Ruminâncias & bagalhas

Somerset Maugham

PIX: 007.486.114-01

Colabore com o jornalismo independente

Croniketa da Burakera #40, por Ruben G Nunes

… espicha daqui, espicha dali… um trago longo no chopp espumante… então estaquei naquele trecho do livro “As Três Mulheres de Antibes”, 1936, de Somerset Maugham… e nele mergulhei…

“nunca poderemos conhecer tudo o que esconde a natureza humana. Só se pode ter certeza de uma coisa: ela jamais deixará de reservar-nos uma surpresa”.

Ruminando o texto, agora.

Sormeset Maugham, escritor inglês, famoso em sua época, mas parece que pouco lido hoje. Ele próprio se considerava “um contador de histórias”, “um escritor de viagens” e “escritor de segunda fila”.

o-fio-da-navalha-de-william-somerset-maughamTodavia, muitos de seus romances e contos foram adaptados para o teatro e cinema, como os filmes “Servidão Humana”, 1964 e  “O Fio da Navalha”, 1946.

… peço o terceiro chopp ao garçana faixa, véi, na faixa!… ruminando o texto, ainda… daí baixa poesia, teorias, musicálias, paixonálias, dor-de-cotô, o escambau… acabamos escrevendo-junto-com… e qualquer escriba revive nos nós-de-nós dentro de nós.

A leitura de um texto é sempre um quase-morte-revivência do texto. É que nem picada d’abelha africana. Doi e coça. Um rolé daporra, cumpadi…

Reinterpretamos o texto segundo nossas crenças, querências, gamâncias, idade, valores, sonhos, desejos, ideologias, esperanças.

Como também recauchutamos o texto segundo a crítica diferencial entre nossos conhecimentos e desconhecimentos do tema.

Inevitáveis revivals.

Em suma: fazemos o texto dançar ou musicar ou imagemfluir segundo nossas ruminâncias, imaginâncias e copos de chopp…

O que sabemos? Que certezas há? Que mudanças houve? Quetárolando-mermo? Cumaé? Oncovim? Oncotô? Oncovô? Digaí, manusho! Ei, outro chopp na faixa!!!

As de-formações do fato ao texto, do texto ao leitor, do leitor aos papos e debatessão de-formações inevitáveis.

Têm a ver diretamente com a vivência e formação do escritor e do próprio leitor. E do espírito crítico, calmo ou inquieto, que parece ser próprio da natureza humana.

Os aprofundamentos e ruminâncias sobre um texto quase sempre mistura, reduz, amplia, amarrota, níveis de significações de uma vida corrente exposta pelo escriba. E vida corrente é vida corrente, mano – não é algo fixado ou fixador.

O fluxo corrente da VidaViva não é uma superfície imediata, plana, abstrata. Fluxo é fluxo. Movimento.

Daí que mesmo no imaginário dos escribas, a VidaViva possui tempo, volume, profundidade, sons, curvas, enredos, ziriguiduns e bagalhas.

Todo texto encravilha e ecoa a VidaViva. Daí que todo texto é uma descrição que pulsa e faz pulsar.

Não traz solução nem imediata, nem única, nem chapada. Nem poderia trazer. Seria ingenuidade. Traz soluções ponderadas e desponderadas. Cômicas e escrachadas. Geniais e jumentais. Traz os multireflexos da VidaViva.

O texto apela ao sentir e ao comover? Claro: somos humanos e é a partir dessas sensibilidades que tornamos inteligíveis as coisas da vida real.

No afã da crítica em si, você sobrenadou o texto? Não percebeu sua profundidade reflexiva, mesmo nas trolagens? Não sacou as multiperspectivas que saltam de todo o texto?

Daí que um mesmo texto, lido pela mesma pessoa em várias épocas, abre, ou pode abrir, diferentes resoluções e perspectivas.

Produzidas ou não por nós, a vida real é constituída de diferenças – e não de igualdades. Uma igualdade social só pode ser considerada na diferença social.

Igualdade-na-diferença.

Não perceber isso é viver de ilusões teóricas pensando que são práticas. Porquanto o que faz mover a vida são os interesses de grupos – ou seja: as diferenças.

Por isso mesmo, a mensagem, de qualquer texto, é esticada, re-formada, desconstruída, redesconstruída.

A mensagem é literalmente mascada pelo pensar, pelo imaginar, pela cultura, de cada leitor. Como chicletes.

Daí que todo texto se multiplica num feixe de interpretações diferenciadas. A mesma e única mensagem se torna mensagens diferenciadas. Ou  perspectivas. Por vezes o texto se esbagalha.

Ou seja: a “verdade do texto” ou mensagem, se multiplica numa  conjunção de perspectivas e bagalhas das leituras.

Essa é a estranha realidade de qualquer livro ou texto. Inclusive do Livro da VidaViva.

 

Ruben G Nunes

Ruben G Nunes

Desfilósofo-romancista & croniKero

WhatsApp
Telegram
Facebook
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais lidas da semana