por Marcius Cortez
São 60 anos de crônicas, 60 anos de linhas diárias de um coração bom que observa o sentimento do mundo. Muito sol correu por seu quengo, muito gás ele injetou nas pernas para que elas peregrinassem por terras reais e por paraísos imaginários. As ruas por onde anda, os livros que lê, as conversas e a correspondência que mantém com os amigos que são muitos, a academia, as chuvas, as festas, a cova da onça na Ribeira (que pertencia a meu avô, Oscar Rubens de Paula), os jornais de Portugal, o radinho de pilha, as chuvas, o dia a dia, a culinária, o futebol, a política e a literatura, principalmente, a literatura, povoam sua escrita.
Ele não é um homem grande, tem gente que sustenta que ele não é nenhum Leonard DiCaprio, embora, já ouvi moça bonita falar que o “danado tem o seu io-iô-ia-iá”. Suas mãos são mãos de quem sabe escrever, de quem conhece os segredos da tristeza e da alegria. Esse homem vê Natal, vê o mundo, vê você. Ele é mais do que a nossa memória, é a bacia das almas que reflete o nosso rosto através do tempo.
Esse homem que nos acompanha há 60 anos é dono da gaveta do tempo. Certamente, no forno do seu ser pulsa um olhar inquieto que faz da sua narrativa uma narrativa permanente. Aprecio sua fúria quando lida com os preconceitos e a hipocrisia. (A Ditadura queria vê-lo pendurado num poste). Aprecio seu desprezo pela palavra final pois só os chatos querem ter a palavra final.
Há um traço na sua personalidade que me lembra uma história que João Alexandre Barbosa gostava de contar. O professor João Alexandre dizia que João Cabral de Melo Neto quando cônsul da Embaixada do Brasil no Equador, pedia para o pessoal da recepção perguntar de onde era o brasileiro que lá aparecia e que manifestava vontade de conhecer o escritor. Se o sujeito falasse que era do Recife, a recepcionista tinha ordens para agendar uma entrevista. Mas se o viajante falasse que era do Recife e que era poeta, João Cabral atendia na hora.
Faça o teste: experimente chegar no local de trabalho desse nosso velho amigo e se anuncie como escritor. Te garanto que em menos de cinco minutos vai ter um cara de barbas e cabelos grisalhos com os dois braços escancarados vindo em sua direção, murmurando um simpático “que é que há, rapaz”. É sério, esse homem é o pai, o Mecenas de pelo menos cinco gerações de escritores potiguares. Para mim, isso é o principal.
O parceiro do Mestre Gaspar da turma do Cova da Onça é ícone, para falar a palavra certa. Quem é ele? Como se chama essa valorosa pessoa?????? Tá bom, vou dizer da minha maneira: corra até a banca mais próxima, compre uma “Tribuna” e abra na página 2. Ali você encontrará reincidentes indagações sobre a criação artística misturadas a uma dose de esperança de que é possível construir um mundo onde os homens façam mais música e dediquem mais tempo às emoções.
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