Escritores mossoroenses (parte 4) – Martins de Vasconcelos

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Um típico intelectual de província.

Na então pequena Mossoró, sua terra adotiva, Martins de Vasconcelos, autodidata na exata acepção da palavra, construiu obra literária admirável e agitou, durante décadas, a vida cultural mossoroense. Homem de sete instrumentos: poeta, contista, jornalista; e mais: compositor, músico (integrante de banda), teatrólogo, tipógrafo, alfaiate, professor primário, promotor público interino, militante partidário, adjunto de procurador da República e funcionário público (secretário da Intendência de Mossoró e agente fiscal federal do imposto de consumo). Foi tudo isto, mas sua verdadeira vocação era o jornalismo. Sua paixão. Fundou com outros jornalistas mossoroenses A Crise, A Idéia, O Mensageiro, A União, A Escola, A Atenéia e outros periódicos de efêmera existência. Colaborou em O Mossoroense e no Comércio de Mossoró. Diretor-proprietário de O Nordeste, que fundou, a 15 de outubro de 1916, fez deste jornal a sua trincheira, durante longos anos. (O “órgão de propaganda dos interesses gerais”, como se denominava, circulou até 1934).

Na redação, muito à vontade, em mangas de camisa, Martins de Vasconcelos estava em seu elemento, peixe n’água, “… de óculos e de cachimbo em punho, sempre assoberbado, desenvolvia sua atividade dinâmica, trabalho que era digno de uma empresa. Fazia tudo. Dirigia, supervisionava, escolhia os títulos, os tipos de composição. Escrevia, fazia revisão, mexia na tipografia toda para encontrar o objeto, brincava, dava ordens e contra-ordens. A seu jeito criava as notícias, arranjava os casos, os furos, e os seus notáveis sensacionalismos. Por cima, atendia ainda a parte comercial. Recebia as revistas do Rio, contava e anotava num caderno que só ele entendia o rabiscado, e distribuía, depois, para os gazeteiros” (Raimundo Nonato – Jornalista Martins de Vasconcelos – Um Homem de Muitas Lutas – Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1974 – pág. 46 – Obra em parceria com Walter Wanderley).

Os livros do autor – Saltério da Saudade (1904), Renovos d’Alma (1905), O Sultão (1906), Goivos, todos de poesia, e Histórias do Sertão (1918), contos – foram reunidos, postumamente, em um volume, sob o título Obras Completas (Coleção Mossorense, série C, vol IV, Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1956).

As suas histórias, apesar de um tanto ingênuas, ou por isso mesmo, despertam bastante interesse, ainda hoje. Através delas revela-se muito da cultura popular nordestina – folguedos, costumes, crendices, mitos, etc. E isto com uma autenticidade notável, fazendo pressupor o grande conhecimento que o autor possuía de sua terra e de sua gente.

Câmara Cascudo transcreveu parte de um dos contos, intitulado Labatut, como documentário, em seu livro Geografia dos Mitos Brasileiros. A Vaquejada, outra boa amostra da ficção de MV, abre a antologia constante do livro Jornalista Martins de Vasconcelos – Um Homem de Muitas Lutas, já referido.

Filho de Gaudêncio de Góis Vasconcelos e Antônia Maria da Conceição, nasceu José Martins de Vasconcelos a 11 de novembro de 1874, na cidade de Apodi (RN). Muito cedo, transferiu-se para Mossoró, em busca de meios de vida, e ali viveu até o fim dos seus dias.

Casando-se com D. Francisca Libânia de Vasconcelos, por falecimento desta uniu-se em segundas núpcias a D. Sílvia Freire de Vasconcelos, que lhe deu oito filhos: Maria Sílvia, Luzia, Rubem, Selma, Francisco, Djalma, José de Vasconcelos Júnior e Eponina.

Morreu no dia 22 de dezembro de 1947

Manoel Onofre Jr.

Manoel Onofre Jr.

Desembargador aposentado, pesquisador e escritor. Autor de “Chão dos Simples”, “Ficcionistas Potiguares”, “Contistas Potiguares” e outros livros. Ocupa a cadeira nº 5 da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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