Papai sempre escutou “música de velho”. E música de velho, na minha época de boy (that’s over, baby), era o que chamam hoje de brega ou “música cafona”. Altemar Dutra era dos preferidos, mas Odair José sempre recaía aqui e acolá na vitrola. E embora eu tenha me embrenhado pela pop e pelo rock logo cedo, o brega sempre me chegou como lembrança afetiva e gostosa de se ouvir. E Odair sempre foi meu preferido.
Quando soube de seu show em Natal, de graça, num espaço democrático como o Festival do MST, driblei a falta de tempo e fui conferir. Cheguei no início do show. Me surpreendi com a pouca gente. No dia anterior um mar de gente conferiu o show do Nação Zumbi e Academia de Berlinda. Bom, aproveitei e grudei na grade para assistir tudo bem pertinho. E cantava alto e me sentia criança ouvindo aquele radiozinho na cozinha.
Quando vi minha amiga Carlota Nogueira na área restrita à produção do show, à frente do palco, pedi acesso a Odair para uma entrevista. Logo me veio à mente tantas perguntas, curiosidades e a ideia de uma conversa entre velhos conhecidos. É assim como eu o vejo ou como a maioria enxerga seus ídolos. Após o show lá estava eu no backstage. Odair iria ainda jantar, receber a governadora Fátima e só depois atender convidados.
Duas equipes de TV se posicionaram junto à porta do camarim e lá fui eu também. Quando entramos um assessor informou: são apenas 5 minutos para cada um. Já achei desnecessária essa restrição, mas ninguém reclamou. TVs precisam de depoimentos mais curtos mesmo. Ainda assim, tomaram mais tempo e quando chegou minha vez, o nobre assessor me impôs apenas duas perguntas que me renderem absurdos 2m44seg de gravação. Após as duas e já sob olhar inquisidor, ainda fiz uma terceira pergunta de relance.
Voltei para o palco frustrado e raivoso. Seria só outro assessor mais importante que o artista na minha lista, mas justo com Odair? Pior, saí tão apressado que esqueci a foto pessoal com o ídolo. Decidi voltar lá. Bati à porta e entrei. Odair me viu, sorriu e antes que o assessor estrela me interpelasse, eu disse: “Esqueci a foto. Posso tirar uma com você?”. E entre uma foto e outra, o verdadeiro artista me disse: “Desculpa pelo pressa da entrevista. Às vezes nem é necessário isso”.
Bom, segue abaixo o curtíssimo papo com o rei Odair, um artista à frente de seu tempo, surgido no fim da mágica década de 60 e que arrebatou o país com milhões de cópias vendidas de seus álbuns nas décadas de 70 e primeira metade dos 80. Discos que ajudaram a manter o lucro das mesmas gravadoras dos medalhões da MPB e da tropicália brazuca, que nada vendiam. Época do regime militar brutal que o perseguiu. E nem por isso se calou e ainda quebrou tabus com a “pílula”.
Odair é rei.
Sergio Vilar – São 54 anos de carreira. Você já vivenciou várias fase da música nacional. Em que momento você se encontra agora? O brega, enfim, virou cult?
Odair José – Isso. Em 1969 lancei meu primeiro disco e em 70 fiquei conhecido. E é verdade. São várias fases mesmo. Há fases que você acerta, que você erra. São 37 discos lançados, mais de 400 músicas gravadas. E a fase que vivo hoje, apesar dos meus 75 anos, é uma fase daquele jovem que começou ali na década de 70. Ainda estou muito animado com meu trabalho, de cantar para as pessoas. Ainda é algo prazeroso e que, fisicamente, ainda consigo fazer. Não sei até quando isso vai durar.
Paul McCartney tá aí firme e forte…
Ele tem seis anos a mais. Espero que eu consiga. Não com a qualidade dele, porque é fora de série, mas enquanto eu tiver em boas condições físicas vou estar por aí.
Sobretudo na década de 70 o brega praticamente financiava o lançamento de discos dos medalhões da MPB. Você acha que há um reconhecimento hoje?
Artistas que são classificados como MPB, sempre souberam… O artista, na verdade, com exceção de um ou outro, não tem muito essa divisão de música. Existem várias maneiras de fazer música. Eu prefiro todas as maneiras, mas cada um tem sua preferência, e as músicas que mais vendem discos são aquelas mais simples, mais populares, que vão de encontro ao povo. E a gente, naquela época de gravadoras, quem bancavam os caras eram nós mesmos, os artistas mais populares.
O show de hoje teve uma pegada mais rocker?
Fica mais divertido, ne? É pra ficar mais animado (risos).
3 Comments
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Mesmo curtinha, foi massa a entrevista. Valeu pela teimosia de fã jornalista!
Foi o que deu rs. Valeu, Alex!