Depois de muitos apelos de amigos para que reunisse em livro uma seleção das suas crônicas, publicadas no jornal Tribuna do Norte, Jahyr Navarro resolveu perenizar em uma obra esses seus ótimos escritos.
Somos colegas de turma e, durante seis anos, de 1960 a 1965, vivemos o dia a dia do curso médico. Sempre de bom humor, alegre, brincalhão, nas horas de lazer fazia com que o sorriso fosse frequente nas faces dos 22 colegas da turma, bem assim de amigos de outros períodos.
Porém, nas aulas e nas horas de aprender, encarava tudo com o maior rigor. Foi bom aluno, assíduo, dedicado, e, ao concluir o curso, foi logo para o Rio de Janeiro fazer estágio em um dos melhores hospitais da cidade. Ao retornar, fez concurso e tornou-se professor de otorrino, ao lado de grandes mestres, entre os quais o notável Raul Fernandes.
Escrever e publicar é se desvelar aos leitores, mesmo que não se trate de autobiografia. O escritor Ivan Maciel, em crônica sob o título “O ofício de escrever”, publicada no jornal Tribuna do Norte, em 16 de janeiro de 2016, assim se expressa: “Há também em todos nós, com vocação ou não de escritor, uma tendência compulsiva de nos revelarmos. Queremos comunicar aos outros – sem saber sequer se isso vai interessar alguém – nossas ideias, sonhos, fantasias. Mais ainda: o que sabemos ou o que pensamos sobre a vida”.
Clarice Lispector, em crônica no Jornal do Brasil, em 5 de junho de 1971, (Viajando por mar), escreve: “Um dia, telefonei para Rubem Braga, o criador da crônica, e disse-lhe desesperada: Rubem, não sou cronista, e o que escrevo está se tornando excessivamente pessoal. O que é que eu faço?” Ele respondeu: “É impossível, na crônica, deixar de ser pessoal.”
O livro de Jahyr Navarro compõe-se de crônicas de passagens vividas pelo autor, na sua querida cidade de Natal. Impregnada de amor telúrico, a linguagem do escritor Jahyr Navarro é límpida, enxuta, sem sobras de palavras e de extrema clareza. É o tipo de texto que prende o leitor até à última frase. São aventuras, relatos, lembranças de velhos amigos, lugares, ruas, hospitais e até igreja, um amplo resgate histórico de cenas guardadas nos desvãos da memória do autor.
As crônicas de Jahyr Navarro o eleva à condição de figurar entre os melhores escritores memorialistas da cidade de Natal. Só para ilustrar, vejamos poucas frases da crônica “Lembrando a minha rua”: “A minha rua era cheia de graça, e tudo nela tinha o seu encanto (…). Em cada pedaço de chão que piso, salta uma lembrança. Cada casa que ainda resta, ou, que não se modificou, lembra um rosto, uma história …”
Jahyr Navarro da Costa é homem de múltiplas atuações: médico, dentista, professor, cantor, boêmio, causeur, atleta, escritor e piloto de avião, com brevê. Em tudo, sempre se houve de forma profícua, elegante e competente.