Tempos marcantes do Jardim Hotel

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“Tempos Marcantes” é o título de um grande livro e de um livrão, lançado pelo Dr. Manoel de Medeiros Brito, no dia 02 de agosto de 2022. Com 604 páginas, todas preenchidas com escrita escorreita, simples e elegante, que proporciona leitura sempre aprazível, do começo ao fim.

Em crônica publicada poucos dias após o lançamento, o padre João Medeiros Filho, amigo do autor desde a infância, assim se expressa: “No primoroso trabalho, nosso preclaro amigo transita da autobiografia, perpassando pela crônica e análise política, assim como pelo registro histórico dos principais fatos e acontecimentos das últimas nove décadas, especialmente no RN”.

No prefácio, o jornalista Cassiano Arruda Câmara diz ser testemunha e cúmplice da pressão exercida por um grupo de amigos de Manoel de Medeiros Brito para ele apressar o término e o lançamento do livro com as suas memórias. Mas o autor, devido a várias revisões, obrigou-se a postergar em quatro anos o lançamento de Tempos Marcantes, quando, durante cerca de cinco horas, com a presença e a música da Banda Euterpe Jardinense, autografou mais de 400 exemplares.

Na capa do livro Tempos Marcantes avulta a foto de um casarão bem conservado, telhado em duas águas, com uma lateral a exibir duas janelas, correspondendo ao sótão. Esse casarão foi construído ainda no século XIX, pelo Coronel Manoel Ildefonso de Oliveira Azevedo. O imóvel, depois de alguns anos, foi adquirido pelo Coronel Quincó da Ramada, da cidade de Acari. Por sua vez, o Cel. Quincó vendeu o belo solar aos avós maternos de Manoel de Medeiros Brito, Paulino Estanislau de Medeiros e Dona Joana. Desde então, 1928, os pais do autor de Tempos Marcantes passaram a residir no Solar, conforme seu depoimento: “Fui, portanto, o primeiro filho do casal a nascer na nova residência e nela vivi toda a minha infância e boa parte da adolescência”.

Os pais de Manoel de Medeiros Brito, Zuza e Chiquinha, apesar de residirem no maior casarão da cidade, viviam em constantes dificuldades financeiras. Zuza cuidava de uma bodega e mantinha uma banca do famoso Jogo do Bicho. Um dia, em 1934, a “banca quebrou”, ou seja, houve acertos em demasia, no chamado número da sorte. Mas os donos da banca honraram seus compromissos, um a um.

Zuza e Chiquinha pensaram em várias opções para criar outro negócio, entre as quais a compra de um caminhão para fazer fretes. Para tal, teriam de vender o solar. Até que aceitaram o conselho de um bom amigo, o Cel João Medeiros. O conselho do amigo foi exatamente de não vender o solar, mas de transformá-lo em um negócio, em um hotel, pois a cidade de Jardim do Seridó já merecia esse avanço. E surge o notável Jardim Hotel, que marcou época durante décadas na região do Seridó. Arrisco a dizer que o Jardim Hotel, e sua famosa Sala dos Doutores, onde se reuniam figuras ilustres, exerceu forte influência política e social no RN. Até mesmo de forma indireta por ser local significativo na formação de um grande líder, vocacionado à causa pública, e homem de bem e do bem, conforme disse o padre João Medeiros Filho. Repito as palavras do próprio autor, Manoel de Medeiros Brito: “Foi nesse local, uma verdadeira escola, onde, ao escutar atentamente as conversas dos mais velhos, aprendi muitas lições que foram extremamente importantes na minha formação”.

Daladier Pessoa Cunha Lima

Daladier Pessoa Cunha Lima

Primeiro reitor eleito da UFRN. Exerceu o cargo de 1987 a 1991. Graduado em Medicina pela UFRN (1965), tem especialização em Medicina do Trabalho e Administração Universitária, com vivência em instituições universitárias no exterior. Ao se aposentar, abdicou da Medicina e optou pela Educação, tendo se dedicado à instalação da FARN, atual UNI-RN, no ano de 1999. É, ainda, membro da Academia de Medicina do RN e do Instituto Histórico e Geográfico do RN. É autor dos livros Noilde Ramalho – uma história de amor à educação e Retratos da Vida, além de outras publicações. E em abril/2017 foi eleito para a cadeira nº 3, da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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