O cantor Carlos Alexandre nasceu em Nova Cruz (segundo ele mesmo afirmou na música Natal, Cidade Noiva do Sol) no dia 1º de junho de 1957. Tornou-se nacionalmente conhecido em 1978 com a música Feiticeira e durante sua curta existência (faleceu em um trágico acidente automobilístico no dia 30 de janeiro de 1989, na cidade de São José de Campestre) foi um dos maiores vendedores de discos do Brasil. Todos os discos que gravou venderam mais de cem mil cópias, lhe garantindo Disco de Ouro em todos os lançamentos, um feito que nem mesmo Roberto Carlos conseguiu. O Rei, antes de se tornar o maior ídolo da música brasileira, havia gravado em 1959 um compacto simples pela Polydor imitando João Gilberto com as músicas Fora do Tom e João e Maria. O disco foi um fracasso e a gravadora o dispensou. Na época, o grande ídolo da juventude era Sérgio Murilo, que pertencia ao cast da CBS, até que brigou com a gravadora por causa de direitos autorais. Em represália, a gravadora o colocou na “geladeira” e ele ficou sem gravar. A CBS contratou Roberto Carlos, lançando em 1961 o LP Roberto Carlos Louco por Você – que sequer tem uma foto sua na capa. Embora se tornasse uma raridade depois da “explosão” do Rei nos anos sessenta, o LP não vendeu lá essas coisas, mas serviu para “tirar” Roberto Carlos da Bossa Nova e fazê-lo ocupar em definitivo o lugar de Sérgio Murilo, que caiu no esquecimento.
Voltando a Carlos Alexandre: o compacto com a música Feiticeira vendeu mais de cem mil cópias, dando ao potiguar um disco de ouro e abrindo as portas para lançar seu primeiro LP, que vendeu mais de 250 mil cópias e também foi gravado em espanhol.
Carlos Alexandre, como outros cantores românticos populares, sempre foi considerado um cantor de música brega. A origem da palavra brega não é conhecida, mas o termo geralmente é associado a algo cafona, de mau gosto, de qualidade inferior, deselegante, grosseiro, reles e por aí vai… Em se tratando de música é considerado um termo que abrange vários ritmos e estilos, o que dificulta uma denominação exata. Durante muito tempo, principalmente entre os anos 30 e 50 existia um tipo de música romântica popular considerada “de baixa qualidade”: eram canções com melodias simples e letras ingênuas, muitas vezes lacrimosas, usadas principalmente em sambas-canções e boleros. Foi a época de ouro de artistas como Orlando Silva, Dalva de Oliveira e Nelson Gonçalves. Nos anos 50, surgiram Maysa, Cauby Peixoto e Ângela Maria cantando o mesmo estilo de música.
A partir dos anos sessenta, com o avanço da tecnologia e a utilização dos órgãos eletrônicos (teclados) e das guitarras – época do surgimento da Jovem Guarda no Brasil – os cantores do estilo considerado brega passaram a gravar em seus discos músicas com ritmo mais acelerado, utilizando uma linguagem menos rebuscada, fácil de ser entendida pelo povão; Evaldo Braga, Carlos Alexandre, Paulo Sérgio e Odair José são alguns dos cantores que se encaixam neste perfil. Este tipo de música passou a ser bastante usado nos cabarés que, por um motivo ainda não esclarecido, passaram a ser chamados de “bregas”. Existe uma história (pra mim uma lenda urbana) segundo a qual havia em Salvador uma rua chamada Manoel da Nóbrega, onde existia um brega (cabaré). Com o tempo, as palavras “Padre Manoel da” foram destruídas ficando só No…brega, o que teria tido como consequência a utilização da palavra brega para identificar o estilo romântico popular como um tipo de música sem qualidade, quase exclusivo dos prostíbulos.
Embora muitas das músicas bregas gravadas a partir da década de 60 tivessem um andamento quase de rock’n roll, vários cantores mantiveram um estilo considerado mais romântico, chamado geralmente de música de roedeira (Waldick Soriano, Carlos Alberto, Agnaldo Timóteo e Adilson Ramos são alguns exemplos de cantores deste tipo de música).
No dia 23 de maio do ano passado, a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte aprovou por unanimidade um projeto de lei do deputado Ubaldo Fernandes, que criou o Dia Estadual do Brega, a ser comemorado anualmente no dia 1 de junho, data de aniversário de nascimento de Carlos Alexandre e que, este ano, por iniciativa do cantor Ary Maia, será comemorado na AABB, em um show do qual eu estarei participando ao lado de Carlos Alexandre Júnior, Messias Paraguai, Roberto Cantor (ex-Terríveis), Robson Miragem, banda Flor de Liz e o próprio Ary Maia.
Não há como negar que, com o passar do tempo o brega se reinventou e fica cada vez mais forte. Hoje em dia, com a explosão das redes sociais, os jovens também passaram a curtir o brega, que está mais plural, conquistando um espaço cada vez maior também junto a um público mais esclarecido. E foi aqui no nosso estado onde nasceu aquele cuja data de aniversário de nascimento será sempre lembrada, pois se transformou em lei, o que de certa forma vai ajudar a preservar sua memória e impor respeito a um estilo musical que jamais será superado: o nome dele é Carlos Alexandre.
OBS.: As músicas aqui citadas estão disponíveis no Youtube