Coluna Capitolina: um pedaço de Roma em Natal

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Letrados natalenses têm polemizado sobre a origem da Coluna Capitolina – um pedaço da Roma antiga exposto numa praça de Natal. Afirma-se que seria proveniente do Templo Augusto de Júpiter, no Capitólio, daí o nome. Certo é que foi um presente do governo italiano à cidade, para assinalar o feito dos aviadores Arturo Ferrarin e Carlo Del Prete, pioneiros do ar, que, em 1928, fizeram a travessia do Atlântico a bordo de um pequeno avião, o Savóia 64, no raid Roma-Natal.

Vale salientar que essa façanha teve repercussão mundial. Era a terceira travessia aérea do Atlântico, segundo Paulo Viveiros, em seu livro “História da Aviação no Rio Grande do Norte” (Natal: Editora Universitária, 1974). Foram 7 158 quilômetros de distância, em 58 horas e 30 minutos de voo direto, a uma velocidade média de 175km/h.

Ferrarin e Del Prete sobrevoaram Natal, mas, devido à cerração, não divisaram o campo de pouso de Parnamirim, e foram aterrissar numa praia de Touros. Em nossa capital foram recepcionados festivamente. Banquete na Assembleia Legislativa, oferecido pelo Presidente do Estado (Governador), Juvenal Lamartine, discursos, brindes… A revista “Cigarra” apresenta um bom registro dos memoráveis fatos, inclusive com fotografias. Sob o título “A Águia Latina” começa nota nos seguintes termos:

“O avião que em uma tarde brumosa de julho passado singrou, numa expressiva trajetória de aço e alumínio, o céu potiguar, trazendo em suas asas gloriosas a afirmação mais robusta da vitória da latinidade, foi bem uma demonstração segura de que a Itália, a pátria mater dos guerrilheiros de Albalonga, ansiava por beijar os ares patrícios em uma caricia longínqua de fraternidade”. (!!) (“Cigarra”, nº 1, Natal, novembro de 1928).

Câmara Cascudo em seu livro “No Caminho do Avião… – Notas de Reportagem Aérea (1922-1933)”, ressalta a boa acolhida que Ferrarin e Del Prete mereceram:

“Os únicos a quem Natal concedeu oficialmente as honras de filhos, os dois italianos são inesquecíveis pela cordialidade fidalga, a palavra pronta, aproximação fácil e generosa.

“Os dias de Natal foram muitos e puseram os aviadores na vida pacata da província” (…) (“No Caminho do Avião…” Natal: EDUFRN- Editora da UFRN, 2007).

Dois anos depois, Benito Mussolini, chefe do Governo Italiano, mandou de presente aos natalenses a coluna comemorativa. Entregou-ao General Italo Balbo, Ministro da Aviação italiano, que aqui chegou em novo raid, desta feita espetacular: nada menos de quatro esquadrilhas de hidroaviões sob o seu comando.

Em cerimônia na esplanada do Cais do Porto, após missa campal, em ação de graças, às 7:30 horas do dia 8 de janeiro de 1931, procedeu-se à inauguração da coluna, tornada monumento, em cujo pedestal afixou-se epígrafe, em italiano, da lavra de Nello Quilici:

PORTATA IN VN BALZO

SOPRA ALI VELOCI

OLTRE OGNI TENTATA DISTANZA

DA

CARLO DEL PRETE

E ARTURO FERRARIN

ITALIA QVI GIVNSE

IL V LVGLIO MCMXXVIII.

L´OCEANO

NON PIV DIVIDE MA VNISCE

LE GENTI LATINE

D´ ITALIA E BRASILE*

(De fotografia publicada na revista “O Cruzeiro”, Rio de Janeiro,  17-01-1931)

Tradução de Paulo Viveiros, ob. cit.:

“Trazida de um só lance sobre asas velozes, além de toda a distância tentada, por Carlo Del Prete e Arturo Ferrarin, a Itália aqui chegou a 5 de julho de 1928. O oceano não mais divide e sim une as gentes latinas do Velho e Novo Mundo”

Noutra face do pedestal, uma placa referia-se ao feito das esquadrilhas italianas.

O bispo diocesano, D. Marcolino Dantas, deu a benção à coluna, seguindo-se os discursos de Italo Balbo e do Prefeito de Natal, em agradecimento.

Note-se que as referidas inscrições, constantes no pedestal do monumento, foram destruídas por uns vândalos, durante a Revolta Comunista de 1935.

Nenhum outro monumento natalense “perambulou” tanto como esta coluna. Da Esplanada do Cais do Porto foi removida para a Praça João Tibúrcio, na Cidade Alta, e de lá, após alguns anos, para a Praça Carlos Gomes, no Baldo, local inadequado, até que, finalmente, foi colocada na área ajardinada em frente ao Instituto Histórico e Geográfico, pouso definitivo, ao que parece.

*Na versão divulgada por Paulo Viveiros consta il figli de Roma del Vecchio e del Nuovo Mondo ao invés de le gente latine d´Itália e Brasile.

Manoel Onofre Jr.

Manoel Onofre Jr.

Desembargador aposentado, pesquisador e escritor. Autor de “Chão dos Simples”, “Ficcionistas Potiguares”, “Contistas Potiguares” e outros livros. Ocupa a cadeira nº 5 da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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