Passaredo

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Minhas caminhadas matinais com Snow nos permitem testemunhar alguns hábitos, obras, zelos e trabalhos de pássaros.

Os tetéus, por exemplo, são barulhentos e topetudos. São protetores diligentes de “seu pedaço”, seja de dia ou de noite. O tetéu parece nunca dormir! Na verdade, até que tenta; segundo Cascudo, ele “põe uma patinha no meio da perna e fecha os olhos. A pata escapole e o tetéu acorda”, já soltando seu grito estridente característico. Daí, que é comum ouvir no Nordeste: esse menino parece que não dorme. É igual a um tetéu!

A fêmea do tetéu põe os ovos diretamente no chão. Ah, e ai de quem ouse passar por perto! Principalmente, quando o casal já está com um teteuzinho, que facilmente se camufla no capim. Os tetéus são ousados, valentes: dão voos rasantes ao mesmo tempo em que gritam alto, azucrinando os ouvidos de quem ouse se aproximar.

No Monte Belo, há um lugar preferido onde um casal de caborés – ou corujas buraqueiras – se abriga. Têm esse nome, porque escavam o solo para servir de ninho. São aves silenciosas e, com o resto do corpo imóvel, viram incrivelmente o pescoço para trás, numa rotação perfeita. Contudo, se chegamos mais perto, uma delas grita: ti, ti, ti, ti, ti, ti, ti! E voa até o alto da árvore mais próxima, observando nossa passagem com extrema curiosidade e atenção.

Já as rolinhas columbiformes possuem um andar faceiro e adoram bicar o chão em busca de grãos, num trabalho incessante e obstinado. São sempre muito cismadas e voam assim que nos aproximamos.

Os pardais são abundantes e briguentos. Vez por outra estão engalfinhados em bandos, travando verdadeiras batalhas aéreas!

O bem-te-vi tem plumagem garbosa e canto trissílabo inconfundível, bonito de se ouvir. Geralmente aparece sozinho, sem companhia. Tento imitá-lo: bem-te-vi! Ouve atentamente, meneia a cabeça, querendo identificar o canto falsificado.

Por fim, há o gavião solitário, altivo no voo e preciso em suas investidas sobre as presas. Um dia, escutei um piado que, de repente, emudeceu. Foi quando vi penas caindo do ar. Olhei para o alto. Era o gavião que, numa rapidez incrível, havia capturado um pássaro menor e voara para a copa de um cajueiro. Não deu para saber “quem era a vítima”, subjugada no bico do carrasco. Deu dó, mas continuamos nosso passeio, assistindo ao espetáculo do passaredo no ciclo da vida.

Sandro de Sousa

Sandro de Sousa

Filho de Macau-RN, residente em Natal desde os 5 anos de idade. Licenciado em Letras Português-Inglês (UFRN), Doutor em Letras (UFPB) e advogado.

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