Natal jogou fora o que poderia vir a ser uma das suas melhores atrações turísticas. Refiro-me ao Monumento ao Presépio, ideia do poeta Diógenes da Cunha Lima concretizada num projeto de Oscar Niemeyer, mas, estupidamente, desperdiçada.
Por culpa do Poder Público ficou o monumento, construído no bairro de Candelária, inteiramente ao abandono, sem que, em nenhum momento, se soubesse explorar o seu imenso potencial turístico e cultural.
Visto do alto, o conjunto arquitetônico tem a forma de uma estrela, com certeza, a estrela de Belém. Em seu núcleo, ou coisa que o valha, instalou-se um belo painel de autoria de Dorian Gray Caldas, representando a Natividade (depois, depredado, não se sabe onde se encontra), e na “cauda da estrela”, três ou quatro compartimentos envidraçados, certamente destinados a lojinhas de artesanato. De resto, um pátio, onde deveriam ser realizados eventos natalinos. Lamentavelmente, o monumento ao presépio não tinha um presépio (diz-se que por imposição de Niemeyer).
Há poucos dias, andei por lá, assuntando. Fiquei perplexo, indignado com o que vi. Tudo ou quase tudo destruído. Como é que se faz isso com uma obra de Oscar Niemeyer!
No dizer de Darcy Ribeiro, Niemeyer é o único brasileiro a ser lembrado, no mundo todo, daqui a mil anos. Desnecessário ressaltar a autoridade, o peso das palavras do mestre Darcy, expert em brasilidade. Acho que toda pessoa medianamente informada, concordará com o famoso escritor e antropólogo quanto à genialidade de Niemeyer.
Natal deveria orgulhar-se do Monumento ao Presépio, criado pelo “grande artista das linhas curvas”.
Doeu-me refletir sobre a falta de cuidado, o desprezo, pode-se dizer, para com uma obra tão significativa em termos culturais, e tão emblemática à Cidade dos Reis Magos, fundada em 25 de dezembro de 1599.
É preciso que se restaure, com urgência, o Monumento ao Presépio. Ainda é tempo de salvá-lo.
Claro que, após a pretendida restauração, algumas medidas deverão ser tomadas com vistas ao seu pleno funcionamento. Tomo a liberdade de sugerir algumas:
- Reposição do mural de Dorian Gray Caldas, ou, caso este tenha desaparecido, colocação de um outro, com a mesma temática e alta qualidade artística.
- Destinar um dos boxes da “cauda da estrela”, para instalação de um presépio, em caráter permanente, confeccionado pelos nossos artistas da madeira, algo assim como o presépio italiano do Museu de Arte Sacra de São Paulo, ainda que sem a grandiosidade deste.
- Durante o ciclo natalino, promoção de concurso para escolha do melhor presépio, que ficaria exposto, por um ano, em outro boxe.
- Instalar posto de informações turísticas, lojinha de artesanato e pequena livraria especializada em livros e outras publicações sobre Natal/Cidade e Natal/Natividade.
- No pátio em frente ao monumento, armar, durante o ciclo natalino, um palco para apresentação de autos populares alusivos ao Natal (pastoril, boi-calemba, etc.) e outras manifestações artísticas.
- À margem do pátio, instalar barraquinhas com iguarias típicas.
Todo esse complexo de interesse turístico e cultural seria como que um contraponto à Árvore de Natal de Mirassol, sem nenhum prejuízo para os festejos em torno desta.