#CaminhosdeNatal: A antiga Rua das Virgens prestou justa homenagem a Câmara Cascudo

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A atual Rua Câmara Cascudo está localizada no bairro da Ribeira, estendendo-se paralelamente ao rio Potengi. Compreende um trecho que vai da Praça Augusto Severo até a avenida Tavares de Lira. Desconhece-se o seu nome primitivo. Por ela passou, em 26 de abril de 1817, o cadáver desnudo do coronel André de Albuquerque Maranhão, inquirido em um pau, tendo então uma moradora daquela rua, Ritinha Coelho, recoberto o corpo do inditoso revolucionário com uma esteira.

Depois a rua tornou-se conhecida como Rua das Virgens, tradicional denominação que foi substituída por rua Senador José Bonifácio, através do Decreto Municipal de 13 de fevereiro de 1888. Em 1941 ocorreu uma nova mudança do nome da rua, que ganhou o nome de Coronel Bonifácio. Até então, recebia a denominação de Coronel Bonifácio uma outra rua, hoje conhecida como rua Santo Antônio, na Cidade Alta.

O Coronel Bonifácio Francisco Pinheiro da Câmara nasceu em Natal, a 14 de maio de 1813. Eleito deputado provincial em 1852, reeleito para cinco legislaturas. Além de coronel da Guarda Nacional, foi ele chefe do Partido Conservador (conhecido como Nortista), Cavaleiro da Ordem da Rosa, Comandante Superior da Guarda Nacional, lnspetor da Tesouraria da Fazenda, Administrador da Repartição dos Correios e, por várias vezes, Presidente da Câmara Municipal de Natal. Assumiu o Governo do Rio Grande do Norte, como 2º Vice-Presidente, no período de 19 de janeiro a 17 de junho de 1873. O coronel Bonifácio faleceu a 2 de novembro de 1883, em Natal, sepultando-se no mesmo túmulo ocupado pelo seu padrinho, o Padre Pinto. Em 1888 ele foi homenageado pela Intendência Municipal de Natal, que deu o seu nome à atual rua de Santo Antônio.

Finalmente aquele antigo logradouro público da Zona de Preservação Histórica de Natal, a tradicional Rua das Virgens, assumiu a sua atual denominação de rua Câmara Cascudo, uma justa homenagem prestada ao eminente mestre Luís da Câmara Cascudo.

Câmara Cascudo

A mais destacada figura intelectual do Rio Grande do Norte, Luís da Câmara Cascudo é considerado Patrimônio da Cultura Brasileira. Nascido na antiga Rua das Virgens, em 30 de dezembro de 1898, foi ele batizado na Igreja do Bom Jesus das Dores, na Ribeira, pelo padre João Maria Cavalcanti de Brito, em maio de 1899. Luís da Câmara Cascudo bacharelou-se em direito, em 1928, pela tradicional Faculdade de Direito do Recife.

A casa da Antiga Rua das Virgens, onde ele nasceu, apresentava uma fachada simples composta por duas janelas e uma porta, cujo aluguel mensal correspondia a 10 mil réis. Dali saiu ainda bebê, passando a residir em um sítio localizado no início da Avenida Rio Branco.

Em 1904 passou a morar na praça Augusto Severo, no palacete onde residiram os governadores: Pedro Velho, Tavares de Lira e Ferreira Chaves. Passados dois anos, seus pais mais uma vez mudaram de residência, ocupando então o sobrado nº 44 da atual Rua Chile. Finalmente seu pai comprou a residência de João Avelino Pereira de Vasconcelos, por 12:000$000 (doze contos de réis), cujo terreno compreendia mais da metade do quarteirão. No lugar da referida casa foi posteriormente construído o Grande Hotel.

A forte ligação de Câmara Cascudo com a Ribeira fez com que ele ali residisse após o seu casamento com Dália. Naquele bairro ele criou seus filhos e produziu a sua imensa obra literária.

A imensa produção literária de Câmara Cascudo foi iniciada em 1921, somente sendo interrompida por motivo de deficiência visual e auditiva, poucos anos antes de seu falecimento, ocorrido em Natal a 30 de julho de 1986.

Câmara Cascudo foi autor de mais de 150 livros e seu nome está indelevelmente ligado aos temas de História, Folclore, Geografia, Etnologia, Antropologia e Jornalismo, além de ter sido o Professor Emérito que conseguiu “dar vida” à nossa História.

Ele próprio se autointitulava de “um provinciano incurável’. Na realidade, havia uma fortíssima ligação entre o Mestre e a sua Terra. Foi aqui que ele construiu toda a sua obra, projetando o Rio Grande do Norte dentro e fora das fronteiras do Brasil.


ILUSTRAÇÃO: Renata Freire Costa

Jeanne Nesi

Jeanne Nesi

Superintendente do IPHAN-RN, Sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do RN, e Sócia correspondente do Instituto Histórico Geográfico e Arqueológico de PE. Fundou a Folha da Memória, com periodicidade mensal. Publicou cinco livros, sendo dois como co-autora. Publicou folhetos, folders e cordéis e mais de 300 artigos sobre o assunto em uma coluna semanal no jornal Poti, na Folha da Memória e em revistas do IHGRN.
Atualmente aposentada, mas sempre em defesa do patrimônio histórico.

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