15 perguntas para Clauder Arcanjo, que lança livro nesta terça em Natal

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Poeta, escritor, bibliófilo e editor, o cearense, radicado em Mossoró, Clauder Arcanjo, desembarca em Natal, dia 3 de dezembro, terça feira, para lançar, a partir das 17h30, na Academia Norte-rio-grandense de Letras, instituição da qual ele é membro, seu mais novo livro, “Sinos (Campanas)”, Edição da Sarau das Letras em parceria com a Trilce Ediciones (Salamanca -Espanha).

Clauder Arcanjo é natural de Santana do Acaraú (CE) e reside em Mossoró (RN), desde 1986. Graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Ceará (UFC), ficcionista, cronista, poeta e ensaísta. Durante anos foi professor universitário e é um dos idealizadores-produtores do programa Pedagogia da Gestão, na Tv a Cabo Mossoró (TCM), programa voltado ao incentivo às boas ações de gestão, educação e cultura na região Oeste do Estado. Clauder Arcanjo fundou juntamente com o escritor David de Medeiros Leite, a Editora Sarau das Letras, que já publicou mais de 200 livros.

Por alguns anos, Clauder foi cronista semanal do jornal Gazeta do Oeste (Mossoró), e usou durante muito tempo o heterônimo Carlos Meireles (homenagem a Carlos Drummond e Cecília Meireles) para resenhar textos literários, colaborando em sites, revistas e jornais de várias partes do país. Atualmente coordena, no Jornal de Fato, o Espaço Martins de Vasconcelos e escreve para a versão online do jornal O Mossoroense e a revista cultural Kukukaya, dentre outros veículos literários.

Publicou os seguintes livros: “Licânia” (contos), “Lápis nas Veias” (minicontos), “Novenário de Espinhos” (poemas), “Uma Garça no Asfalto” (crônicas), “Pílulas para o Silêncio” (aforismos, edição português-espanhol), “Cambono” (romance), “Separação” (contos), “Mulheres Fantásticas” (contos). E organizou em parceria com David de Medeiros Leite, “Sarau das Letras – Entrevistas com Escritores”; e com Ângela Rodrigues Gurgel e Raimundo Antônio, a coletânea “Café & Poesia”: volume I e Vol. II, em parceria com Kaliane Amorim e David de Medeiros Leite.

Clauder Arcanjo é membro da Academia de Letras do Brasil (ALB), Academia Mossoroense de Letras (AMOL), da Sociedade Brasileira para Estudos do Cangaço (SBEC), do Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP), e de outras instituições culturais e literárias de todo o país.

Em 2017, o escritor recebeu o título de cidadão norte-rio-grandense, que lhe foi concedido pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte.

O escritor ainda tem no prelo “Carlos Meireles: Oficio de Bibliófilo”, ensaios críticos e resenhas de sua autoria, dispersos em revistas e jornais.

Além do lançamento do seu novo livro, Clauder Arcanjo participará de uma série de atividades culturais, na Grande Natal, dentro do seu oficio de militante e ativista cultural.

A seguir, alguns trechos da entrevista, que nos concedeu, para o livro “Impressões Digitais – Escritores Potiguares Contemporâneos” v. 1, primeiro trabalho de uma série de entrevistas que fizemos com mais de cem escritores potiguares.

ENTREVISTA – CLAUDER ARCANJO

1 – Quais foram suas primeiras leituras literárias?

No começo, tão só as leituras paradidáticas. Algumas, enfadonhas e fora de época, e de qualquer propósito. Outras, nem tanto. No caminho, graças a Deus, a mão orientadora do mestre Galvino. Ele lia para nós, seus alunos, com prazer e paixão. Nas férias, catando novidades na biblioteca do grupo escolar, a descoberta de Jorge Amado, José Lins do Rego, e tantos outros.

2 – Quando e porque você veio residir em solo potiguar?

Sou engenheiro de petróleo, ao concluir o curso de formação, em Salvador, Bahia, optei por trabalhar em chão potiguar. No início, no vale do Açu; pouco depois, em Mossoró, onde resido até hoje.

3 – Clauder, qual foi a impressão que você teve ao chegar ao RN em relação à nossa literatura? Você já almejava tornar-se escritor?

Quando aqui cheguei, lá pelos idos de 1986, era tão somente um aprendiz de leitor. Confesso que, da literatura do Rio Grande do Norte, quase nada sabia. Foi pelos jornais, no entanto, que encontrei (e me alumbrei com) a prosa de Dorian Jorge Freire. Com o passar dos anos, curioso, meti-me pelos desvãos da poesia e da crônica potiguares. Não parei mais.

4 – Qual a sua área de formação? A sua literatura tem algum tipo de influência da sua profissão, ou vice-versa?

Do engenheiro, no escritor, ficou, acho eu, a disciplina e algum sentido de proporção, não mais. Do poeta e ficcionista, no engenheiro e gerente, um melhor entendimento dos dramas e tragédias humanas. O engenheiro ganhou mais, concorda?

5 – Em 2005, você funda a editora Sarau das Letras, relate-nos um pouco dessa ideia e do objetivo da Sarau das Letras.

A Sarau é coisa de quem adora livros. Melhor, de malucos por livros. David Leite e eu, cansado de vermos os novos autores publicando edições descuidadas, resolvemos ousar, criando um novo selo.

6 – Em 2007, você começa oficialmente com o livro de contos, Licânia. Relate-nos um pouco dessa sua estreia, e fale-nos desse seu primeiro trabalho. Como foi a concepção do seu primeiro livro? O que queria falar, como e para quem queria falar?

Licânia reuniu não os meus primeiros contos, mas, sim, aqueles que eu julgava mais maduros, e melhores concebidos. Li-o, reli-o, treli-o, rabisquei-o… quase à exaustão. Alguns amigos, em especial os mestres Manoel Onofre Júnior, Sânzio de Azevedo, David Leite, Marcos Ferreira, José Nicodemos, com suas avaliações e sugestões, fizeram-no melhor. Não tive, até hoje, coragem de relê-lo, na íntegra, após ter sido publicado; não por rejeitá-lo, nunca, mas com receio de querer revisá-lo, remendá-lo… Enfim, recomeçá-lo, reescrevê-lo. Tudo de novo.

A concepção de cada conto foi uma catarse, um (re)encontro com os meus espectros, com os guardados da minha província. A ficção é algo que nos consome e nos encanta. Conceber um conto é mister sobremaneira difícil, quem lê um Machado de Assis, um Tchekhov, um Moreira Campos, um Borges, um Miguel Torga… bem sabe a que estou me referindo.

7 – Você disse certa vez que: “lançar um livro é uma responsabilidade tão grande quanto colocar no mundo um filho”. Pra você escrever é uma tarefa que exige tempo e dedicação? Depois que o livro é publicado, o escritor ainda tem responsabilidade por ele?

Tempo, dedicação, seriedade e muito, muitíssimo respeito ao leitor. Tenho ojeriza aos que concebem sem humildade, sem submeter os seus escritos à quarentena da gaveta. Explico: guarde seus textos numa gaveta bem funda, deixe-os escondidos dos seus olhos por um longo período de tempo; depois, com o olhar crítico, revisite-os: limando-os, polindo-os, e, em especial, avaliando se resistiram ao julgamento do tempo. Uma espécie de vacina de gaveta. Depois de publicado, babau, o livro já não é mais seu, amigo. Parafraseando o poeta Mario Quintana, um erro em livro é um erro eterno.

8 – Lápis nas veias (minicontos) foi sua segunda obra, lançada em 2009. Você tem preferência por essa vertente literária? Por que contos? E nesse livro específico, porque minicontos?

Minha preferência? Não saberia responder. Às vezes, quero me expressar em contos maiores, em outros casos, motivo-me para criar algo mais minimalista. Apenas uma exigência: a busca utópica pelo sublime e belo. Vã, mas gostosíssima, ilusão. Lápis nas veias traz um ensaio fotográfico de Pacífico Medeiros, dentro de uma ousada diagramação do Túlio Ratto, que salva o livro.

9 – Como acontece o seu processo de criação?

Escrevo e leio todo santo dia. Quanto mais leio, mais me critico e me motivo. Não me vejo sem a literatura. Cato assunto e mote em todo canto e lugar, passo os dias com as antenas ligadas: uma palavra, uma situação, uma lembrança… tudo vira motivo para criar. Nem tudo presta, mas confio mais na transpiração do que na inspiração.

10 – Clauder Arcanjo também é bibliófilo. Como nasceu essa vontade de colecionar livros? Com quantos volumes se encontra a sua biblioteca hoje?

O bibliófilo nasceu primeiro. Depois, numa gravidez tubária, o escrevinhador. Como os livros nascem dos livros, tenho fé que, um dia, me farei melhor escritor (risos…). Minha biblioteca é o meu chamego maior: nela, abrigo doze mil paixões. Haja coração!

11 – E o Pedagogia da Gestão apresentado por você, João Maria e Dinoá, como nasceu a ideia e de que temas trata o programa?

O Pedagogia da Gestão é um programa semanal que realizamos na TV Cabo Mossoró (TCM), e que se assenta no tripé: gestão, educação e cultura. Decidimos criar o Pedagogia para dar vez e voz aos novos talentos.

12 – O que você lê na atualidade? De literatura brasileira e local?

Ando, cada vez mais, relendo mais do que lendo. Nos últimos meses, vários livros de Machado de Assis, de Graciliano Ramos e de Lima Barreto. Da literatura local: o contista Newton Navarro, o poeta Paulo de Tarso Correia de Melo, o memorialista Manoel Onofre Júnior, os cronistas David Leite, Francisco Rodrigues da Costa (a quem nutro um carinho todo especial) e François Silvestre. Este, sem pestanejar, um artífice da palavra.

13 – Se fosse listar os grandes autores da sua vida, quem seriam eles e por quê?

São os que me espantam, os que me alumbram, os que me fazem sentir menor, como escritor. São todos aqueles que, quando os leio, cato sempre pepitas novas na mina das suas criações. Alguns até já os mencionei: Shakespeare, Cervantes, Machado de Assis, Miguel Torga, Graciliano Ramos, Clarice Lispector, Italo Calvino, Tchekhov, Dorian Jorge Freire, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade… Ficarei por aqui. Toda lista é falha, pois sempre incompleta.

14 – Quais os seus planos futuros com a literatura?

Escrever e ler. Ler e escrever. Ler (e reler) cada vez mais os clássicos, e escrever com fúria, devoção e loucura.

15 – Para Clauder Arcanjo o que significa escrever?

Não posso fugir do lugar comum: escrever é uma forma de manter-me vivo.


Ilustração: Miguel Elias

Thiago Gonzaga

Thiago Gonzaga

Pesquisador da literatura potiguar e um amante dos livros.

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1 Comment

  • Raí Lopes

    Clauder Arcanjo é daquelas figuras que nos ensinam os caminhos das pedras. Estar, e ser, amigo de Clauder é, sem sombra de dúvida, mergulhar nos mistérios das mais variedades obras de ficções. O seu gosto e conhecimento pela boa literatura, faz-lhe um cidadão universal nessa área. A sua obra é vasta, heterogênea, plural – autenticando a versatilidade de sua escrita e pensar emocional.

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