Solidão de poeta
A manhã me consome e, aniquilada,
Já em mim não é mais que o esboço
De outra manhã e de outra e o calabouço
Da sempre companhia ali deixada.
O café, o banho, a toalha abandonada
Sobre a cama e os meus livros e o escopo
Dos projetos que foram alvoroço
Em noites insones, para nada…
E depois, os mesmos vãos da casa fria
Se estendem para além da euforia
De outra manhã, e outra mais incerta…
Alguém, no entanto, me avisa,
Com sua mão sobre a pele lisa:
– Não há tanta solidão em ser poeta!