Um dos principais grupos folclóricos do RN, Chegança recebe visita da FJA

Chegança de Barra de Cunhau

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O diretor geral da Fundação José Augusto, Crispiniano Neto se reuniu com integrantes do grupo Chegança de Barra do Cunhaú, em Canguaretama neste último domingo.

Durante o encontro, que contou com a presença do pesquisador Severino Vicente, o gestor levantou as principais necessidades do grupo, beneficiado pelo Registro do Patrimônio Vivo (RPV), como transporte, incentivos, materiais, cursos de artes e inscrições em editais, além da situação da sede.

Esse grupo de Chegança, assim como o Fandango também de Canguaretama e ainda o Caboclinhos de Ceará-Mirim, sempre foram muito enaltecidos pelo folclorista Deífilo Gurgel como os mais originais do Brasil.

Faz uma década escrevi esse texto abaixo para o Diário de Natal. Visitei o grupo, acompanhado de Deífilo e também de Severino Vicente. E já naquela época a Chegança carecia de incentivos. Confiram:

Lei do Patrimônio Vivo contempla a Chegança de Barra de Cunhaú

Batalhas navais entre mouros e cristãos travadas no início do milênio passado ainda são encenadas no Rio Grande do Norte. A época das Cruzadas originadas na Península Ibérica é revivida em canto e enredo. E não provém da recriação pontual baseada em pesquisas históricas de algum grupo teatral ou mesmo da voz aguda da maior romanceira do Brasil, a potiguar Dona Militana Salustino. Vem da Chegança – auto natalino; manifestação espontânea repassada entre gerações durante mais de mil anos até estes dias contemporâneos. O grupo reside hoje em Barra do Cunhaú, município de Canguaretama.

A Chegança resiste ao tempo e ao descaso como o mais genuíno do Brasil e o segundo grupo contemplado pelo benefício da bolsa vitalícia concedida pela Lei do Patrimônio Vivo. A Chegança de Barra de Cunhaú é liderada há 30 anos pelo pescador Waldemir Marques dos Santos, 73 anos.

Ao contrário do Fandango de Canguaretama, a Chegança foi originada fora do município. Foi o tio de mestre Waldemir, João Marques quem trouxe de Natal. João também era pescador. Por coincidência morava na Rua da Chegança, no bairro das Rocas. Foi lá onde recebeu visita ilustre de um tal folclorista e um dos expoentes da arte moderna brasileira.

MÁRIO ANDRADE CONHECE A CHEGANÇA

A visita de Mário de Andrade ao Rio Grande do Norte, nos idos de 1928, foi muito além do famoso encontro com o coquista Chico Antônio. O paulista também visitou grupos folclóricos do Estado. E um deles foi a Chegança comandada por João Marques, nas Rocas.

Foi Mário de Andrade quem afirmou: a Chegança nada tem, a rigor, de caráter nacional. Como afirma o presidente da Comissão Estadual de Folclore, Severino Vicente, o auto chegou em formas portuguesas e incorporaram características particulares que a diferenciaram de outros autos marítimos. A Chegança simula lutas entre mouros e cristãos pela posse da Península Ibérica. É uma versão brasileira, em especial, nordestina, originada das mouriscadas da Península Ibérica e Danças Mouriscas da Europa.

“É quase todo cantado e bailado. Em rápidos intervalos de uma jornada para outra declamam e encenam uma luta entre as partes: uma representando os cristãos e outra os mouros infiéis. O acompanhamento é feito com instrumentos de percussão. Tarol, Caixa e bombo”, completa Severino Vicente.

A Chegança já foi das manifestações indispensáveis às comemorações do ciclo natalino. Usam uma barca e vestem fardas da Marinha Mercante brasileira. É um auto dramatizado. O enredo é ordenado em seqüência de cantigas náuticas de diversas épocas e origens. Algumas, de origem portuguesa. Retratam duelos de espada obrigando os infiéis a se renderem e invocarem o nome da Virgem Maria. Os figurantes recebem patentes e postos, entre os quais se destaca o Ração ou Despenseiro, dois Gajeiros, o Embaixador e o Rei Mouro. Iniciam o espetáculo entoando várias marchas, sendo esta uma das mais tradicionais.

A Chegança carece de incentivos. Falta indumentária e, principalmente, interesse dos membros na continuidade do folguedo. Dos 40 componentes necessários à formação do auto, restam 25. “Faz mais de seis meses estamos parados. Tem quem queira brincar, outros desistiram”, lamentou mestre Waldermir durante visita de Severino Vicente e do folclorista Deífilo Gurgel, acompanhados pelo Diário de Natal, semana passada.

Deífilo Gurgel sugeriu ao mestre encurtar as três horas de apresentação para tornar a encenação mais atrativa aos turistas e mais viável em eventos. “Quem quiser escutar eu tenho tudo gravado, devidamente registrado”, argumenta o folclorista.

Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

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1 Comment

  • José Nunes Filho

    Muito especial esta matéria.

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