A Revolução de 1817, deflagrada em Recife sob a égide do Liberalismo, visava instaurar uma República independente de Portugal. Chefiou-a no Rio Grande do Norte, André de Albuquerque Maranhão, o rico Senhor do Engenho Cunhaú. Estendendo-se ao interior da Província, o movimento repercutiu em Martins, via Portalegre que era o epicentro na Zona Oeste. E persistiu por alguns dias, mesmo após a queda de André de Albuquerque.
Segundo Câmara Cascudo, o governo da República de Portalegre “instalou-se a 10 de maio de 1817 e faleceu a 19 do mesmo mês (História do Rio Grande do Norte. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1955).
Com a derrocada, cinco moradores de Martins, revolucionários da linha de frente – Pe. Gonçalo Borges de Andrade, David Targini Leopoldo, João Saraiva de Moura, Manuel Joaquim Palácio, Agostinho Pinto de Queiroz (1) foram presos e condenados. (Da relação constante de Os Mártires Pernambucanos, do Pe. Joaquim Dias Martins, citada por Raimundo Nonato no livro Presença Norte-rio-grandense na Alçada Pernambucana. Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1971).
Muniz Tavares, historiador da Revolução, dá o seguinte informe:
“Alguns zelosos patriotas, que habitavam no interior da província em um lugar denominado Serra do Martins, não desesperando ainda da causa da Pátria, erigiram ali um novo Governo Provisório, que suprisse o decaído na Capital e servisse de centro de reunião para aqueles que os Realistas intentassem acabrunhar” (2).
Mas, em face de várias circunstâncias adversas, “aquele novo Governo desapareceu como o relâmpago (…) e os seus membros vendo-se sem a proteção, que esperavam, por si mesmos dispersaram-se” (História da Revolução de Pernambuco de 1817. Recife: Governo do Estado de Pernambuco, 1969).
E assim termina um dos últimos capítulos dessa odisséia, que Oliveira Lima considerou “a mais espontânea, a menos desorganizada e a mais simpática das nossas numerosas revoluções.”
NOTAS:
1 – Figura de proa na vida pública de Martins, Agostinho Pinto de Queiroz, em 1832, era defensor, com suas hostes, da fronteira provincial contra as tentativas de invasão do caudilho cearense Pinto Madeira; então, mudou o seu nome para Agostinho Fernandes de Queiroz.
Em 1842, quando se instalou a Vila e Município de Maioridade (nome com que passou a denominar-se a povoação de Martins), foi Agostinho Fernandes de Queiroz, eleito Presidente da Câmara Municipal (cargo correspondente ao de Prefeito atual).
Sobre o legendário patriarca martinense consta do livro Os Mártires Pernambucanos (1853/54), do Pe. Joaquim Dias Martins, a seguinte nota:
“QUEIROZ único (Agostinho Pinto) natalense de 1817; era natural e morador da Serra do Martins, de Porto Alegre (sic), no Rio Grande do Norte quando a capital proclamou a Liberdade Pernambucana: no seu posto de Capitão de Milícias, seguiu o impulso da capital – mas aderiu ao monstruoso Governo de – Palácio 2º – e colegas, arrastado, em consequência, aos destinos gerais: foi preso pelas tropas do Ceará, e, depois de correr as estações do costume, foi parar na Bahia, em cujos cárceres melhorou sua enfermidade mortal que, desde criança o perseguia: voltou à pátria, na redenção geral de 1821, e dizem que se ocupa na educação dos seus filhos.”
Detalhe curioso: foi Agostinho Fernandes de Queiroz quem trouxe da Bahia para Martins as sementes de jaca, com que se iniciou naquela serra (provavelmente, não só ali, mas em todo o Estado) o plantio de jaqueiras.
Esta informação me foi transmitida, oralmente, pelo meu avô materno, João Vicente da Costa, martinense (1893-1982).
2 – Muniz Tavares confunde Serra do Martins com Portalegre.