Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira

Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira

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Há muitos anos, estive em Cachoeira, mas quase nada me ficou na memória, apenas imagens esgarçadas: uma igreja colonial, belíssima; a ponte metálica sobre o rio Paraguaçu, ligando Cachoeira à vizinha São Felix… Lembro – e como! – de uma moqueca de siri mole, verdadeira especialidade gastronômica, degustada num modesto restaurante perto do rio.

Agora, voltando a Cachoeira, revejo com maior interesse as suas principais atrações. Cidade histórica mais importante da Bahia, depois de Salvador, a antiga Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira não consta dos roteiros turísticos convencionais, mas tem muita coisa interessante para se ver e curtir.

Vou andando a pé em procura da Praça da Aclamação, no centro antigo, palco de muita história. No meio do caminho, a rua 13 de Maio, com os seus velhos sobrados, todos eles em mau estado de conservação, exceto os que abrigam a Irmandade da Boa Morte – grande tradição local – e o Museu Hansen Bahia, de xilogravuras. Rua decadente, essa, por isto mesmo pitoresca. Apresso o passo, ansioso para rever a praça. Por cima dos telhados vejo as torres azulejadas da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário. Que beleza! Que alumbramento! Parece-me não haver, no Brasil, algo que se lhe possa comparar. Azulejos, em cores vivas – azul, cinza, branco –, formando caprichosos desenhos geométricos, revestem toda a parte superior das torres em forma de pirâmide. Um efeito decorativo espetacular. Lamentavelmente, não pude ver a matriz por dentro; ela estava fechada, em obras de restauro.

A dois passos dali, até que enfim, surgiu a Praça da Aclamação (onde primeiro se aclamou, na Bahia, o Imperador Pedro I – daí o nome). Quatro edificações, em meio a velhos sobrados, chamam a atenção do turista interessado em arte e história: a Câmara Municipal, antiga Casa da Câmara e Cadeia, casarão de 1698/1712; a igreja do Convento do Carmo (1773) – linda fachada em estilo rococó; a capela da ordem Terceira do Carmo (1695/1745) e o pequeno museu de arte e história, com acervo de móveis antigos, em sua maior parte.

No interior da capela da Ordem Terceira (na verdade, igreja, pelas suas dimensões) a riquíssima decoração – talha dourada e policromada, painéis de azulejos, pinturas e preciosas imagens – constitui-se em verdadeira obra-prima do Barroco do Nordeste. Felizmente, está bem conservada.

Referindo-se a esse templo, em seu livro “A Arquitetura Religiosa Barroca no Brasil”, Germain Bazin, grande autoridade no assunto, teve estas palavras consagradoras: “O mais belo conjunto de talha existente no Estado da Bahia, depois deste do convento franciscano de Salvador, decora a capela da Ordem Terceira do Carmo de Cachoeira”.

Que mais é preciso dizer?

VULTOS

 Cachoeira é terra de ilustres vultos da História do Brasil, dentre os quais destacam-se duas heroínas célebres – Maria Quitéria e Ana Néri – e o jurisconsulto Teixeira de Freitas. No andar térreo do prédio da Câmara há um pequeno memorial em honra dos mesmos.

SÃO JOÃO VERDE E AMARELO

 Quando chegam os festejos juninos, a cidadezinha (31.507 habitantes) se anima toda. As ruas junto ao rio Paraguaçu, ornamentadas com os tradicionais cordões de bandeirinhas, transformam-se num enorme forró. Detalhe curioso: as bandeirinhas, ao invés de multicoloridas, são verdes e amarelas. Por quê? Alusão à legenda cachoeirense nas lutas da Independência?

Nestas ocasiões, vem muita gente de fora, até de Salvador, para brincar o São João. Mas é provável que pouquíssimas destas pessoas se interessem em conhecer os tesouros históricos e artísticos de Cachoeira.

Manoel Onofre Jr.

Manoel Onofre Jr.

Desembargador aposentado, pesquisador e escritor. Autor de “Chão dos Simples”, “Ficcionistas Potiguares”, “Contistas Potiguares” e outros livros. Ocupa a cadeira nº 5 da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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