Histórias verdadeiras e inventadas e personagens reais e fictícios se fundem no quarto e mais novo livro do escritor William Eloi, “A Calçada”, obra que flerta com a autobiografia, apresentada de uma maneira nada convencional – em fragmentos e diluída em contos que se entrelaçam. O livro, publicação de estreia da Juriti Edições, nova editora do RN, será lançado sábado, 11, no Seburubu, a partir das 10h.
Nele, William “retorna” à casa no bairro da Cidade da Esperança em que viveu boa parte do tempo de criança e toda a adolescência e se vê novamente na sua calçada rodeado de meninos (ele menino também) entre brincadeiras típicas da idade e dividindo as recentes descobertas musicais, literárias, cinematográficas, científicas e do despertar da puberdade. Reencontra a rua, a feira, o bairro, seus personagens e histórias.
Ora como “protagonista”, ora como figurante, ou apenas no papel de narrador onisciente, William Eloi (Neno) apresenta uma galeria de personagens comuns – moradores e transeuntes – em situações cotidianas, banais; capta em suas miudezas e insignificâncias pequenos sinais do humano, do universal, e transforma o superficial no que há de mais profundo; o ordinário em sublime.
Sua escrita é simples, direta, dinâmica e por vezes desconcertante, com cortes abruptos de cenas que em algum momento podem ser retomadas (ou não). Esses recursos fazem com que o passado nos pareça vivíssimo, enquanto o uso acertado da ironia estabelece uma crítica social que torna tudo ainda mais atual e vigoroso, como nos contos “Meninos amam seus revólveres” e “O filho do homem”.
- B. Frattini, escritor e especialista em Fundamentos Estruturais da Composição Artística, assina a orelha, na qual chama a atenção para a falsa impressão de se estar diante de uma reunião de contos memorialistas.
“Memórias? Não é bem assim. O autor vai além na criação de suas personagens, escreve com realismo nevrálgico, mergulha em emoções e sentimentos no compasso da reconstrução íntima e explora o vivenciado que pode ser meu, seu, de todos nós. Em ‘A Calçada’ é impossível não se identificar com algumas de suas passagens: os meninos bronzeados pelo sol potiguar; a infância calorenta; a fantasia; a paixão pelo futebol; os primeiros ecos das surpresas da adolescência; os sussurros sórdidos da gente grande (sempre repressora e invejosa da fantasia).”
As narrativas, diz ele ainda, celebram clareza: fluem com ritmo certeiro e intensidade dramática. Por fim, Frattini define o livro como uma verdadeira obra-prima repleta de alma que retrata o ‘grande’ e o ‘pequeno’ com simplicidade, elegância e alto teor artístico. “William Eloi entrega o espelho interior para seus leitores e mostra que é imprescindível buscar na memória os reflexos para a construção de um mundo novo e melhor.”
O escritor e artista plástico Christi Rochetô destaca no texto da quarta capa que “A Calçada” talvez seja o livro mais terno que William Eloi já escreveu. “Ao longo dos contos, o autor nos oferece resvalos dessa memória de sua juventude: seus amigos, o bairro de suas memórias afetivas, o mundo que girava em volta das calçadas de sua rua, de seu mundo. O que se tem em mãos é, na verdade, um inventário de lembranças, tão verdadeiras quanto inventadas e tão familiares que já nem pertencem mais ao autor, mas à vida de quem adentrar estas páginas.”
William Eloi
William Eloi nasceu no Guarujá, litoral de São Paulo, e ainda criança se mudou com a família para Natal. Criou-se potiguar.
Tem a escrita como necessidade vital, e nela o terno e o trágico muitas vezes são postos lado a lado. Atento observador do cotidiano, confronta os limites do ficcional com o biográfico, revelando as pequenas imensas tragédias que nos rodeiam – uma marca de sua literatura.
William Eloi publicou “Notas suicidas” (romance, 2013), “A vertigem seguida da náusea” (contos, 2019) e “Crônicas do meio-fio” (2021).
SERVIÇO
LANÇAMENTO DO LIVRO “A CALÇADA”, DE WILLIAM ELOI
Quando: sábado, 11 de fevereiro
Local: Seburubu (Av. Deodoro da Fonseca, 307, Cidade Alta, Natal/RN)
Hora: A partir das 10h
Preço: R$ 40,00