Croniketa da Burakera #3, por Ruben G Nunes
Pra entrar no climão bar-garçon-cotovêlo sugiro tomar antes um aperitivo musical dasantigas.
Vamunessa???
Pois então dê um stop. E clic AQUI pra curtir o porretíssimo vídeo da Alcione,
La Marron, com aquele vozeirão de putadivina, arrazando com Bar da Noite, música das
madrugasvadias e dores-de-cotovêlo.
“Garçom, se o telefone bater
E se for pra mim…”
Quero dizer, meus camaradas, que o garçon é uma das entidades pós-metafísicas que
protegem as madrugadas, as buraqueiras e as safadezas do coração destrambelhado.
Seguinte, meu santo: nessa trepidante civilização de bósons, mésons e mil partículas de deuses-uivantes, com quantos megabytes se mede a intensidade de um xifre?
Há um xifre pior? Há um xifre mais manero? Há xifres amigáveis?
Bom, a tecnociência ainda não chegou lá. Nas estruturas últimas das xifrâncias.
Mas o xifre é virose universal, tá ligado? Encostou, pegou. Mas cada um é cada um.
Xifres têm seus segredos, diversidades, mistérios e motéis particulares na tardemansa.
Só sei é que desde que inventaram bares-e-garçons, pra cada xifre há sempre uma
lentamadruga, uma penúltima dose, um último bar e aquele ombro-último do garçon amigo.
[os puristas que esperneiem, mas é xifre-com-x mesmo; xifre-humano daquele que tem
xana nas paradas]
“Garçom, repita pra ela
Que eu sou mais feliz assim…”
Quem, encharcado de uísque-duplex, olhar-perdido, lá pras tantas da vaziamadruga, nunca
deletou no sacrossanto ombro do garçom toda a dramaturgia dos amores-perdidos-e-xifrados?
Quem? Quem? Diga-aí, manusho.
Que mostre o cotovelo sarado, sem dores, nem cicatrizes…
Ah sim, claro, além do ombro amigo do garçon, há também um fundo musical romanticida.
Mesmo que esteja tocando um axé-fulero, o sacaninha do DJ que habita nos cotovelos de todos
nós, fica lá martelando as fossas-musics da cornice aguda.
Vai desde Tim Maia com aquele vozeirão de fim-de-noite cantando Eu gostava tanto de você, passa por
Altemar Dutra no ultimato dos solitários-de-carteirinha: Que queres tu de mim; e ainda, joga pra cima da
gente Matriz e Filial na voz de gafieira do Jamelão.
E o desmantelo corre solto, negão. Não tem orixá que dê jeito. Nem mesmo o dragão de São Jorge
espanta os males dos xifres. Só o garçon-velho-de-guerra é que segura a barra.
“Você sabe bem que é mentira
Mentira noturna de bar…”
Caso o distinto seja desses espíritos eternamente românticos, encharcados de pasión-y-scotch.
Alma-e-coração cheios de sentires, voos sofisticados e pití-gamations.
Ai então o DJ-do-cotovêlo te acerta uma direta no plexo.
Cai de Frank Sinatra, Aznavour, Chaplin, boleraços desesperados, últimos tangos em Paris, e a
fantástica Love will lead you back, com Taylor Dayne.
Ai, velho, é a hora do arrego.
Do eu sei que vou te amar, até em italiano pra sangrar mais…
… “io resterò solo come veliero nei porti silenziosi”…
Chama o garçon, m’ermão!
Hora do explode coração.
Hora do volta já pra mim na voz de deusa-prostituta da Nana Caymmi cantando Contradições.
Roedeira daporra, cumpadi!
Mas você aprende, já na quarta dose, que essa coisa de amor é contradição infinita.
Indovindo, lá dentro da tua placa-mãe.
Coçando o coração. Coruscando-xamegando a alma.
Da quinta dose pra frente, dá um solavanco e baixa o caboclo das causas-quase-perdidas.
Então você começa a zoiar-e-azarar a pernoca cruzada daquela piriguete da mesa em frente.
Ela encara.
Morreu a Rainha, viva a Rainha, m’ermão!
Ora porra! A fila anda-des-anda! Xanavá! Xanavem!
Daí você começa a sacar que na VidaViva gamar e xifrar é só começar.
O resto é cruzamento de moralice das teses acadêmicas com moralice dos dogmas religiosos.
Que não funciona na hora do cotovelo inchado, da solidão-xifrada, e do vamuvê.
A pernoca sorri. Você lembra do mantra dos amores mais-ou-menos-felizes do mago-cronista
XicoSá: “todo segredo está na capacidade de safadezas”.
É isso, chefia, o Xifre humanitário é que nem chopp bem tirado: precisa da espuma sutil da safadeza.
Claro, claro: o amor também é parceria de safados românticos em convalescência do jogo do avesso
do avêsso do avêsso das xifrâncias malcuradas.
“Bar, tristonho sindicato
De sócios da mesma dor…”
Xiiii… a pernoca deu uma descruzada fatal e mostra um infinitésimo do chip-das-deusas…
… e ainda fez uma lua deslizar em mim, naquele olhar-sonho de fêmea-afim.
Terra à vista, marujo! Sonhos à deriva! Atracar e lançar âncora!
Chama o garçon, rápido!
Cadê o zilhão de vagalumes por ai?
Manda tocar As times goes by de Casablanca.
Faz a cara de durão gamado do Humphrey Bogart.
E vamunessa, my boy!
Let The Music Play!… enquanto novos sonhos se engancham nas cochas da Vida…
Garçon!.. chega junto e traz duas doses!…