Os 15 melhores filmes de terror disponíveis na Netflix

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As expectativas raramente são benéficas quando se trata de cinema. Há sempre que se deixar levar por uma obra para que ela tenha a oportunidade de provar seu valor. Preconceber julgamentos antes de ter contato real com o objeto pode ser um gesto que venha a desmerecer ou enaltecer o que, a partir de uma visão neutra, não passaria de merecedor de opiniões medianas, mornas.

O cinema de gênero vem exatamente ao encontro das expectativas, abraçando-as com carinho. Isso porque o funcionamento interno de um filme que venha a se encaixar nessa definição é uma leitura específica do seu gênero. Mantém-se uma estrutura narrativa base, reafirma-se convenções tradicionais e, ao seu modo, cada filme fica livre justamente para subverter o que é preestabelecido para si: eis o surgimento das quebras de expectativas.

Tais filmes criam suas próprias galáxias, mas sempre dentro de um universo corajoso, este que enfrenta as expectativas. E, mesmo que possam expandir esse universo ao subverter convenções e gestos tradicionais, jamais uma produção de gênero criará o seu próprio cosmo. Um filme de gênero real — raiz — está muito mais preocupado em fazer jus ao seu universo do que posar com alguma arrogância e se dizer mais do que é.

Filmes de terror encaixam-se exatamente em um universo próprio, consolidado e, ao longo dos últimos anos, tais filmes vêm recobrando espaço com competência absoluta. São, enfim, filmes que fazem jus ao pertencimento desse gênero que formam a lista a seguir, sejam filmes de um possível vanguardismo (para o hoje ou para a sua época) ou aqueles que fazem uma abordagem sólida da tradição.

Lembrando que nenhuma lista é taxativa. Não existe verdade absoluta quando se trata de cinema. Listas fazem o papel de indicação e não devem ser levadas como algo exato.

Seguem os escolhidos:

15. Cemitério Maldito

https://www.youtube.com/watch?v=X55lw__g-Y4&feature=emb_logo

O clássico cult (ou quase isso) baseado em um livro de Stephen King — e roteirizado pelo próprio — acompanha um pai enlutado que, após uma tragédia, descobre um antigo cemitério atrás de sua casa com o poder de ressuscitar os mortos.

O filme é tido por muitos como bizarro, para outros até um tanto tosco, mas a direção de Mary Lambert, que vinha de videoclipes de Janet Jackson, Madonna, Rod Stewart, Sting e outros, é envolvente a ponto de conseguir uma suspensão de realidade muito genuína. Com isso, até mesmo risadas involuntárias podem se tornar aliadas de um filme que é a cara dos anos 1980.

14. Maggie: A Transformação

https://www.youtube.com/watch?v=KaRskZiuBqw&feature=emb_logo

Filmes de zumbis podem ser frenéticos, focados na ação e nas performances dos atos. Maggie: A Transformação, por outro lado, é quase que inteiramente voltado para a relação da personagem-título (interpretada por Abigail Breslin) e seu pai. Ele, vivido por ninguém menos que Arnold Schwarnegger, é o reflexo de um amor inquebrável. Isso porque, no filme, Maggie é infectada por um surto de uma doença que lentamente transforma os infectados em zumbis e, durante a transformação da menina, ele permanece ao seu lado.

Pode ser um filme bem interessante para ver Schwarzenegger em um papel mais dramático do que de costume.

13. Cam

A premissa de Cam é bem interessante: Alice (Madeline Brewer), uma camgirl ambiciosa, acorda um dia para descobrir que foi substituída por uma réplica exata de si mesma.

Mas o desenvolvimento fica ainda mais instigante porque o diretor estreante Daniel Goldhaber começa a fazer, possivelmente, o próprio público duvidar de tudo.

A agonia, a esse ponto, é instaurada e o filme passa de um suspense meramente climático para momentos fisicamente intensos. É um filme diferente que vale a pena uma entrega.

12. It: A Coisa

Mais um baseado em livro de Stephen King, It: A Coisa talvez seja o maior blockbuster de nossa lista. Muitas das cenas podem ser inegavelmente angustiantes e, no terceiro ato, são até comoventes. Nessa terceira parte, o misto de terror visual e ação é algo muito bem arquitetado pela direção de Andy Muschietti (de Mama).

Além disso, os efeitos visuais são bem impressionantes, especialmente em relação ao antecessor It – Uma Obra Prima do Medo (de 1990), enquanto Pennywise (Bill Skarsgård) libera todos os seus poderes sobre o grupo de jovens, bem jovens (o clichê bem utilizado na matéria-prima de King).

A história acontece no verão de 1989, quando um grupo intimidado se reúne para destruir um monstro que muda de forma de acordo com seus medos. Tudo em uma pequena cidade (mais um dos clichês bem fundamentados por King).

11. Verônica – Jogo Sobrenatural

Verônica é um terror carregado de suspense que sabe muito bem onde está pisando. Ao contrário de investir em quebras de expectativas, o corroteirista e diretor Paco Plaza (da trilogia iniciada por [REC] — fica a dica), doa-se completamente à construção delas.

Há, sem dúvidas, subversões de gênero, mas o filme está mais disposto a construir um horror crescente, sem descanso, típico do cinema espanhol — algo como faz o ótimo Um Contratempo (indicação fora do gênero do terror).

O trabalho cuidadoso e consciente de Plaza edifica bases sólidas para o filme de uma forma única: é um terror, de fato, que traz o sempre revisitado tema da possessão demoníaca, mas é claramente realizado com muito carinho e naturalidade.

Pode ser perceptível que, nem tão em segundo plano, Verônica é sobre os “monstros” que despertam durante a adolescência.

10. Ouija: O Jogos dos Espíritos

Um grupo de amigos deve enfrentar seus medos mais terríveis ao despertar os poderes das trevas de um antigo tabuleiro espiritual. Do grupo de jovens ao enfrentamento, Ouija: O Jogo dos Espíritos tem elementos clássicos e tão repetidos que poderia ser visto como um grande clichê. Acontece que clichês nunca são os problemas, a questão é a utilização deles, o saber utilizar as ferramentas sempre está acima de suas intenções soltas.

O filme é mais um da lista dirigido por um estreante, Stiles White, e ele sabe bem brincar com cada jump scare, cada morte e cada situação. É um filme para ver com bons olhos.

9. Jogo Perigoso

Baseado em obra de Stephen King e premiado em festivais de terror, especialmente pela atuação de Carla Gugino, esse filme dirigido por Mike Flanagan (como outras duas obras da lista) acompanha Jessie e sua tentativa de apimentar seu casamento em uma casa remota (olha uma convenção). Inesperadamente, seu marido morre e ela, algemada ao estrado da cama, inicia uma luta para sobreviver.

A impressão mais forte de Jogo Perigoso pode ser a de que ele (o filme em si) reforça uma metáfora sobre o quanto é assustador estar em um mundo no qual perder qualquer sentido é motivo suficiente para se instalar o medo.

Sendo as protagonistas de ambos os filmes mulheres, Flanagan demonstra empatia ao entender que o terror é um gênero de enorme poder metafórico, revelando o pavor da submissão – algo que, infelizmente, é recorrente em meios sociais devido ao machismo.

8. Lenda Urbana

No final dos anos 1990, o terror pop dos Estados Unidos foi renovado especialmente com o lançamento de Pânico (em 1996) por Wes Craven. Na sequência, vieram outros filmes surfando na mesma onda: Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado (de 1997) e Lenda Urbana (de 1998) foram dois deles. Além de Olhos Famintos (de 2001), por exemplo.

Todos podem ser considerados filmes interessantes, por mais que nem todos tenham o frescor do trabalho de Craven. Lenda Urbana, entre eles, talvez seja o mais diferente, com um estudante universitário suspeitando que uma série de mortes bizarras estão relacionadas a certas lendas urbanas.

O envolvimento dessas lendas na história é um mote bem bacana e que, de algum modo, cede uma pitada de originalidade para o filme ser destacado.

7. Kadaver

Na boa leva dos filmes de terror de 2020, Kadaver figura entre um dos europeus mais assistidos. Sua história se passa em um período de fome após um desastre nuclear, quando uma família de três pessoas participa de um evento beneficente em um hotel… e tudo sofre uma reviravolta quando as pessoas começam a desaparecer.

Por mais que Kadaver tenha tanto a dizer nas entrelinhas, existe uma força estética no filme que, para funcionar, não precisa dessas relações. As escolhas da direção de Jarand Herdal (que dirigiu o curta-metragem Harry Potter and Grindelwald’s Demise — de 2012) são muito bem definidas.

É um filme que transforma a realidade em fantasia e esta fantasia em realidade. Utilizando-se do cinema e, internamente, do teatro, Herdal deixa que as máscaras (ou as carapuças) caibam em quem assim se sentir.

Enquanto isso, pode ficar bem transparente que basta tirarmos o que nos define como plateia para que possamos ser protagonistas de nossas próprias vidas. Por mais que agir dessa forma venha a ser um terror, talvez seja o jeito de, aos poucos, mostrarmos ao topo da pirâmide que não somos tão manipuláveis quanto pensam.

6. O Hospedeiro

Além de ter a direção de Bong Joon Ho (de Parasita, 2019), O Hospedeiro já carrega tudo o que o diretor sul-coreano exponenciaria no filme que fez história no Oscar 2020: luta de classes, debates sociais, fusão de gêneros e um roteiro (coescrito pelo próprio Joon Ho) que progride com uma elegância enorme.

É interessante perceber como o público americano e a própria crítica receberam o filme e, ao mesmo tempo, levar em conta que se trata de uma obra sul-coreana — cultura diferente, formas de ver o mundo diferentes, jeitos de agir diferentes e até humor diferente.

Assim sendo, pode parecer que o filme desperdiça alguns momentos dramáticos na construção de alívios cômicos, mas a questão é que tudo vai se emaranhando e construindo uma enorme bola de sentimentos.

O Hospedeiro, no final das contas, é uma das redefinições do horror no século XXI e já mostra o diretor enorme que é Joon Ho.

5. Hush: A Morte Ouve

A premissa parece simples: Há uma casa localizada em uma floresta. Nessa casa, uma mulher surda-muda está sozinha. A tranquilidade, obviamente, é interrompida. Isso porque um assassino começa a perturbar a pobre moça.

Parece e é simples! E é nessa simplicidade que o diretor Mike Flanagan (o mesmo de Ouija: A Origem do Mal e dos bons O Sono da Morte e O Espelho) aposta, muitas vezes deixando de lado os velhos sustos induzidos pela trilha repentinamente forte e investindo em uma tensão crescente que culmina no excelente terceiro ato. Conseguindo driblar a maioria dos clichês, a tensão é crescente de uma forma que, ao final, faz querer sentir sua própria respiração.

Além de ser um filme curto, seus 81 minutos passam como 20 e conseguem o essencial para um filme do gênero: fazer com que nos importemos com quem está protagonizando a história e torçamos contra quem antagoniza.

Hush: A Morte Ouve não é uma obra-prima. Pode até estar bem longe disso. Mas é uma boa pedida para esse dia mal-assombrado.

4. O Segredo da Cabana

Um dos filmes populares de gênero mais originais e ousados do século. O Segredo da Cabana conta a história de cinco amigos que fazem uma pausa em uma cabana remota, onde conseguem mais do que esperavam… descobrindo a verdade por trás daquele lugar.

A questão mais interessante é a relação do filme com existência dele mesmo. Os personagens de terror fazem escolhas por causa dos requisitos do gênero ou por causa de suas próprias decisões? Se são instrumentos dos criadores (roteiro e direção), até que ponto eles (0s criadores) podem exercer o livre arbítrio dentro do gênero? Isso é bastante ousado e fica mais e mais selvagem à medida que o filme avança, desaguando em um final de mil referências.

3. Invasão Zumbi

Eis um filme que foi, de fato, muito comentado em sua estreia, mas que começou a cair no esquecimento rapidamente. Não por sua qualidade — é o mais premiado dessa lista —, mas talvez por misturar dois universos do cinema de gênero: terror e ação… levando tudo a uma esquisitice quântica.

Invasão Zumbi subverte o subgênero dos zumbis, o próprio terror e constrói e quebra em pedaços caricaturas de filmes de ação. E vai muito além: à medida que os zumbis se multiplicam e uma variedade de pessoas comuns os enfrenta, há uma alusão certeira e uma avaliação sobre a insensibilidade corporativa.

É um filmaço que tem poder de adrenalina e que pode chocar com suas quebras de expectativas.

2. A Bruxa

Alguns dos melhores filmes de terror tornam o medo algo muito próximo de quem os assiste. Robert Eggers causa esse efeito a partir de elementos normalmente confiáveis. Tudo parece dentro de uma normalidade, mas nada está exatamente em seu lugar. Eggers permanece dentro da cabeça dos personagens, examinando-os — algo que voltou a fazer no recente O Farol.

Em A Bruxa (2015), a questão do terror é nítida pela proximidade fervorosa que cada figura dramática tem com Deus e com o Diabo. Um estudo sobre a dualidade e, na falta do bom senso, o mergulho em um final inusitado.

Para quem não está à procura de sustos e sim de atmosfera, deve ser a melhor pedida da lista. De brinde, ainda ganha a companhia de Black Phillip.

1. O Que Ficou Para Trás

Um dos filmes de terror mais bem avaliados dos últimos anos traz não somente sustos genuínos, mas uma atmosfera de medo e apreensão em cada cômodo da casa na qual um casal de refugiados passa a morar. É um olhar aterrorizante sobre a experiência de ser um refugiado e, sem dúvida, uma das melhores estreias na direção de longas-metragens da década (do britânico Remi Weekes).

No filme, como dito, um casal de refugiados parte de uma fuga angustiante do Sudão, devastado pela guerra. Na sequência, a luta continua… mas desta vez é para se ajustar a uma nova vida em uma cidade inglesa que tem um mal escondido sob a superfície.

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Ficam, então, as indicações e o espaço dos comentários para acréscimos e tudo o que desejarem. Sem dúvida, como sempre ao fazer uma lista, foi dolorido, mas tenho certeza que vocês conseguirão complementar e enriquecer tudo o que está aí.

Bons (ou ruins?) filmes para nós!


Este texto foi originalmente publicado no Canaltech

Sihan Felix

Sihan Felix

Sihan Felix é crítico de cinema desde 2008, sendo membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ) e cofundador e integrante da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN). Felix escreve para importantes mídias brasileiras, participa como jurado e palestrante em festivais dentro e fora do país, foi crítico de uma das maiores distribuidoras nacionais de clássicos e é contista. Além disso, quer comer gorgonzola sempre, mas a vida de professor de cinema e música o impede de ter muito contato.

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