O novo livro do advogado e escritor Emanuel Grilo está em pré-venda. Passaporte Sanitário conta a história de um sujeito comum, que durante a pandemia do Coronavírus passa por um processo gradual de sectarização, a exemplo do que aconteceu com muitos brasileiros. Sem qualidades extraordinárias, o dito cujo culpa a todos por não reconhecerem os méritos que acredita possuir.
Sua frustração se potencializa ao conhecer pessoas que compartilham sentimentos semelhantes aos dele, e creem que seus fracassos pessoais se dão pelo fato de se oporem ao mundo moderno e ao senso comum que, segundo eles, foi arquitetado e introjetado nas mentes dos homens e mulheres “ocidentais” para destruir o conceito de civilização que há nesta parte do globo.
A adesão à religião política, somada às tragédias pessoais, problemas conjugais e traumas familiares, o leva a se opor aos fatos quando estes desmentem suas convicções, fazendo-o a negar dados objetivos da realidade.
O sectarismo de um, no entanto, é confrontado pelo ceticismo avacalhado de outros: “E brasileiro lá consegue ser conservador, Enoque? Conservadorismo é coisa de inglês, meu velho. Coisa de gente certinha. Brasileiro é esculhambado demais pra ser conservador.”
Narrado com acidez e cinismo, a obra diverte, comove e revolta.
Nas histórias de gente comum em meio à tragédia que atingiu o mundo, é possível, apesar dos pesares, enxergar a esperança, ainda que para tanto seja necessária certa ingenuidade.
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Joselito Müller / Emanuel Grilo
O livro, na verdade, tem autoria de Joselito Müller, pseudônimo de Emanuel Grilo. Joselito é um personagem criado para se opor a tudo e a todos, com tiradas sarcásticas espalhadas nas redes sociais e responsável por representar o autor em entrevistas e podcasts.
Emanuel nasceu em 04 de dezembro de 1980 em Belém do Pará, norte do Brasil.
Quando criança, mudou-se com seus pais para a capital do estado da Paraíba, mudando-se sozinho para Natal, estado do Rio Grande do Norte, no ano de 2001, onde vive desde então e trabalha como advogado.
Escreveu para alguns periódicos independentes no Brasil e Estados Unidos, onde ganhou, em 2017, prêmio da Associação Brasileira de Imprensa Internacional.
Em 2018 publicou, de forma independente, o livro de contos intitulado “O Lula tá preso, babaca”.
Em 2019 publicou, pela editora Record, “Tarde demais para pedir bom senso – A nova era segundo Joselito Müller”.
Trecho de Passaporte Sanitário
(…) Somos gente que gosta de estudar e que se empenha pra
resgatar a nossa cultura.
— A cultura? Resgatar a cultura?
— Sim. O que tem isso de errado?
— A cultura popular? Algo do tipo? — perguntou Heralda, sem evidenciar se estava fazendo um chiste.
— A cultura ocidental — respondeu Enoque, estufando discretamente o peitoral em seu corpo arredondado.
— Como é? A cultura ocidental?
— Qual absurdo há nisso? — perguntou Enoque, irritado. — O Brasil é muito maior em extensão e população que a Grécia antiga, por exemplo. É como Suassuna disse lá em “A pedra do reino”: A conquista da América foi tão ou mais epopeica que qualquer história dos gregos antigos. E como somos muito maiores do que a Grécia, aquela “porqueirinha de terra” — fez aspas com as mãos. — Por que é absurdo acreditar que aqui pode surgir um Homero ou um Sócrates?
Enoque já aparentava estar menos irritado quando concluía seu raciocínio, mas voltou a encolerizar-se — chegando até a bater no birô — quando todos começaram a gargalhar.
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CRÉDITO DA FOTO: Canindé Soares