A trajetória da Editora Jovens Escribas é emblemática. Momento de transição cultural no cenário potiguar. Na mesma época surgiram o Clowns de Shakespeare, o Dosol… Novos protagonistas da cena que viria se firmar. Eu mesmo estava ali no início de minha trajetória jornalística, como outros que também colocariam seus nomes na autoria de matérias fundamentais para divulgar o contexto daquela época.
Carlos Fialho e companhia foram pioneiros não só na formatação de uma editora de caráter mais independente. Já havia o Sebo Vermelho e tal. Mas unir o ideal da publicação de livros de jovens escribas ao marketing dos produtos foi algo realmente marcante, sobretudo numa época sem redes sociais ou essa explosão de ferramentas do marketing digital e outros nominhos de mesmo propósito.
Treze anos depois e a editora se mantém como uma das mais produtivas e inventivas do Estado. E com planos ousados para os próximos anos. Um resumo de todas as atividades e feitos desses anos constam numa caprichada revista lançada essa semana no auditório do Hospital do Coração, patrocinador da publicação. Este blogueiro foi lá e conversou um tanto com Fialho sobre mercado literário e metas para 2018.
PAPO RETO com Carlos Fialho
Nesses 13 anos qual a mudança percebida na Jovens Escribas?
Um dos motivos de termos dado certo foi a despretensão inicial. Não queríamos fazer nada muito importante; só publicar nossos livros. Assim a gente fez. E isso nos permitiu dar um passo de cada vez. Publicamos esses livros, depois mais alguns e depois começamos a criar relações, conhecer autores, ter mais referências de eventos e publicações e, quando percebemos, estávamos publicando muitos livros por ano, além de realização de eventos. Foi uma evolução natural que nos fez chegar até aqui, com 13 anos de uma série de realizações e livros publicados.
O mercado leitor mudou nesses 13 anos?
Acho que sim. No esporte dizem que quem forma atleta é o clube pequeno. E o papel da editora pequena – e quando digo pequena é a editora regional, sediada em seu local de atuação – é formar leitores. Nós da Jovens Escribas tomamos consciência, num certo momento de nossa trajetória, de que tínhamos que formar esses leitores. Começamos esse trabalho em escolas, junto ao público jovem para cativá-los. E isso já se dava antes do Ação Leitura, quando publicávamos livros cujo conteúdo interessava a eles; era divertido ler livros da Jovens Escribas. Muitos relatos eram do tipo: “Ah, meu irmão mais novo leu seu livro e fiquei impressionada porque foi o primeiro que ele leu na vida”. E esse tipo de relato recebemos até hoje nas escolas. Uma escola daqui adotou um livro nosso e um pai enviou um inbox no facebook dizendo que “até os bagunceiros gostaram” (risos).
Qual o livro mais vendido da Jovens Escribas?
Tem alguns que venderam muito porque fizemos várias edições. O ‘Malditos Sertões’ é um, os meus livros também. O ‘Não basta ser playboy, tem que ser DJ’ vendeu muito. Agora, publicamos livros de negócios que vendem muito porque têm venda corporativa muito forte. Então, o autor nosso que mais vendeu foi Fred Alecrim. Já publicamos dois livros dele de negócios e cada um vende dois a dois mil e quinhentos, porque ele vende para instituições como Sebrae, Sesc; faz palestras; é contratado por um supermercado de Pernambuco que compra 100 livros de uma vez para distribuir aos funcionários… Ele faz um marketing muito bem feito e é, seguramente, o autor que mais vende porque é mesmo um especialista em venda.
O diferencial da JE é a divulgação?
Acho que é. Diria até que a comunicação. Conseguimos criar canais de comunicação pra chegar ao público leitor. Essa coisa de formação de público, precisamos antes aprender como chegar neles. Usamos muito a internet, até porque limitação econômica e por estar habituado com esses recursos. Sempre soubemos nos comunicar bem com esse público. Então, não acho que foi só o marketing, mas a comunicação mesmo, desde o mecanismo mais primitivo, como o email, até as redes sociais, assessoria de imprensa. Tentamos, assim, fazer com que o nosso produto, nossas ações fluíssem e se expandissem.
O “jornal de papel” está em decadência. Você acha que o mesmo acontecerá com o livro? Ou você acha que o Jovens Escribas precisa se reinventar? Tem o mercado do Ebook…
Sim, precisamos entrar no ebook. É uma deficiência minha, mesmo, por falta de tempo, de dedicação. Mas temos que resolver isso ontem. Mas a resposta se o livro vai se acabar, eu não sei. Pode ser que sim, que demore muito, pode ser que não. Mas só lhe respondo quando minha filha tiver adulta e a filha dela talvez já tenha uma relação menor com o livro do que a gente tem.
Metas para a editora nos próximos anos?
Queremos continuar publicando. Época de crise não temos conseguido publicar com o mesmo ritmo que tínhamos até 2015; sofremos muito nesses últimos dois anos. Mas devagar vamos continuar o trabalho. Queremos voltar forte com o Ação Leitura em 2018, com verba, autores importantes, auditórios lotados. Queremos interiorizar esse projeto e já temos trabalhado com a captação de verba paralela à Djalma Maranhão para fazer isso. E também queremos criar um canal de comunicação de vídeo. E aí não é só Jovens Escribas, é meu mesmo, de poder falar de crônicas, de livros, de várias coisas. E, no caso, específico de Carlos Fialho, pessoa física, preciso escrever um livro novo em 2018, um livro bom para em 2019, quando completarmos 15 anos de editora, conseguir publicar. Pode ser que depois de dez tentativas esse fique bom (risos).
Adendo: Na época da confecção da revista, Isaac Lira, um dos repórteres responsável pela feitura das matérias, me pediu depoimento sobre o Jovens Escribas. Enviei e depois Fialho me pediu uma foto para constar no depoimento. Autorizei o galadinho pegar qualquer uma do meu facebook. E olha o que o escroto fez. Eu, em pleno Baile das Kengas. Mas a vingança começa com V e ela tarda, mas não “fialha”! rs
1 Comment
[…] Clotilde Tavares, Regina Azevedo, Alice Carvalho, Mariana Melo, Marina Petrovich, Pablo Capistrano, Carlos Fialho, Márcio Benjamin, Carito Cavalcanti, Gonzaga Neto e Lucílio […]