Desde que comecei a escrever, ainda adolescente, sempre tive a ilusão de que o papel me ofereceria as respostas para tudo o que tenho a perguntar, especialmente a mim mesmo. Por isso, escrevia poemas confessionais, carregados de algum lirismo e um bocado de angústia juvenil nos meus primeiros anos de poesia.
Por sorte, nada restou dessa época. Tudo perdido. Boa parte das coisas, perdida de propósito, afinal sempre tive um imenso medo de virar um autor póstumo. Depois de Brás Cubas, todo morto que escreve deve ser deixado em paz.
Durante anos, entendia o processo de escrever como uma maneira de dizer aquilo que a voz não permitia, não alcançava. Escrevia versos rigorosos de pouquíssima qualidade e muita emoção.
Até começar a levar a palavra a sério demais, a entender que ela não dizia só de mim, mas de todos a quem ela alcançava, mesmo que ainda timidamente: os dois ou três leitores, que variavam entre um par de amigos e uma professora.
Eu cometi o pecado desavisado de tornar a palavra uma profissão, um trabalho, ainda que mal me pague e que ela seja inimiga constante dos boletos.
O trabalho com a palavra retira um tanto do prazer de ler poesia, por exemplo, de maneira relaxada, tranquila, apenas por prazer, como cumpre à maioria dos mortais. Ler um poema é se preparar para um trabalho, como vestir a armadura para uma luta já perdida de véspera.
A beleza dos versos alheios é percebida e admirada, porém, também é calculada, medida, escandida e estudada. A linguagem não permite mais acidentes, não aceita mais ser conivente com o que não é bem cuidado, ainda que diga muito.
Em verdade, muitas vezes imagino que preferiria trabalhar com tijolos e enxadas a trabalhar um verso, erguer uma parede ao invés de criá-la.
No fim das contas, estou sempre a me perguntar: que mal fiz eu à palavra?
Ao que ela sempre me responde com um silêncio e um sorriso cínico no canto da boca que inventei para ela.
5 Comments
Muitíssimo grato, meu caro!
Parabéns! Um texto repleto de verdade. Eu me vi em cada palavra.
Muito obrigado, Francisco!
Quanto bem tem Theo feito à palavra!
Muito grato, meu querido!