como, por exemplo, o  Dicionário do Folclore Brasileiro, pela Editora Global, na Bienal do Livro de São Paulo, em comemoração dos 70 anos da obra.

E falar em Câmara Cascudo é relembrar, claro, do Núcleo Câmara Cascudo de Estudos Norte-rio-grandenses (NCCEN-UFRN), que este ano comemora vinte anos de fundação. Uma data especial, que nos faz refletir na imensa quantidade de estudos que têm surgido nos últimos anos nas Universidades sobre a obra do mestre e de outros autores potiguares.

Somente sobre Cascudo, por exemplo, recentemente lemos certa quantidade de estudos acadêmicos, dissertações e teses, na UFRN, e citamos alguns de memória: Luís da Câmara Cascudo prefaciador, de Maria da Conceição Monteiro; Memórias de leitor: diário e ficção em Luís da Câmara Cascudo, de Regina Medeiros; Câmara Cascudo e a Argentina intelectual: um joio na seara latino-americana, de Joatan Medeiros; O poeta Câmara Cascudo: um livro no inferno da biblioteca, de Dácio Galvão; A memória individual e a memória coletiva nas crônicas de origem cascudianas dos anos 20  de Lédja Lorena; Gilberto Freyre e Câmara Cascudo: entre a tradição, o moderno e o regional, de José Luiz Ferreira, dentre vários outros que poderíamos citar.

Câmara Cascudo

Historiador, antropólogo, folclorista, biógrafo, cronista, jornalista… Luís da Câmara Cascudo passou toda a sua vida em Natal e dedicou-se ao estudo da cultura popular brasileira. Foi professor de Direito Internacional Público na Faculdade de Direito de Natal, hoje Curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), co-fundador e membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

Começou a trabalhar como jornalista aos 19 anos em A Imprensa, de propriedade do seu pai, e depois passou para A República e o Diário de Natal – nos anos 1960 já havia publicado quase 2.000 textos.

Pesquisador das manifestações culturais brasileiras, especialmente de suas raízes populares, deixou uma extensa obra, inclusive já referido, o Dicionário do Folclore Brasileiro (1952), que Américo de Oliveira Costa considerou a sua suma etnográfica. Entre os seus muitos títulos destacam-se: Alma Patrícia, Geografia dos Mitos Brasileiros, História da Alimentação no Brasil e Civilização e Cultura. Estudioso do período das invasões holandesas, publicou Geografia do Brasil Holandês. Em suas memórias constam, O Tempo e Eu, Ontem e Na Ronda do Tempo.

Dentre tantos atributos que o destacaram, Cascudo foi quem trouxe para o Rio Grande do Norte os primeiros sinais do movimento modernista, fez importantes ligações dos nossos autores com o Sudeste do país, apoiou e escreveu sobre mulheres como Palmyra Wanderley e Auta de Souza, afrodescendentes como Fabião das Queimadas, produziu mais de cem prefácios de livros, incentivando autores experientes e mais jovens, foi também diretor da Revista da ANRL, manteve correspondência com grandes nomes do seu tempo, como Monteiro Lobato e Mário de Andrade, redigiu para dezenas de jornais e periódicos e já foi estudado por outras dezenas de pesquisadores que continuam descobrindo coisas novas sobre  sua obra e sua vida.

Novo livro

O novo livro de Câmara Cascudo está à venda na loja do Instituo Ludovicus: @institutocascudo ou pelo whatsApp (84) 98827-3866. Também no site da Global Editora.

Thiago Gonzaga

Thiago Gonzaga

Pesquisador da literatura potiguar e um amante dos livros.

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