Cumprindo como o objetivo de pesquisar e divulgar a diversidade de ritmos e canções da América Latina, com o lançamento do disco A Nova Sonoridade, o Grupo América 4 torna-se referência fundamental para os que se interessam em saber dos rumos que tomaram o movimento musical iniciado em princípios dos anos 70 com o Tarancón, Raízes de América e Raza Índia, bem como até que ponto resiste a herança dessa diversidade cultural ameríndia.
O América 4 nasceu em 1988, com o boliviano Tobi Gil, o peruano Alfredo Rodriguez, o hondurenho Alex Paz e o chileno Renato Pablo, o que de certa forma justifica o nome do grupo, considerando que eram músicos de quatro países da América Latina. Obviamente, ao longo de sua trajetória saíram e entraram músicos de outros países da América Latina. Assim, logo depois entrou o argentino César Rebechi e, durante todo esse tempo, também passaram pelo grupo o uruguaio Leonardo Rodriguez, o chileno Enzo Merino, o mineiro Rogério Pardal, além da importante participação dos capixabas Jaceguay Lins, Beth Broeto, Saint Clair Alves, Cézar Almeida, Carlos Papel, Djalma Pestana, Marcos Coelho, e muitos outros.
O resultado dessa pesquisa e participação de todos esses músicos, o América 4 desenvolveu a fusão de instrumentos andinos com o violão e o baixo acústico utilizados em nossa música brasileira. Dos andinos, destacam-se a quena (flauta de cana ou osso), a zampoña ou sicus (similar à flauta de pan), a tarka (flauta ortoédrica de madeira de uma só peça com seis furos, também conhecida como “anata” no norte da Argentina), o bombo leguero (bumbo de couro de ovelha ou guanaco), o charango (instrumento cordófono de 10 cordas ou mais feito com carapaça de tatu, chamado de “Quirquincho”, ou de madeira). Em suma, com a união destes instrumentos, promoveram uma rica síntese entre os sons do folclore e do cancioneiro andino e latino-americano.
NOVA SONORIDADE
Neste ano em que completa 30 anos de fundação, o grupo América 4 lançou o disco A Nova Sonoridade como prova do êxito em sua busca de encontrar um estilo próprio ao longo dos anos de estrada, saindo da reprodução dos clássicos da música andina e latino-americana para produção de música autoral, incorporando diversas outras influências, inclusive a do congo capixaba, o maracatu, a folia de reis, o tropicalismo, sem esquecer Villa-Lobos e outras musicalidades brasileiras, inclusive do Vale do Jequitinhonha, através dos contatos com Saulo Laranjeira, Tadeu Martins, Rubinho do Vale, Paulinho Pedra Azul, Celso Adolfo, Marku Ribas e tantos outros.
O disco A Nova Sonoridade, inclui três regravações do próprio grupo, cinco músicas inéditas, uma gravação de música do folclore boliviano e outra do folclore capixaba, a famosa Iaiá. Entre as inéditas, Disparada Geral dialoga com ritmos amazônicos; Tata Tinku busca inspiração no ritmo andino chamado tinku; Folia Barroca resgata sonoridades do congado do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Luz e Luar, regravada, ganhou nova versão com alguns elementos de cumbia, salsa, congo e maracatu.
Mas no show de lançamento de A Nova Sonoridade, o América 4, além das que constam o disco, ainda acrescentou as músicas Luna Llena, do chileno Nelson Araya; El Humahuaqueño – Carnavalito, do argentino Edmundo Zaldivar; El Cuarto de Tula, do grupo cubano Buena Vista Social Club; Guantanamera, do cubano José Martí; Flor de Carnaval e Carnaval da Barra do Jucu, ambas de Tobi Gil e César Rebechi.
RESISTÊNCIA LATINA
Resumo da ópera: um show com letra maiúscula, numa sexta-feira, 9 de março, com muita chuva e o teatro municipal de Vila Velha-ES lotado. Impressionante ver um público encantado com a capacidade do grupo que, com toda essa variedade de instrumentos, conseguiu que cada um deles tivesse sua voz e que, ao mesmo tempo, pudesse afirmar a unidade através da diversidade que compõe a cultura latino-americana. Interessante também perceber uma plateia eclética tanto na faixa etária quanto econômica unida numa só vontade, a de ouvir o América 4 cantando os mais distintos ritmos da música andina e latino-americana.
Enfim, cumpre-nos afirmar que o América 4, mais que um grupo musical, representa um movimento de resistência que, além de se mantém fiel às suas origens, também vem contribuir com uma linguagem que revela as quase infinitas possibilidades de intercâmbio entre as mais distintas culturas que compõem nuestra América. Neste show, participaram o boliviano Tobi Gil (flautas e voz), o argentino César Rebechi (guitarra e voz), o chileno Renato Pablo (percussão) e os brasileiros (capixabas) Gracia Silva (teclado), Nina Cândido (tambores de congo), Paulo Muniz (bateria), Aguilar Alves Silva (contra-baixo e voz) e Leonardo Meneses (tambores de congo e maracatu).