Espero que não tardiamente possa escrever sobre o gigante Carlança, músico que nos deixou precocemente na última terça-feira, vítima de complicações de diabetes.
Era um músico fabuloso, instrumentista autodidata assuense que arregalava os ouvidos do mais exigente espectador. Dono de uma habilidade incomum para, por exemplo, expressar o complexo gênero do chorinho em uma guitarra elétrica.
Tocar junto a Carlança não era tarefa para qualquer um. Suas harmonias eram intricadas e criativas, os solos virtuosos, o ouvido, absoluto. Quando o acompanhava ao contrabaixo me batia, confesso, uma insegurança típica de um iniciante.
Minha vivência com o gênio turrão passa principalmente muito pelas visitas ao Sebo Balalaika, do amigo Severino Ramos, onde falávamos sobre filmes de Farwest, jazz, bossa nova e samba, principalmente.
Ele sempre tocava, enquanto falava de suas desventuras na música e de como era difícil se encaixar na cena musical de uma cidade sempre hostil a trabalhos de qualidade. Era exigente. Muitas vezes criticava o panorama e seus personagens, o que tornava mais difícil sua inserção na noite artística.
Nos apresentou belíssimas canções instrumentais e cantadas. Teria sido um bom cantor se quisesse. Um músico completo: compunha, escrevia, tocava e cantava. Tudo com muita qualidade.
Há gravações de sua obra que poderão render, esperemos todos, um disco póstumo para mostrar o imenso poder criativo de um artista que tive o privilégio de ver e ouvir.
A última vez que o vi, na casa do meu irmão Zizinho, estava feliz, bem humorado, brincando com todos, e como sempre tocando para deslumbre dos músicos presentes.
E é nessas horas, como bem lembrou meu amigo Giancarlo Vieira, nunca sabemos que qualquer momento pode ser o último.
Espero sempre ouvir tuas canções, gordo!!