Os folhetos de cordel foram meus brinquedos de papel. Lendo as aventuras dos boiadeiros, fui boiadeiro. Nos folhetos de cangaço, enfrentei Corisco, o Diabo Louro, marido da Dedé. No cordel romântico, quase virei cobra como certa moça muito linda. E o bom de tudo isso é que depois de muita luta desembarquei no inferno e nem te conto as presepadas que aprontei.
Aonde ia eu levava um amontoado de folhetos da minha fornida coleção junto mais o fole do mestre Januário e do zabumba que herdei de meu vô. Vi e revi esse filme nos sertões do Brasil e por incrível que pareça o cordel estava lá, nos confins da Grã-Bretanha. Em praça pública, o cantador exibia o típico inglês do interior da Inglaterra dramatizando o que lia nas páginas de um livreco amassado. Ele contava as aventuras de um caipira pobretão que se valendo de seu majestoso porte atlético derrotou inimigos terríveis e galgou a glória. Isso mesmo, o bom de briga deu um senhor golpe do baú. Tornou-se genro de um Conde chapa da Rainha e sua vida virou banquete.
Nem foi preciso puxar pela memória: a fábula era igual a nossa produção local. Logo me lembrei de diversos cordéis onde os vaqueiros graças a sua valentia casavam com a filha do “coronel” e ingressavam na corte da casa grande.
“O velho nesse momento
tossiu e franziu a testa
olhou pro José e disse:
– você parece que presta
eu quero ver é na luta
se você não desembesta”.
(“O Romance do Aventureiro do Norte” de Apolônio Alves dos Santos).
Fiel a essa temática, o cordel bateu recordes de vendas. Esse que citei, “O Romance do Aventureiro do Norte” alcançou nas décadas de 50/60 a tiragem de 60 mil exemplares. Isso para não falar dos clássicos que venderam 200 a 250 mil unidades na sua vigésima quinta edição, a maioria publicados pelo poeta e editor João José da Silva, que tive o prazer de conhecer na casa dele no Recife.
Estou seguro que em matéria de apelo popular, o cabra não faz feio perante os super-heróis “made in USA”. Porém há um detalhe importante: o caba precisa ser caba da peste, não pode ser um tipo congado ou ficar se fazendo de Kátia. Tem que do jeito que reza o poeta José Costa Leite no folheto “O encontro de Lampeão com Antônio Silvino”.
– “Aqui o sujeito mais mole mama em onça canguçu”.