Imagino como deva ser complicado ao músico e sobretudo ao compositor ter sua canção executada para um público alheio, barulhento, pouco atento à apresentação.
Quando falo “imagino” é porque por vezes escrevo alguns textos por aqui e lamento quando é pouco lido. Sensação de tempo perdido e, mais ainda, da mensagem não repassada ou reconhecida.
Nesta última sexta-feira cheguei já pelo final da festa de celebração dos 10 anos do Substantivo Plural. Casa cheia no Bardallos e o palco assumido por Antoanete Madureira e Samir Almeida.
Talvez pela lotação, talvez pelo acesso gratuito, talvez pela razão comemorativa do evento havia muito barulho no Bardallos. Difícil culpar o público que também quer conversar, celebrar entre amigos.
Já conhecia as duas atrações. A Antoanete era descoberta mais nova, quando ouvi três de suas músicas para curadoria do projeto Sete e Meia. Adorei. Foram duas das melhores descobertas entre os inscritos, ao lado da Rousi Florcaeté, mas ao vivo parecia outra artista, muito mais intensa. E que voz!
O Samir Almeida me é um velho conhecido. Escrevi sobre ele desde o tempo do lançamento de 40 CDs de artistas locais pelo Prêmio Núbia Lafayette, acho que em 2010. Samir e uma penca de artistas que nunca mais lançaram mais nada foram contemplados.
Samir havia entrado por uma repescagem, ainda com o nome Samir Bilro, mas o achava entre os cinco melhores álbuns lançados pelo Prêmio. Compositor refinado, com letras e melodias bem trabalhadas, uma voz grave bem encaixada, um violão versátil.
Mesmo depois do CD lançado, da oportunidade, Samir não decolou. E sexta estava lá, como violonista de Antoanete. Lá pras tantas teve espaço para apresentar suas músicas. Cantou ‘Um sonho de criança’, a minha preferida, para poucos ouvirem, entre as conversas. Mas bastou suas versões dos Beatles para chamar mais atenção.
O compositor até tentava comentar sobre a canção que iria cantar, mas o jeito tímido, contido, que contrasta com a potência vocal, também não ajudava.
Veja no vídeo abaixo que essa timidez me parece bem latente, como também seu talento. Um cover do clássico do Queen. Mais abaixo, uma de suas canções, ‘Sinestesia’. E por último, ‘O menino em pessoa’, também composição sua interpretada pela limpidez vocal de Antoanete, com Samir ao violão. Até sugeriria um dueto vocal; seria uma mistura interessante de timbres.
No mais, uma noite bela para prestigiar 10 anos de um trabalho abnegado de Tácito Costa com o Substantivo e que sempre torcemos pela longevidade. Mereceu a presença dos amigos, simpatizantes e desses dois artistas maravilhosos. Vida longa ao Substantivo e reconhecimento a curto prazo para Antoanete e Samir.