Saudações, adoradores do líquido sagrado!
Dando uma leve continuidade ao texto anterior, vamos falar hoje de um lúpulo que tem despontado como uma das grandes promessas para o ano de 2022!
Seu nome é Eclipse!
E ele tende a ser a sensação do momento (e continuar a ser ainda mais usado ao longo do ano, em várias produções cervejeiras).
A lua não vai encobrir o sol! Nem é o apocalipse (ainda não! Só se o inominável vencer em outubro)! É apenas mais uma cepa de lúpulo despontando no cenário cervejeiro atual.
Assim como o lúpulo Strata, com seu perfil altamente dank (leia mais sobre isso clicando AQUI e diferenciado para a época em que foi a sensação (2020), o Eclipse promete ser o aditivo lupulado mais popular entre os bebedores de cervejas artesanais. Candidato forte a conquistar a maioria dos cervejeiros com seus aromas e sabores diferenciados.
Como as IPA’s, e suas milhares de variantes, são sempre as queridinhas da maioria dos degustadores do mundo das cervejas artesanais, não é difícil apontar que o Eclipse (e as cervejas que o levem em sua composição) seja o grande sucesso de 2022.
Vamos, portanto, ao longo do texto, conhecer um pouco mais sobre o lúpulo que promete ser a sensação do momento e agradar aos hopheads, cada vez mais sedentos por novidades lupuladas!
A origem do Eclipse: Uma novidade não tão “nova”
O Eclipse é uma casta de lúpulo originária do território australiano e, que, na esteira de outros lúpulos desse país, vem fazendo bastante sucesso, a exemplo do Galaxy, Vic Secret, Ella e do Enigma.
Apesar de o tema ser um tanto quanto contido (e, por vezes, rechaçado) pode-se dizer que há uma grande influência do terroir (leia mais sobre isso aqui) na produção de lúpulos na Austrália.
O desenvolvimento dos lúpulos mencionados nos domínios da Austrália se deve em grande parte aos seus elementos geográficos, climáticos, de solo, dentre outros, criando as condições ideais para o aprimoramento de lúpulos com perfis diferentes do velho mundo (Europa) e também dos Estados Unidos.
Apesar de só ter sido lançado comercialmente em 2020, na Austrália, e, posteriormente, em 2021 nos EUA (e isso explica o porquê de ele vir a ser a sensação lupulada no Brasil em 2022, dado o devido desconto no atraso por causa da pandemia), o Eclipse chegou a ser elaborado em 2004 (com o nome provisório de HPA-016), pela empresa HPA (sigla de: Hops Program Australia). Todavia, sua ascendência remonta a 1915.
Por isso que se pode asseverar que ele é uma novidade (no mercado), ainda que já existisse há algum tempo desde 2004 (uma novidade não tão nova, portanto). O lúpulo em questão passou por ligeiros ajustes, e aprimoramentos em sua gama de atributos sensoriais, até ser oficialmente lançado no ano passado (no mercado americano, ao menos).
Ele derivou de polinizações cruzadas que incluíam outras variedades de lúpulos, como, por exemplo, Fuggle, Brewer’s Gold, Comet e Pride of Ringwood. A particularidade é que todas essas mesclas genéticas foram sempre implementadas no entorno do território australiano, fortalecendo ainda mais a questão da influência do terroir em sua concepção (validando meu argumento sobre a existência de um terroir cervejeiro, diga-se de passagem – ao menos em termos de produção de lúpulos).
Os Aromas e Sabores do Eclipse
Ver o Eclipse é fácil (quando a lua encobre o sol), mas, na cerveja, agora, será possível prová-lo diretamente!
Sim, eu sei, essa piadinha foi infame. Contudo, vamos tentar descrever seus aromas e sabores para que seu perfil sensorial fique melhor explicado.
Tal como os demais lúpulos australianos previamente mencionados, o Eclipse prima por um perfil altamente frutado. O grande ponto sensorial dessa varietal, portanto, são suas tonalidades de frutas, principalmente de frutas doces, amarelas e tropicais. Ele também é detentor de uma grande quantidade de alfa-ácidos.
Sua explosão frutada faz com que ele seja a pedida certa para as NEIPA’s mais suculentas. Quanto maior a variedade frutada, melhor o encaixe para esse tipo de cerveja artesanal. Esse é o fator que o capacita como grande sensação para a cena cervejeira no ano corrente, ressalte-se.
Prosseguindo, vamos dividir sua análise de acordo com seus perfis, secundários e primários, conforme descrito a seguir.
Perfis secundários
No quadrante de aromas e sabores fornecidos pela própria empresa que desenvolveu o lúpulo, a HPA, o Eclipse possui quase que toda a sua distribuição no quadrante das frutas.
Ademais, o Eclipse não é capaz de conferir nenhum (ou quase nenhum) elemento sensorial que denote notas florais ou resinosas, como pode se conferir graficamente a seguir:
Não obstante, em termos de análise gustativa, ao se abrir e degustar uma cerveja que use esse lúpulo (preferencialmente, uma Single Hop, em que a única variedade de lúpulo utilizada seja o Eclipse), há de se perceber dois perfis secundários que devem ser destacados.
O primeiro elemento de perfil secundário é uma pegada levemente aromática amadeirada. Ainda que sem tender ao herbal ou ao resinoso (ou, ao que se pode chamar de “madeira verde”, no aroma ou no sabor), o Eclipse consegue ter um leve toque amadeirado. Ele é sutil, e, por isso mesmo, secundário, sem chegar a atingir ou se confundir com as notas frutadas, as quais são mais proeminentes de modo geral na análise sensorial das cervejas que o utilizam.
O segundo elemento secundário que pode ser denotado na degustação de cervejas com Eclipse é um sutil caráter condimentado (de especiarias). Talvez ainda mais contido que o leve amadeirado anteriormente descrito, o leve tom condimentado lembra um pouco pimenta branca, dando uma ligeira conotação apimentada ao conjunto cervejeiro.
O caráter altamente frutado: O elemento primário do Eclipse
O foco principal do lúpulo Eclipse é ser uma explosão de frutas tropicais. Todavia, ele não cai no lugar-comum que a maioria dos lúpulos mais recentes, e consequentemente das IPA’s feitas com eles, ele não tem aquela exibição sensorial de frutas maduras (algo que particularmente não me agrada).
Pelo contrário, ele não recorre a esse perfil de frutas maduras, tampouco fica no feijão com arroz lupulado de apenas ter um unidimensionalidade cítrica variando entre maracujá e manga. Ambos os perfis apresentados já apresentam certo cansaço, e sua repetitividade tem levado alguns cervejeiros a se distanciar um pouco das IPA’s que apenas replicam essas duas fórmulas: frutas passadas / frutas cítricas.
Dessa forma, o Eclipse consegue ser uma lufada de criatividade lupulada nas IPA’s que chegam (e que chegarão também) ao mercado em 2022. Ele consegue imprimir elementos frutados que se diferenciam bastante daqueles mencionados mais acima, carregando consigo uma certa identidade cervejeira própria, por assim dizer.
Claro que, como todo lúpulo que instiga percepções de frutas tropicais, o Eclipse também tem sua carga sensorial cítrica. Todavia, ela tende mais a uma percepção de citrino (casca de limão) e de zest de laranja, que à dualidade maracujá/manga (já referida). Ademais, ele também consegue evidenciar notas de tangerina doce bem demarcadas.
O Eclipse também confere notas frutadas menos usuais, como, por exemplo, cajá, nectarina, lichia, e uma demarcação do terroir australiano: kiwi verde. Esse perfil frutado não é tão usual na maioria dos lúpulos (embora alguns, mais experimentais, possam conferi-los também), o que faz com que o Eclipse seja uma boa opção para os cervejeiros que almejam variar na apresentação frutada de seus líquidos sagrados.
Derradeiramente, falando de modo rápido do seu amargor, pode-se dizer que ele provém um amargor muito suave, sutil, sem agressividade alguma ao palato. É bem discreto nesse quesito.
Saideira
Talvez, eu esteja brincando de Mãe Dinah de novo (ou não).
Todavia, acredito que a varietal Eclipse tem tudo para brilhar e encantar a cena cervejeira em ótimos conjuntos.
É um lúpulo bem dinâmico e que confere perfis criativos e não tanto explorados até então. É dotado de uma capacidade de fazer cervejas muito frutadas e aromáticas.
Por causa desses elementos, o Eclipse tem tudo para convencer em 2022!
Recomendação Musical
Musicalmente, ao se falar em eclipse, eu só consigo imaginar uma música!
Obviamente, ela tem eclipse no nome.
É o clássico oitentista da cantora galesa Bonnie Tyler, chamado: Total Eclipse of the Heart!
Essa, com certeza, você já ouviu em algum by night da vida.
Aproveitem!
Saúde!