Desde muito pequenos somos acostumados a lidar com a frustração, da tristeza e da perda. Espalham sobre nós lições de resiliência e contorcionismo social para que aprendamos a vivenciar as coisas negativas que se abatem sobre nós em cascata. Viver parece ser um curso longo e intenso sobre lidar com o sofrimento.
Se isso fortalece nossa educação para um lado da vida, nos torna receosos, responsivos e mesquinhos por outro. Não aprendemos a lidar com a felicidade, com as conquistas, com a companhia de quem nos ama, não apesar de nossos defeitos, mas também por eles.
É por essa falha em nosso aprendizado que costumamos complicar coisas que deveriam ser simples e leves, que distorcemos o que ouvimos das pessoas a quem amamos, sempre em nosso desfavor. Aliás, em desfavor de todos. É por essa falta que respondemos às pequenas turbulências diante da felicidade como se fossem a própria queda do avião.
Aprender a lidar com a felicidade é uma tarefa exigente, difícil e que leva tempo. É preciso despir-se das roupas de batalha, desligar os alarmes e sinais de alerta. Todas essas coisas precisam de tempo para serem feitas. Mais que tempo, precisam de uma educação para a felicidade.
Alguns de nós talvez levem toda uma vida para aprendermos a aceitar a felicidade que nos cabe. Outros talvez precisem de mais tempo ainda. Esse aprendizado é longo e precisamos aceitá-lo desde os primeiros passos, sem superdimensionar o que nos acontece nos pequenos tropeços de quem está feliz, afinal a vida ainda é um enorme moedor de gente em vários aspectos.
Convém, claro, não idealizar a felicidade. Aceitá-la cotidiana, miúda e muitas vezes turva tem a sensatez necessária para o cumprimento da jornada.
E, para que fique claro, escrevo isto não como profundo conhecedor da matéria, mas como um aluno com enormes dificuldades em aprender, embora não desista de tentar.
2 Comments
Ler uma boa crônica faz parte da felicidade “cotidiana, miúda e muitas vezes turva”, descrita por você. Parabéns pela reflexão despretensiosa, mas profunda.
A grande alegria de quem escreve é ter bons leitores! Obrigado, meu caro!