AdVIVInhações juninas

adivinhações juninas

PIX: 007.486.114-01

Colabore com o jornalismo independente

O escritor e folclorista potiguar Veríssimo de Melo era chamado de Vivi por familiares e amigos. Em 1949, escreveu um plaquete intitulado “superstições de São João”. Superstição é nome que quase todo nordestino conhece simplesmente como “adivinhação”. Veríssimo nos conta alguns desses presságios que povoam (ou povoaram mais intensamente no passado) a mente das pessoas simples, de tradição rural, especialmente nas festas joaninas.

O grande compositor paraibano Antônio Barros, por sua vez, gravou, dentre outros sucessos do seu cancioneiro, a marchinha junina “brincadeira na fogueira”, que retrata as adivinhações citadas por Veríssimo.

Duas delas considero bem marcantes desse período: a adivinhação da bananeira e a do reflexo da água.

 

Tem tanta fogueira

Tem tanto balão

Tem tanta brincadeira

Todo mundo no terreiro

faz adivinhação;

Meu São João, eu não

Meu São João, eu não

Eu não tenho alegria

Só porque não vem

Só porque não vem

Quem tanto eu queria (bis)

 

A adivinhação da bananeira, bastante utilizada pelas moças, destinava-se a descobrir a sorte do casamento: saber quem seria o futuro marido. O santo invocado é Santo Antônio, conhecido como o santo casamenteiro.

A pretendente chegava até uma bananeira e, utilizando uma faca não usada (virgem), rezava a oração Salve-Rainha até o trecho “nos mostrai”. Em seguida, cravava a lâmina no tronco. No dia seguinte, de manhãzinha, a esperançosa retirava a faca da bananeira e as iniciais do nome do futuro esposo apareciam no “leite” que escorria da planta:

 

Danei a faca

No tronco da bananeira

Não gostei da brincadeira

Santo Antônio enganou

 

Já a adivinhação do reflexo da água pretende tirar uma dúvida sobre a sobrevivência futura: a pessoa quer saber se viverá para ver as próximas festas juninas. Pois bem. Caso alguém se levante no dia de São João e, sem dirigir a palavra a ninguém, olhe para o fundo de um recipiente qualquer com água sem que veja a sua cabeça no reflexo do líquido vital, morrerá antes de um ano. Na tradição, o depósito de água é geralmente uma bacia:

 

Sai correndo

Lá pra beira da fogueira

Ver meu rosto na bacia

A água se derramou.

 

Veríssimo (Vivi) de Melo e Antônio Barros nos brindam com a pujança e a beleza das tradições orais, das crendices contadas e cantadas ao lume das fogueiras do nordeste brasileiro. Viva Vivi, viva Antônio Barros, o São João e as adivinhações juninas!


CRÉDITO DA FOTO: Shutterstock

Sandro de Sousa

Sandro de Sousa

Filho de Macau-RN, residente em Natal desde os 5 anos de idade. Licenciado em Letras Português-Inglês (UFRN), Doutor em Letras (UFPB) e advogado.

WhatsApp
Telegram
Facebook
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais lidas da semana