Augusto Lula partiu, partiu Augusto Lula nessa segunda feira sem graça de junho do duo milésimo vigésimo quinto ano do calendário gregoriano.
Conheci Augusto em meados da década de 1990 quando iniciei no audiovisual na Provídeo, produtora do saudoso Tony Som. Tanto ele quanto sua companheira Danielle Brito já eram figurinhas carimbadas no meio audiovisual/publicitário do Rio Grande sem sorte, como ele costumava dizer. Nesse período tive a sorte enquanto aprendiz de trabalhar produzindo comerciais para ele dirigir e também trabalhar junto com Danielle. Posso dizer que eles foram uma puta escola pra mim e para toda uma geração. Geração essa que muitas vezes se acha autossuficiente e que inventou a roda. Não, meus queridos, é preciso olhar para trás. Assim como Lula olhou para o William Cobbett, para Augusto Ribeiro Jr., Jussara Queiroz, Glauber (seu grande ídolo) e tantos outros.
Para o audiovisual em terras de Poty prosperar, é preciso olhar para trás e aprender, andar firme no presente, para pavimentar um futuro.
Com seu humor ácido, Augusto era o típico caso do ame-o ou deixe-o e não se levava à sério, se auto proclamava: o cineasta sem filme. Uma pantomima sobre si mesmo, pois em 1993, produziu e dirigiu o documentário essencial: Ribeira Velha de Guerra, onde o experimentalismo reinou, com cenas iluminadas a tochas. Em 2022 produz e dirige: O Huno da Nova Espécie (documentário sobre o cangaceiro Jararaca), além de vários outros projetos no que tange o cinema, sua grande paixão.
Muitos o conheciam por sua carreira na publicidade e na propaganda política. No entanto, Lula é muito mais que isso: um boêmio escritor/ poeta/intelectual devorador de livros, músicas e de noites, tal qual Bukowski. Provavelmente, foi a pessoa que mais amou o seu “Rio Grande sem sorte”, daí, tanta critica à terra de Cascudo.
Quando conversávamos era sempre a mesma coisa: “DeFábio, e os filmes? Não se leve tão à sério, meu querido!” Era assim que se dirigia a mim e hoje digo: Lula, não me levo mais há tempos e muito obrigado por tudo e por permitir a pequena convivência contigo nesse plano. Nos vemos, meu querido!
Cena final – INT / SALA / MANHÃ
Brasília, terça feira , 03 de Junho de 2025.
Em tempo, um de seus últimos escritos pode ser conferido no essencial e-book da jornalista e escritora Sheyla de Azevedo: “A década que não acabou – Retrato da cena audiovisual dos anos 1990” (Caravela Selo Cultural), na qual também tive a honra de participar.