Imoral, ilegal, armado e perigoso

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Los hermanos argentinos já mostraram ao mundo que sabem fazer filmes, colecionando prêmios em diversos festivais e ganhando por duas vezes o Oscar de melhor filme em língua estrangeira, em 1986 e 2010.

A Argentina também é um pólo da arte sequencial, produtora de pérolas como El Eternauta, Alvar Mayor, Ernie Pike, El Loco Chávez e, claro, Mafalda.

Assim, nada mais justo do que juntar cinema e quadrinhos e investir nas animações. O desenhista e escritor Roberto Fontanarrosa (falecido em 2007), conhecido pelo apelido de El Negro, foi um dos que mais prestou serviço para o cinema de animação argentino. Ele inspirou curtas-metragens de animação, como La Planicie de Yothosawa (1991), desenhou e pintou a óleo o média-metragem animado da adaptação do tradicional poema Martín Fierro, de José Hernández, e em 2009 teve um personagem seu, Boogie, el aceitoso, criado em 1972, como destaque de uma animação homônima.

Boogie é uma sátira ao excesso de violência presente no cinema hodierno e aos clássicos personagens de filmes policiais norte-americanos, especialmente Dirty Harry, bem ao estilo “atiro antes e falo depois”, carregando todos os estereótipos do gênero: misógino, racista, bruto, frio e sanguinário.

O diretor e roteirista Gustavo Cova, que já havia tido experiência com a curta série animada para a TV, City Hunters (2006), baseada em desenhos de Milo Manara, aceitou o desafio de dirigir a adaptação de Boogie, el aceitoso, contando com o trabalho afinado do roteirista Marcelo Paez-Cubells (fez sua estreia no cinema com esta animação).

A trama da animação gira em torno do personagem-título, que está voltando para sua cidade após ter lutado alguns anos no Vietnã, no Camboja, no Golfo e no Iraque. E Boogie já chega botando as mangas de fora e atirando pra tudo quanto é lado, mostrando que está na área. O que leva Sonny Calabria, o chefe da máfia local, a contratá-lo para dar cabo de uma testemunha que pode acabar com o seu império. No entanto, o preço pedido por Boogie para executar o serviço é muito alto e assim um novo assassino de aluguel é chamado: Jim Blackburn. Ao saber que foi trocado por um assassino com técnicas mais modernas, Boogie rapta a testemunha e trava vários confrontos com Blackburn para provar que os métodos da velha guarda ainda não estão tão ultrapassados.

Gustavo Cova e Marcelo Paez-Cubells rechearam a animação, que mistura 2D com cenários 3D, com diversas citações cinematográficas, entre elas: O Poderoso Chefão, Apocalipse Now, Agarra-me se puderes e Sin City, lembrando também a carnificina de Tarantino em Cães de Aluguel e Pulp Fiction, e de Martin Scorsese em Taxi Driver e Os Infiltrados.

Ao longo do ano de 2009, Boogie, el aceitoso, foi exibido nos festivais da Croácia, do Rio de Janeiro e de Annecy, com ótima receptividade.

No Brasil, o personagem é pouco conhecido e teve apenas um título publicado pela L&PM, na década de 1980, chamado Boogie, o Seboso. Mas mesmo quem nunca ouviu falar no personagem deve curtir essa animação repleta de humor ácido, com uma dose exagerada de violência, sem falar nas tiradas sarcásticas do matador loiro, como essas: “Pertenço à comunidade racista mais numerosa… a que detesta os pobres” ou “A principal causa da violência é que algumas pessoas querem tirar comida de outras”.

A animação está disponível na íntegra, gratuitamente e com legendas em português pelo canal Movie Central, no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=NTPztEaIVJY

Milena Azevedo

Milena Azevedo

Mestre em História (Unisinos/RS), já foi professora e empresária, e desde 2005 milita no campo das histórias em quadrinhos. Atualmente segue como diagramadora, letrista e roteirista de HQs e games, com trabalhos publicados em coletâneas locais, nacionais e em Portugal e Angola, finalistas do Troféu HQ Mix, do Troféu Angelo Agostini e da categoria Quadrinho Alternativo do Festival de Angoulême (França), entre eles: Visualizando Citações - vols. 1 e 2, Fronteira Livre, Máquina Zero - vol.2, Imaginários em Quadrinhos - vol. 4, Haole (webcomic), Amor em Quadrinhos, Penpengusa, Contos Urbanos e Café Espacial #19. Vencedora do Troféu Angelo Agostini de 2019 (Melhor Lançamento) e dos HQ Mix de 2019 e 2020 (Melhor Publicação Mix e Melhor Publicação Aventura/Terror/Fantasia) com Gibi de Menininha 1 e 2. Em 2022, roteirizou as HQs “Oscar e o Pan de 87” e “Viúva Veneno”, ambas publicadas pela editora Ultimato de Bacon. Também criou a webtira Aprendiz de Bruxa, em parceria com Ju Loyola, e atualmente a parceria segue com a desenhista Mari Santtos. Em 2018, fez sua estreia na literatura infantojuvenil com o livro Dara, Dora e as estrelas, escrito a quatro mãos com Glacia Marillac.

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