[BELO BAFO DA BOCA] Poesia pão e palco

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por Carlos Gurgel

Parece que foi ontem. Passeatas aconteciam como se a crina do tempo pedisse vinho e verbo. Sim, todos nós íamos, ao sabor dos paralelepípedos e da insurrecta mania de dizer versos. E lá se vão mais de 35 anos. Orgulho de pertencer a essa raça de uma geração que suou, sua e suará, entre mangueiras, postes, pastas e pistas.

Sim, o amanhã sempre chega, ele sempre se renova a cada dia. Assim como a mãe de todas as bocas, ecoando pelos ares, lares, bares: nossa poesia. Foi por ela, que bêbados boêmios convictos entraram nessa corrente. Foi por ela que as moças de pele litorânea e intensamente bronzeada se enfileiram de versos e vida. Pois a poesia está na gente e faz parte, real e imaginariamente de um séquito de crenças e de uma alforria sem fim.

Hoje, véspera do dia 14, percebo a diversa programação que nos cerca. Poetas novíssimos, outros se vestindo de enormes promessas suburbanas, apocalípticas e solares. Enriquecedor perceber que as primeiras caminhadas, deu no que hoje se vê pelos bares, beco da lama insólito e com papos na língua, e de tantas correntes e correntezas.

Dia 15 agora (quarta-feira), fará um ano que escolhi fazer a curadoria, agora junto à fotógrafa e escritora pernambucana Carol Gaião, do sarau Belo Bafo da Boca, onde reunimos poetas natalenses e de outros estados nordestinos, e espalhamos pela Pinacoteca do Estado, uma vazante verbal. O sarau assim está dividido: na primeira parte, os poetas conversam com o público sobre a produção de cada um, de como tudo começou. Na segunda parte, os poetas dialogam com o público, pelo recital, diverso, performático, silencioso e instigante. Na última parte, o coletivo promove lançamento de livros e seus respectivos autógrafos.

Nessa edição 2017 do sarau, convidamos as poetas Regina Azevedo, jovensíssima, mas de uma eternidade impactante; a poeta de cor, Fulô du Agreste, voz que dilacera com seu verso, a constelação de absurdos clichês, tabus, modorrentas e nefastas atitudes comportamentais. Fechando a constelação potiguar, vindo de Santa Cruz, o poeta Marcos Cavalcanti, com seu verbo ensurdecedoramente impávido e pigmentado pelas cores de uma vida costurada pela brasa de um nordeste árido, seco e bendito.

No time dos poetas de outros estados nordestinos, convidamos a rica e exuberante presença da poeta pernambucana Luna Vitrolira, figura já por demais conhecida nos palcos e pistas dos saraus sulistas e de tantas outras regiões, imersões e imensidões brasileiras. Na sequência vindo do Ceará, a poesia de Mardônio França, referência de um gesto, atitude de entrega quando recita e sua. E fechando os convidados nordestinos, o jovem poeta piauiense, substituindo o também poeta piauiense Demetrios Galvão, o Lucas Rolim, com seu jeito Rimbaud/ Piva de ser.

O sarau esse ano, agregou no seu encerramento a música de Joana Knobbe, especialmente com repertório que privilegia suas composições, contando nas suas letras com a presença de vários poetas nordestinos.

Então esperamos todo o público amante do verso torto, suburbano, noturno e belo, na quarta na Pinacoteca, por onde nessa noite, as vibrações de um planeta palavra se revelará.

Carlos Gurgel

Carlos Gurgel

Poeta que vive da poeira do tempo e se lambuza de paisagens e silêncios. Fabrica sua própria urdidura, metamorfoseando-se na nomenclatura da rua. Poesia só serve se servida for sangue. De Natal. Um poeta de Natal, sentindo a agonia do mundo.

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