Livro resgata memória do primeiro artista modernista do RN

ERASMO XAVIER

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Nunca é demais ressaltar a importância de Newton Navarro e Dorian Gray Caldas na História das Artes Plásticas em nosso Estado, até porque foram eles – a bem dizer – os introdutores da arte moderna, realizando em Natal, por volta de 1950, exposições que marcaram época.

Desenho de Erasmo Xavier na capa da revista Cigarra.

No entanto, alguns anos antes de eles surgirem, já um jovem natalense, Erasmo Xavier, surpreendia a província com seus desenhos, do mais apurado teor modernista. Para a revista Cigarra, que circulou, em Natal, de novembro de 1928 a março de 1929, ele criou os desenhos das capas e várias outras ilustrações, todas da melhor qualidade. Luís da Câmara Cascudo saudou-o, em uma acta diurna, com estas palavras:

“Pela inspiração modernista, pelo arrojo das cores, pela disposição das massas, pelo inusitado do conjunto, o trabalho era magistral. Ninguém o superou” (Diário de Natal, 4-5-1948).

Revista da ANRL também reproduziu aquarela de Erasmo Xavier.

No Rio de Janeiro, onde residiu, Erasmo Xavier assinou capas de grandes revistas, e foi cenógrafo de prestígio, entre outras atividades. Apesar do sucesso alcançado na flor da idade, Erasmo Xavier morreu prematuramente, e, por longos anos ficou esquecido, até que, em 1989, a jornalista Rejane Cardoso tirou-o desse injusto olvido, publicando o livro Erasmo Xavier, o elogio do delírio (Natal: Clima Editora), fruto de acurada pesquisa. Não satisfeita com o seu bom trabalho, a autora continuou a esmiuçar a vida e a obra do artista; agora, três décadas depois, reeditou-o, ampliado e revisto, sob novo e mais abrangente título: A arte modernista de Erasmo Xavier (Natal: Verbo Comunicação & Eventos, 2022).

Se a versão anterior já era satisfatória – o que dizer deste livro? Obra definitiva – inclusive do ponto de vista gráfico -, bem à altura do talento e da relevância histórica do biografado.

Que bom seria se outros artistas norte-rio-grandenses, que jazem esquecidos, fossem resgatados, para conhecimento das novas gerações – como aconteceu com Erasmo Xavier.

Cartas a Mário Gerson

Escritor e jornalista, Mario Gerson editou o caderno “Expressão” da extinta Gazeta do Oeste, jornal que ficou na história da imprensa em Mossoró. Autor de vários livros, Mario Gerson pertence à Academia Mossoroense de Letras e outras instituições culturais. Seu nome é referência na vida cultural mossoroense. Durante algum tempo, trocamos cartas, que tratavam quase sempre de literatura. De uma delas, cujo papel já mostra as marcas do Tempo, extraio a seguinte nota:

“Tenho lido bastante (livros), mas talvez não tanto quanto você. Ontem cheguei ao fim de Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, edição da Abril Cultural lançada em bancas de revistas. Confesso que não me empolguei nem um pouco com esse romance, considerado obra-prima da literatura universal. É preciso que a gente seja franco, e não se acanhe em externar a própria opinião, ainda que na contramão, e diante de monstros sagrados – como você fez em relação a Fernando Pessoa (Mensagem).

Dos fundos da minha planície, reconheço a grandeza de Orgulho e Preconceito, a sua importância como obra precursora do romance psicológico moderno, entre outras virtudes. Mas, que temática enfadonha! Aquela história da mãe nervosa e tola, que quer porque quer casar as cinco filhas; os obstáculos que encontra, muitos deles decorrentes das diferenças de classe social, então, reinantes (a velha aristocracia versus a burguesia em ascensão), coisas que, hoje, nos parecem tão bestas”.

Em carta anterior, Mario Gerson, falando sobre suas leituras, disse não haver gostado do livro Mensagem, de Fernando Pessoa. Eu argumentei, na carta que lhe remeti em seguida: “Fernando Pessoa, talvez, quis fazer com Mensagem o mesmo que Camões havia feito com Os Lusíadas: exaltar a legenda de um povo. O seu povo. Concordo que é preciso conhecer um pouco da História de Portugal para entender bem o seu grande poema.

Veja que Mensagem tem versos antológicos, que até já se incorporaram à linguagem geral, citados a torto e a direito. Por exemplo:

“Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.”

O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO?

Responde Clauder Arcanjo, escritor, editor e ativista cultural, membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras, da Academia de Letras do Brasil, Academia Mossoroense de Letras e outras instituições culturais.

– Estou lendo, romance do escritor africano, lusófono, Pepetela.

Manoel Onofre Jr.

Manoel Onofre Jr.

Desembargador aposentado, pesquisador e escritor. Autor de “Chão dos Simples”, “Ficcionistas Potiguares”, “Contistas Potiguares” e outros livros. Ocupa a cadeira nº 5 da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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