Natal é uma cidade estranha. São inúmeros absurdos, mas um deles se coaduna com outros: o abandono do patrimônio histórico. E o do Centro de Turismo chama a atenção. Um equipamento de potencial econômico, turístico, histórico e cultural. Abandonado ou pelo menos sem a merecida atenção e gerido de forma irregular.
Um prédio charmoso, de arquitetura neoclássica, imponente sobretudo se visto do acesso inicial. Fica ali no alto de Petrópolis – uma das mais belas vistas da cidade. Tem restaurante com ótimo cardápio, 38 lojas de artesanato, galeria de arte, antiquário, espaço para eventos e um valor histórico inestimável. Em outros tempos abrigou uma boate, a Pool e há 30 anos mantém o Forró com Turista às quintas-feiras.
Fosse em outro lugar do mundo era dos principais atrativos turísticos da cidade. Como também seriam a praia da Redinha e de Santa Rita, ambas também abandonadas. Ou a Ponta do Morcego, o Hotel Reis Magos, o bairro da Ribeira… Mas aqui é Natal e os comerciantes do Centro de Turismo têm se dado muito mal.
TURISMO MINGUADO
Não é uma situação de fácil resolução. A Associação dos Empreendedores do Centro de Turismo (Asectur) comanda o equipamento há 27 anos. E chegou sem pedir licença legal. Não houve processo licitatório, ou seja, há irregularidade gerencial. E a insatisfação da maioria dos permissionários do lugar é gritante.
Para piorar, os turistas que praticamente sustentam o lugar, minguaram. O Centro de Turismo recebia entre 8 e 12 ônibus de receptivos por dia. Desde o ano passado foi reduzido para dois ou três por semana. Uma das justificativas é que guias de turismo têm preferido levar turistas em locais onde recebem melhores comissões.
Visitei o Centro de Turismo no último mês de novembro. Levei minha filha para conhecer o artesanato local, a galeria de arte e provar o famoso bolinho de macaxeira. Era um sábado ensolarado e o local não tinha praticamente nenhum cliente, embora o espaço estivesse aparentemente bem cuidado.
POSSÍVEIS SOLUÇÕES
De certo não cabe mais uma Associação manter, de forma irregular e sob insatisfação dos comerciantes, o lugar. O Governo do Estado pode e deve retomar o equipamento e, se for o caso, abrir licitação para uma empresa privada gerir. Claro, é preciso alguns cuidados para não ocasionar nenhum dano social. São muitas famílias dependentes daquela renda.
No novo contrato pode-se constar cláusulas para que o próprio Governo use o espaço para eventos culturais, para que haja um balcão de informações turísticas e outros usos de utilidade pública. Cultura e turismo precisam caminhar mais juntas e o Centro de Turismo é perfeito para isso. Economia criativa!
Mas como disse acima, a situação é complicada e o trabalho de levantamento da situação, de contratos firmados, de receitas e custos demanda tempo, equipe e muita discussão para se ouvir os vários lados envolvidos, como também disse acima, para que a corda não arrebente do lado mais fraco: os pequenos comerciantes.
Não sei se o Governo, na situação financeira calamitosa em que se encontra, tenha condições de assumir mais esse equipamento. Na gestão passada o Centro de Convenções foi devolvido ao Estado, mas ali há receita gerada com eventos para cobrir os custos de manutenção. Mas o leque de opções para salvar o Centro está aberto. Só é preciso abanar porque o calor ali tá grande!
HISTÓRIA DO CENTRO DE TURISMO
O prédio do Centro de Turismo data, provavelmente, do final do século 19, inicialmente utilizado como residência. Em 1911 foi transformado em asilo para mendigos, tendo como estrutura ampliada e adaptada para tal fim. Posteriormente abrigou um orfanato para meninas.
Durante a 2ª Guerra Mundial foi requisitado pelo Governo Federal pela sua localização estratégica. Após 1945, virou o presídio público da cidade, funcionando como tal até 1969. Em novembro de 1976, já restaurado e tombado pelo Patrimônio Histórico, passou a funcionar como um centro de serviços de apoio ao turismo.