Um cuidadoso trabalho de recuperação da Pinacoteca do Estado está sendo tocado pelo Governo do RN para manter a edificação que há quase um século e meio faz parte da história do Rio Grande do Norte.
Os investimentos de R$ 6,4 milhões são oriundos do projeto Governo Cidadão, via acordo de empréstimo do Banco Mundial, e estão sendo aplicados em obras e equipamentos em parceria com a Secretaria Estadual de Turismo.
A obra foi iniciada em 2018, mas na época atingiu apenas 3% de execução e foi paralisada. Somente em 2019 e 2020 passou a ter avanços significativos – mesmo neste ano de pandemia, quando diversas restrições foram impostas, o serviço chegou ao mês de dezembro com 64,23% de execução.
Arquitetura neoclássica
O prédio é o maior exemplar da arquitetura neoclássica da capital potiguar e por isso requer um trabalho de restauro especializado que demanda um maior tempo de realização. A estimativa do Governo do Estado é que o montante possibilite a finalização da obra em fevereiro de 2021.
“Sabemos da importância que o prédio tem para a história do Rio Grande do Norte e seguimos a orientação da governadora, professora Fátima Bezerra, de priorizar o andamento do serviço para que a população possa desfrutar desse equipamento que contribui para a preservação da cultura potiguar”, destacou o secretário de Gestão de Projetos e Metas, Fernando Mineiro.
R$ 30 milhões em equipamentos culturais
O prédio faz parte de um grupo de nove equipamentos culturais que estão recebendo investimentos que atingem quase R$ 30 milhões.
Além de ser responsável pela gestão do equipamento, a Fundação José Augusto (FJA) atua ao lado do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do RN (IPHAN-RN) na fiscalização das obras com o apoio dos setores de engenharia da Setur e do Governo Cidadão.
Os nove espaços de cultura já reformados ou ainda com obras a serem executadas estão nas regiões Metropolitana de Natal, Seridó e Oeste: Teatro Alberto Maranhão, Escola de Dança do Teatro Alberto Maranhão (EDTAM), Fortaleza dos Reis Magos, Memorial Câmara Cascudo, Biblioteca Câmara Cascudo, Museu Café Filho (Natal), mais os teatros Adjuto Dias (Caicó) e Lauro Monte Filho (Mossoró).
Sobre a Pinacoteca
Inaugurado em 1873, o prédio da Pinacoteca do Estado também é conhecido como Palácio Potengi, por ter sido convertido em sede do Poder Executivo Estadual, em 1902, pelo então governador Alberto Maranhão. Somente em 1995 o local passou a receber o maior acervo de artes visuais do Governo do Estado.
Acervo relevante
Segundo o colecionador de arte e marchand Antônio Marques, que há quase meio século acompanha o mercado artístico do Rio Grande do Norte, a função primordial de uma pinacoteca como esta da Cidade Alta é “abrigar, permanentemente, um acervo de artistas locais que resumam a produção relevante de uma cidade, de um estado”.
Em sua opinião, a Pinacoteca do Estado já reúne “obras em número suficiente que traçam uma panorâmica da pintura no Rio Grande do Norte para que todos conheçam o estado a partir dessa perspectiva. Daí a importância de uma reforma como a que está em curso”.
Dos pintores mais relevantes dos últimos 50 anos, Marques cita Thomé, Newton Navarro e Dorian Gray, todos representados no acervo da Pinacoteca, que possui, ainda, telas de pintores de atuação mais recente como Assis Marinho, Fabio Eduardo e Ojuara, além de quadros de artistas de relevância internacional, como Tarsila do Amaral e Alfredo Volpi.
Julgamento de Frei Miguelinho
Com a finalização da obra e a reabertura do equipamento, potiguares e turistas poderão apreciar obras importantes como “Julgamento de Frei Miguelinho” que retrata a participação do religioso no movimento de 1817 contra o governo da monarquia portuguesa.
A tela que ocupava uma parede inteira do Salão Nobre do prédio foi pintada pelo neoclassicista fluminense Antônio Parreiras, em Paris, e se converteu em uma relevante obra do gênero da pintura histórica, colaborando para a construção da imagem de Frei Miguelinho, figura central do quadro, como mártir republicano.
FOTO: João Maria Alves