Olhei para a TV e para o celular durante o “Não Olhe Para Cima”

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Apenas poucos dias do lançamento do alardeado filme “Não Olhe Para Cima” e pouco restou o que escrever. Comentar o negacionismo científico, o maniqueísmo político, a alienação das redes sociais ou a manipulação da comunicação é chover no molhado. Está escancarado na tela. Aliás, tudo é muito evidente e pouco resta de reflexão senão essas urgentes e oportunas pautas contemporâneas. Mas refletir sobre o que já se sabe? Portanto, este parágrafo é um resumo do longa: temáticas necessárias jogadas em um filme caricaturizado.

Difícil criticar um filme tão bem aceito pelo público. E é fácil entender essa empatia. Está no cotidiano de qualquer cidadão a divisão política cega ou a cada vez mais carente interação social física em detrimento às redes sociais. Mas uma análise mais racional (talvez mais técnica) e menos emocional se percebe um roteiro sem amarras e repleto de cenas descartáveis. Passei longas 2h e sei lá mais quantos minutos entre uma sátira pouco engraçada – até pela gravidade da mensagem deixada – e o pieguismo típico das comédias românticas.

Ao mesmo tempo percebi um exagero talvez proposital do diretor Adam Mckay. Algo visto em alguns filmes de Tarantino, como Kill Bill e Pulp Fiction. Seria um exagero satírico provocativo, algo de Lars Von Trier. E aí o longa ganharia outra conotação, embora ainda assim, pouco enxuto. A piada soaria como deboche aos robôs alienados. Então, ficam essas duas possíveis versões.

Há um elenco estelar e esforçado em fazer rir. Mas o enredo dificulta. Traz a descoberta de um cometa gigantesco em rota de colisão com a Terra por uma dupla de cientistas (Di Caprio e Jennifer Lawrence). Eles tentam alertar o mundo para a eminente possibilidade de extinção da espécie, mas nem a presidente dos EUA (Meryl Streep) nem a mídia parecem dar bola à notícia e os tratam como alarmistas. Paro por aqui para não adiantar nada além, mas ressalto o papel de Mark Rylance como um bilionário interessado em salvar o planeta.

Não só Mark Rylance (que me lembrou Leslie Nielsen) parece uma caricatura de bilionários como Steve Jobs ou Elon Musk,. A visão capitalista e o negacionsimo exacerbados da presidente lembram o excêntrico Donald Trump. O sensacionalismo do podcast apresentado pelos personagens de Cate Blanchett e Tyler Perry são o retrato da alienação reinante na mídia. E as caricaturas prosseguem a cada cena, como a voz da mulher sendo desconsiderada, servindo como espelhos ou “semancol” para autoridades e cidadãos preconceituosos.

Eu, pelo menos, cansei de ver no filme o que vejo diariamente e por vezes olhava o celular. Basta a realidade local, real, demasiadamente humana de uma figura presidencial horrenda e seu assecla da pasta da Saúde, que negam a ciência, o poder ou a exigência da vacina e deixam os efeitos do cometa Covid matar. Já é dura a rotina, mas que a ficção sirva para disseminar essas urgências aos insensíveis. De cá, prefiro quando a vida imita a arte e não o contrário. E se vale um conselho: olhe para frente. Ainda é possível mudanças!

Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

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