Croniketa da Burakera #28, por Ruben G Nunes
Meus campanhas de copa-y-pasión! Brau!
Aqui de novo na magia de PirangíPraia: Natal/RN: Brasil-Esquina. Aqui no chalé-8 (8 é o infinito-de-pé) da Varandas da Apurn (associação dos professas da UFRN).
Aqui de novo, curtindo essas paradas ambivalentes – felizinfeliz – chapadas no desencanto que vai-vem, de sentimentos travados pelos auês da solidão doméstica. Que não é solidão de deserto. Mas solidão-de-convívio. Solidão a dois. Solidão de sentimentos ressecados. Que, vez em quando, fagulham, fumaçam. Como restos de brasas na chuva fina. Como sonhos sonhando ainda, mas já se esvaindo. Folhas secas d’outono esvoando ao sabor dos ventos do inverno já chegando. Vidas se esvaziando.
Aqui–again-alone… só eu, meus dáimons… meus orixás… meus bugs…
Aqui, ao lado do maior cajueiro do mundo. O cajueiro de Pirangi… essa incrível massa de energia vegetal, que nos envolve com seus galhos histericamente espalhados-enroscados, como ecos de paixões expansas, possíveis-impossíveis, lembrando trilhas de loucuras antigas.
Em frente, esse marzão espuma-rolando suas águas inquietas abraçando a foz do rio Pirangi, na tristebeleza da chuva cinza caindo-molhando a sexta-de-pé-grande.
É isso, m’ermão: chove chuva cinza.
Chove chuva cinza teimosa. A tarde vai se esticando toda escura e molhada. Embaçando o tempo. Nuvenscéumar vão s’enroscando, desde as lonjuras dos horizontes desse agora, até as lonjuras dos agoras antigos, enredados em mim, cá dentro, nesse outonoinverno s’aprochegando na Prainha do Coração.
lembruxas, lembruxas, lembruxas… caindo na chovente chuva cinza…
lembruxas de querências e ausências.
lembruxas revoando sonhos, gaivotas, navios, partidas, rosas, músicas, abreijos…
Como disse, cinza chuva chove, aqui, em PirangíPraia: Natal/RN: Brasil-Esquina. E, indovindo, rallentando, aqui-agora, enxurradas de resaudades cinzas revoam perdidas como gaivotas desgarradas nos céus da alma.
Pra inicio de conversa, manusho, lá longe, lá bem dentro de mim, começo a ouvir um tango-tzigane, pungente-intenso como a chuva cinza… tango-gitano que me faz dançar pelos momentos…
… e cada momento antigo-feliz repica repassa encana, nos tapes das musiquinhas-do-cotovêlo…
… faz-lembrar faz-voar faz-sorrir-chorar faz-esbagaçar os olhos nas profundidades de tudo que foi…
Hora do arrêgo, mano-velho. Hora dos nós-de-nós nunca resolvidos. Hora dos ziriguiduns da alma. Hora das danças nunca dançadas, chefia. Hora das dores-de-cotovêlos e musiquinhas de lascar.
Hora do eterno retorno das saudades bagunçando o coração. Hora do inevitável “eu sei que vou te amar“, hino dos amores desesperados, das solidões infinitas…
… como o destino dos barcos solitários esperando no porto a viagem de volta para o mar das paixões eternas… io resterò solo/come veliero nei porti silenziosi… que nem poetiza o velho-Vinicius-poetinha até em italiano, e, magicamente cantado pelos italianos Ornella e Jovanotti.
Segura a onda, marujo-velho! Que o bicho vai pegar! Pois é chegada a hora de invocar os caboclos-escoceses de Sir JohnnieWalker, o andarilho dos cereais nobres, como dizia meu velho amigo Tom Silveira, empresário e poeta.
No bar da Apurn, de cara pro mar, peço um 8 anos duplo, com aquele raro sabor de madeira velha. Jogo o primeiro gole pros Orixás. Eles começam a balançar. Odara! Recebo carga de BoaEnergia desde a hipófise ao corpo todo. Saravá, mizifio! Xanavá, meu pai!
Lá na praia, no pier do MarinaBadauê, barcas de turismo balançam na chuva cinza e no mar picado.
Celebrando a alegria de viver-e-amar, ciganas começam a dançar “Djobi-Djoba”, num bar qualquer das galáxias perdidas dentro de mim. Brau romi! Brau!
Inevitavelmente, entro em uiskmeditation.
Uísquesorvendo, uísquedivagando… os sentires se deixam esvoar dentre bolhas de sonhos. Envelhar… porravelhar… estou indo embora ou estou voltando? Lá das lonjuras dos tempos ecoa a eterna música do outono-inverno da vida que te invade e sacode. Indo ou voltando…?
Num suspiro profundo a alma desembesta. E vai espichando. Safa da prôa, marujo!.. as pedras da alma e da praia começam a cantar lembruxas e solidões desse outono-inverno único… desse “Concerto d’autunno”… cascaveando o coração…
♫ L’inizio di un concerto
que dice a questo cuor…
l’autunno è ritornato,
l’amore no…♫
Rainer Maria Rilke, poeta austríaco de boa cêpa (1875-1926), assim prosapoetou sobre os encantamentos da solidão a dois:
“Amor são duas solidões protegendo-se uma à outra. É impossível que duas pessoas compartilhem absolutamente tudo entre si. Quando se aceita que, mesmo entre os seres humanos mais próximos continuam a existir distâncias infinitas, pode-se desenvolver uma vida maravilhosa lado a lado.”
Porretinha, nénão? Rilke-velho sabia das coisas de solidão a dois.
Também não é pra menos. O poetinha Rilke aprendeu tudo de “distâncias infinitas”, xavecando Lou-Salomé, mulheraça russa, poetisa, romancista, filosofa, psicanalista, feminista, inteligente, sedutora. De intensa paixão pela vida. Como também intensa paixão pelo amorpaixão.
Que sabia partilhar o intenso xanergismo de sua abençoada xana-infinita, nas distâncias finitas de seus cachos: ela flertou pra valer, ao mesmo tempo e em tempos separados, com Nietzsche, Rée, Wagner, Gillot, Ledebour, Pineles, Andreas (com quem casou), Rilke.
E mais uma penca de outros intelectuais, poetas, artistas. Tudo doido por ela. E, ainda, fascinou Freud, em seu outono de Vida.
Daí, mano-velho, mesmo nas “distâncias finitas ou infinitas”, tenho pra mim que o Amor acaba nunca. Nunquinha mesmo.
Mas pode até se perder nos enroscos do tempo, das distâncias, das esquinas, lares, bares, olhares, shopis, cafofos, feicebuques, mal-entendidos e motéis.
Quer dizer, o Amor pode até se esconder nos trampos das distâncias, saudades, solidões… pode até sofrer apagão… mas os teréns do coração ficam sempre de butuca. E que nem cão farejador o bicho pega, e acaba te achando de novo.
É que o xamêgo amoroso, amigão, mesmo acabado no script, acaba nunca na relação-viva de corpo-alma-cotovêlos. Nem na chuva cinza de outonos, invernos, nostalgias.
O Amor não arreda pé mesmo. Bufa, cavuca, relincha, que nem burromulo emperrado.
Mas não larga o osso, nãosinhô! E mesmo amorosoraivoso… resmungando, xingando… o Amor ainda resonha sonhos, sempre e sempre…
… esbarrou, triscou, chamejou, deslizou luas nos olhares… tutifúx manéx!.. é o eterno retorno, como diz tioNietzsche…
… indo e voltando e indo e voltando e indo e voltando…
… almacoraçãobagosgrêloscotovêlos se garrancham-again, véi…
Daí, o Amor, crava mordida firme no cangote do coração. E fica lá gadunhado, zumbindo, zôio de lado, linguando-de-cabo-a-rabo, uivando-te-xavecando, ainda-sempre-forever. Amor sacaneta. Chapadão. Boladão. Gamadão. Divinão. Como os deuses-uivantes na louquidão dos cios-divinóides.
Fica lá te encanando. Fica lá tempo todo “te adorando pelo avêsso”, como canta Chico Buarque em “Atrás da porta”.
Dai que, nesses enroscos do avêsso do avêsso do avesso das gamações mocosiadas, a coisa pode degringolar, malandro, e toca um bundalêlê-da-porra… – tá sabendo?
O Amor vira Amor Genérico. Vira Amor-lepo-lepo-no-psirico. De baixa-energia.
Difuso-confuso, o Amor, emplaca meia-boca no quesito romance. Mas arranca nota máxima nas transas predatórias. Sádebaixo!
Quero dizer: vira guerra de conquista, charminho-galinha, bala perdida de pegação… vira safadice-aguda, pirracenta, semvergonha, que tudo-vicia: fascínio ternura paixão ciúme sexo lembruxas…
Tempos safados do Amor… mas não esquenta não, mano-velho!
É tudo tática amorista-terrorista de Eros, o deuzinho-pilantra do Amor, pra marcar seu divino território no grito… tipo assim… a nêga é minha e “ninguém tasca”, sambaço carioquês de Marinho da Muda e João Quadrado,1972, cantado pelo Simonal.
Tempos safados, aliás, muito bem sacados pelo nosso mago-cronista XicoSá, no seu mantra do amor-vale-tudo: “todo segredo está na capacidade de safadezas”. Xanavá, XicoSá!
Chove chuva cinza ainda. Uiskmeditando ainda… tô aqui no penúltimo bar, das penúltimas estrelas.
Imaginário imagensvagando cenas de ontem-hoje-tomorrow… e dançando o “último tango em Paris”, de Gato Barbieri, aqui em PirangíPraia, por entre sombras, acasos, ilusões, e paixões achadas-recolhidas… e perdidas…
Turbilhão entre o maravilhoso, o perigoso e o safadoso, por vezes, o Amor vira vício de sofrer e vício de chamêgo. Vícios piores que o ecstasy das raves. Ou o crack das cracolândias. Vícios de corpo-alma-coração.
Vícios de cotovelos-musicais inchados. E nessas paradas o sacana do Dj-do-cotovelo cai em cima da gente.
Coisa de flechada-perdida de cupido sacaninha que, entrando pelos canos do coração, faz a alma voar viciada e perdida. Perdidona mesmo. Que nem calcinha em lua de mel. Maluqueiras do Amor, negão!
Nesses leros, o que rola mesmo são transas rapidinhas. Que é só chafurdo de make-love–com-vuco-vuco. E t’amosconversados! Pegação-fast que nada têm a ver com o Amor do legítimo.
Mas há também transas ungidas e mugidas pelos mistérios infinitórios do Amor. Uniões carnadas-re-encarnadas, que não são só sexo-de-carne, mas também sexo-d’alma.
Por isso que, essa coisa de Amor pra valer, meu rei, é algo carnespiritual. Entra na corrente da vida e dos karmas que nem hepatite crônica. Sai nunca.
Por isso, amar é tranco-e-grude. É perigoso-maravilhoso. Numa tacada só. Daí, o Amor, se revirar num lanho de saudades crônicas, nos outonosinvernos da vida. Rastros dum quase-morrer-dia-a-dia.
y hay que tener cullones rojos, hermanos mios.
y hay que tener xana-sapuda, hermanas mias.
Assim é que, mesmo virando bagaço, que nem o atual pibinho brasileiro, o Amor parece que nunca acaba pra valer. Fica sempre uma peinha de nada que engancha no coração.
Fica lá, gadunhando–tempo-todo, nas solidões, nos outonos, nas musiquinhas-do-cotovelo. E arranca o couro, mano!
Fica só o coió do Amor. Fica aquela dor fininha. Fica lá. Dor de saudade.
Ai, marujo, se liga que “só saudade fica machucando”, como cantava o potiguar Nazareno e o parceiro Pena Branca, em “Vai doer”, sambinha porretinha que bombava, lá pelos anos 70, com The Jetson’s, Impacto 5, e o Sambão do Orestes, nas noitadas do Piri-Piri, do Psiu, e do Hippie Drive-In.
Lá pros lados da antiga-deserta-estrada de Ponta Negra: Natal/RN: Brasil-Esquina. Que hoje tá cheia de condomínios, comércios, shops, asfaltos, postos de gasolina, impostos. Mas que naquele tempo, anos 60-70, era mato cerrado e silêncios. Aqui e ali umas buates até que aprumadas. Rota das quebradas mocosiadas e danações variadas.
Lá onde dançavam, matrizes, franquias, filiais, doidinhas, vampiris, zumbis, pleibóis, pintas e lobos-da-madrugada. Enfim, as zelites-e-fuleragens das madrugasvadias, nos fascínios de seus amores malandrinhos e entocados.
Que terminavam a noite, quase sempre, dançando-sarrando, tête-à-tête, coisa-na-coisa, ao som de “She made me cry”, dos Pholhas.
E depois da saideira, iam curruchiar-se-enroscar, ali perto, no Motel Tahiti, com jantar grátis, cujo safadoso lema empreendedor era: coma duas e pague uma!
o tempora ! o mores!
o burakera! o xavecagens!
o fornicationis!
O diabo é que, no frigir dos ovos dos outonos-da-vida, já chegando nas geladuras do inverno, o Amor-lepo-lepo, aquele amor da burakera, acaba sim.
Mas acaba mesmo é com a gente, meu camarada! Que nem ressaca. Pilha quase zerada. Ou dá meia-sola! Ou dá xabú! – e tem arrêgo não! Só vai mesmo com gemada ou viagra! Tá ligado?
Agora, Amor-porreta-mesmo, nem nos outonos, nem nos invernaços da vida, acaba nunca, chefia!
De alguma forma as multi-sinfonias do Amor continuam tocando nos hi-fi e aplicativos d’almacoraçãobagosgrêloscotovêlos… xifres-e-zurêias…
… seja como olharlinguaconchêgo, seja como saudade-solidão, seja como cotovêlo-inchado. E até como xifre-de-estimação.
(cês sabem que no xanergismo, xifre com “x” é coisa humana, tem xana na jogada; já com “ch” é dos gramáticos linha dura e dos animais)
Mas, ein!?