por Adriano de Sousa
Quem leu ‘A Penúltima Versão do Seridó’ e ‘Rústicos Cabedais’, dois livros indispensáveis à compreensão do Seridó e de sua projeção sobre o Rio Grande do Norte, sabe que a firma do professor-doutor Muirakytan Kennedy de Macêdo sempre se dedicou simultaneamente aos negócios da história e da poesia. Sem ceder à tentação excludente a que se rendem, por mecanismo de defesa ou celebração de vaidade, tantos acadêmicos inclinados à poligrafia. Para eles, é questão de honra o desdobramento da personalidade autoral, com o requinte da heteronímia ou a mera distinção estilística, demarcando o que é do acadêmico e o que é do literato.
No caso dos historiadores em geral, separar é trair a gênese da disciplina, que nas calendas era um gênero literário, com direito a musa própria. No caso específico de Muirakytan, a separação seria inadmissível também pelas características de sua escrita científica, em que as cintilações literárias convivem em harmonia com o substrato analítico. O resultado são livros acadêmicos escritos em língua de gente – e gente talentosa, que estetiza o texto para ampliar sua substância expressiva, não para adjetivá-lo.
Quem não conheceu a poesia esparsa na obra do historiador pode degustá-la inteira na ‘Partícula Elementar’ de estreia e neste ‘Mar Interior‘, assinados por muirakytan k macedo. Ao manter a firma, em minúsculas irônicas, o poeta ressalta o que já se assinalou: não há paralelismo autoral no que ele escreve. Escrevendo poesia ou história, o que conta é o prazer com a palavra e o respeito ao princípio ético que rege todo ofício: fazê-lo bem. De preferência, refletindo sobre o fazer, como uma disciplina de aperfeiçoamento constante.
O ‘lugar de fala’ do senhor k é o do poeta-crítico, que a mudernage criou e a pós-mudernage institucionalizou. Escrever sobre o escrever tornou-se um dever de casa incontornável, até para preservar a palavra como matéria-prima da poesia nesse tempo ‘transmídia’ e conjurar a tentação de sonegar ao texto o status de território natural da linguagem.
A característica adicional desse poeta é propor algo além da adesão automática decorrente da empatia emocional. O interesse do/pelo poema envolve outras áreas de contato, negligenciadas pelo leitor que se identifique apenas com dores, amores e humores de circunstância. A poesia do senhor k entrega a cota de emoção que se espera da boa poesia, mas descarta o facilitário. Ela pede ao leitor que dê um pouco mais; de preferência, o melhor de si – informação, memória, intuição, sensibilidade, inteligência – para completar o poema.
SERVIÇO
Lançamento do livro de poemas de Muirakytan K. de Macêdo, Mar interior.
Data: 05/04, quinta-feira
Local: Temis Club – Balcão Bar, na sede do América, Av. Rodigues Alves, 950, Tirol
Horário: a partir das 19h.
O AUTOR
Muirakytan nasceu em Caicó em 1964. É historiador com doutorado em Ciências Sociais e professor de História do CERES/UFRN. O autor já publicou A última versão do Seridó: espaço e história no regionalismo seridoense; Caicó – uma viagem pela memória seridoense; Organizou os livros: Tronco, ramos e raízes! : história e patrimônio cultural do Seridó negro; Acari; Mestres do Seridó – Memória; Colégio Diocesano Seridoense : imagens do tempo e do espaço escolares; História & Memória da Câmara Municipal de Caicó e Partícula elementar (poemas) e lança nesta quinta-feira, dia 05/04, no Temis Club, a partir das 19h, seu segundo livro de poemas Mar Interior, com ilustrações também de sua autoria.
- Texto publicado neste blog em abril de 2018 e republicado agora em homenagem a Muirakytan..
2 Comments
[…] Norte perdeu, mês passado, um dos seus mais destacados historiadores. Poeta, professor, escritor, Muirakytan Kennedy Macedo além de grande figura humana era um importante intelectual que valorizava nossas raízes, com […]
Gostaria de saber aonde eu encontros os livros do.professor aqui no Rio de Janeiro-RJ e caso não venda aqui em qual lugar poderei encontrar?