Buenos Aires: o charme europeu

Buenos Aires

PIX: 007.486.114-01

Colabore com o jornalismo independente

Chego a Buenos Aires ainda mal refeito da emoção que me dá a travessia aérea do Rio da Prata. Como é largo este rio! Rio-mar. Visto de perto, como é feio! As águas barrentas, sem graça.

Buenos Aires europeizada, tanto na aparência urbana – prédios antigos, poucos arranha-céus – quanto na paisagem humana – brancos predominando, elementos de sangue índio, e não vi nem um negro sequer.

É uma cidade tranquila, pelo menos dá esta impressão à primeira vista, neste domingo verânico. Metrópole, grande metrópole, mas sem o desvario de megalópoles tais como Rio e São Paulo.

A alma da cidade está nas ruas. Duas destas concentram o que há de mais característico do espírito portenho: Calle Florida e Avenida Corrientes.

Longe o calçadão, a Florida vai das imediações da Plaza de Mayo até a Plaza San Martin, fervilhando de gente, um estirão de lojas, cafés, galerias (pequenos shoppings), entre estas, as Galerias Pacífico, num enorme, velho e aristocrático prédio, primorosamente restaurado. No terceiro andar das Galerias Pacífico encontra-se o Centro Cultural Borges (cinemas, teatro, exposições, etc.). Na praça de alimentação, cuja abóboda tem afrescos de artistas argentinos, realizam-se eventos culturais, inclusive demonstrações de tango. A Florida é um bulício só, das dez da manhã às dez da noite.

Afluente da Florida, a Calle Lavalle, também calçadão, com muitas casas de espetáculos, e não menos movimentada, principalmente à noite.

Da Avenida Corrientes já se disse ser a cara de Buenos Aires. Corta a cidade de leste a oeste. Três pontos merecem especial atenção: 1º) o trecho entre a Calle Florida e a Av. 9 de Julio (cafés, teatros, lojas diversas); 2º) imediações do cruzamento com a Av. Callao (livrarias, livrarias, livrarias, cafés, cinemas); 3º) imediações do cruzamento com a Av. Pueyrredon – o Once, bairro popular, com intenso comércio, especialmente confecções a preços convidativos.

Uma linha do metrô (o subte, como dizem lá) corre sob a Av. Corrientes.

Não espere encontrar o número “tres, cuatro, ocho”… Atualmente, este número da avenida vive apenas no tango famoso.

Duas outras avenidas, também “cartões-postais”:

Avenida 9 de Julio. Talvez seja a mais larga do mundo, mas não é comprida; começa e termina no centro da cidade. Bem no meio eleva-se, espetacular, o Obelisco (67 ms. de altura), a marca, o ex-libris de Buenos Aires.

Avenida de Mayo. Vai da Plaza de Mayo (onde a Casa Rosada, sede do Governo, e a Catedral) até o Palácio do Congresso, este no feitio do Capitólio, de Washington.

Na Av. de Mayo encontra-se o maior número de edificações remanescentes dos fins do século XIX e começos do século XX. Palácios, palacetes, adaptados aos usos contemporâneos, uns em estilo neoclássico, outros em estilo art-nouveau, outros… Não é zona de comércio intenso, mas há inúmeros cafés, entre estes, o Tortoni, o mais antigo da cidade (1858), verdadeira “instituição” portenha (além de café, é galeria de arte, sala de música, bilhar, etc.).

Andando pela Av. de Mayo você tem a leve impressão de que está em Paris ou Madri.

Pode-se percorrê-la toda a pé, mas é preciso fôlego. Se você estiver disposto, veja a partir da Plaza del Congreso, entre outros monumentos arquitetônicos, os seguintes: La Inmobiliaria (nºs 1402/1450); Palácio Barolo (nº 1370); Dependencia de la Policia Federal (1333); Oficina de la AFIP (nº 1313); Hotel Chile (nº 1297); Teatro Avenida (nº 1222); Hotel Castelar (nº 1152); Palácio Vera (nºs 769/777); Edifício Drabble (nºs 702/752); Casa de la Cultura (nº 575).

Em destaque o Palácio Barolo: de estilo eclético, obra do arquiteto italiano Mario Palanti, foi, com os seus 22 andares, o primeiro arranha-céu da cidade, inaugurado em 1923. Pena que a Av. de Mayo não é bastante larga para que se possa apreciar, em plenitude, a fantástica fachada do Barolo.

A Casa Rosada, sede da Presidência da República desde 1862, ergue-se, imponente, na Plaza de Mayo, precisamente no lugar do forte que serviu de residência às autoridades coloniais e de sede do governo Rivadavia.

A cor rosa – informa um guia – resultou da mistura de cal com sangue e sebo bovino, para impermeabilizar a fachada do antigo forte; diz-se que simboliza a pacificação entre os partidos Blanco e Colorado, de tanta legenda na História da Argentina. No lado oposto da praça, junto ao prédio do Cabildo, a Catedral Metropolitana (1752/1852) domina o cenário, com a sua fachada neoclássica, parecendo a Madeleine, de Paris. Dentro merece especial atenção, além do altar-mór, o mausoléu do general San Martin, “o libertador”.

Algumas das igrejas mais interessantes, do ponto de vista histórico e artístico, situam-se num raio de cerca de 500 metros em torno da Plaza de Mayo, de modo que você poderá visitá-las, facilmente, fazendo o percurso a pé. São as seguintes: – Basílica de La Merced (Calle Reconquista, 207). De 1783, remodelada em 1905. Convento anexo. – San Ignacio (Calle Bolívar, 225). A mais antiga de Buenos Aires (1675, reformada a partir de 1712). – Basílica de San Francisco (Calle Alsina, esquina com Defensa). De 1730, reformada em 1911, quando se deu à fachada o estilo barroco alemão, rebuscadíssimo. – Basílica del Santíssimo Rosario y Convento de Santo Domingo (esquina da Calle Belgrano com a Defensa). Construída a partir de 1751. À sua frente, num pátio gradeado, ergue-se, desde 1903, o mausoléu do general Manuel Belgrano, herói nacional. – San Juan Bautista (Calle Alsina, 824) De 1797, fica ao lado dos antigos claustros das freiras capuchinhas do mosteiro de Nossa Senhora do Pilar. Destes templos é San Ignacio o mais interessante, até porque preserva mais que os outros a pureza das linhas originais.

Visita imperdível, o Teatro Colón. Monumental, em pleno centro da cidade, a poucos metros do Obelisco. Visita guiada, inclusive pelos subterrâneos, onde há oficinas de confecção de cenários e de trajes. Valeu!

Não menos interessante, o museu do teatro.

Buenos Aires pode ser definida como a cidade das livrarias e dos cafés. Dizem que há mais livrarias lá do que em todo o Brasil. Evidente exagero.

A tradicional “El Ateneo” está instalada na Calle Florida, num velho e charmoso prédio. É enorme. Curiosíssima é a filial da Avenida Santa Fé (perto do cruzamento com Avenida Callao); para abrigá-la adaptou-se o antigo teatro Splendid. Platéia e camarotes lotados de estantes e, no local do palco, uma cafeteria.

Manoel Onofre Jr.

Manoel Onofre Jr.

Desembargador aposentado, pesquisador e escritor. Autor de “Chão dos Simples”, “Ficcionistas Potiguares”, “Contistas Potiguares” e outros livros. Ocupa a cadeira nº 5 da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

WhatsApp
Telegram
Facebook
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais lidas da semana