Quando se fala em samba-canção, pensa-se logo no tipo “fossa”, com seu forte acento melodramático, beirando o kitsch. Lupicínio Rodrigues cultivou, como ninguém, esse samba passional, e fez escola. Antológico o seu grande sucesso Vingança, na voz de Linda Batista (gravação de 1951).
Beleza de letra, com destaque para as duas primeiras estrofes:
“Eu gostei tanto
tanto quando me contaram
que lhe encontraram
chorando e bebendo
na mesa de um bar,
e que quando os amigos do peito
por mim perguntaram
um soluço cortou sua voz
não lhe deixou falar.
Ai, mas eu gostei tanto
tanto quando me contaram
que tive mesmo que fazer esforço
pra ninguém notar”.
Noel Rosa foi um dos precursores do samba também chamado “dor de cotovelo”, como bem atesta o seu famoso Último Desejo. Esta composição teve bons intérpretes: Arací de Almeida, Nelson Gonçalves e Isaura Garcia. Arací gravou-a duas vezes, inigualável na gravação primeira (1937).
Uma das melhores letras do grande letrista que é Noel. Versos admiráveis, como estes:
“Nosso amor que eu não esqueço
e que teve o seu começo
numa festa de São João
morre hoje sem foguete
sem retrato e sem bilhete…
sem luar… sem violão.
Perto de você me calo
tudo penso e nada falo…
tenho medo de chorar.”
“Fossa” legítima é Ninguém Me Ama, de Antônio Maria e Fernando Lobo, gravação original de Nora Ney (1952).
Quem não conhece estes versos?:
“Ninguém me ama
ninguém me quer
ninguém me chama
de meu amor…”
Da mesma época, porém situada fora do referido subgênero, destaca-se uma criação genial da dupla Antônio Carlos Jobim/Vinícius de Morais, pré Bossa Nova:
“Se todos fossem iguais a você,
que maravilha viver”.
Nesse período de transição surgiram novos cultores da “fossa”: Maysa, Tito Madi, Dolores Duran. Desta última, um clássico, A Noite do Meu Bem, que, ao nosso ver, ainda não teve interpretação definitiva.
Além dos sambas-canção já citados, escolheríamos os seguintes para uma antologia (super seletiva) da MPB:
Vida de Minha Vida
Ataulfo Alves. Melhor exemplo do exacerbado romantismo (mulher-deusa, etc). que tão bem define o compositor e intérprete.
Letra intensamente poética, com versos deste quilate:
“Agradeço ao criador
que me fez um sonhador
pra melhor te exaltar”.
Boa gravação, a de 1968, com Ataulfo e as famosas pastoras.
Maria
Música de Ary Barroso, versos de Luís Peixoto. Valoriza-a muito a intepretação de Sílvio Caldas (1939).
“Maria!
O teu nome principia
Na palma da minha mão
E cabe bem direitinho
Dentro do meu coração, Maria.”
Segredo
Parceria de Herivelto Martins/Marino Pinto. Bela amostra da música passional do primeiro. Tem uma gravação com Nelson Gonçalves, mas a clássica é com Dalva de Oliveira (1947).
Risque
Incursão de Ary Barroso no subgênero mórbido. Canta Linda Batista (1952).
Marina
A gravação de Dick Farney (1947) celebrizou essa pequena obra-prima de Dorival Caymmi.