Crispiniano e Isaura Amélia comentam morte de Luzia Dantas

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O nome de Luzia Dantas de Araújo é pouco conhecido no Estado. Um estado que pouco se volta às suas artes. Mesmo a alcunha de Luzia Santeira se faz pouco familiar aos ouvidos do potiguar. No entanto, era a escultora de santos mais importante do Rio Grande do Norte. Era porque morreu neste sábado (12), em Currais Novos.

Luzia nasceu em 1937 no sítio Rio Cachoeira, no município seridoense de São Vicente. Foi ali que começou a produzir seus próprios brinquedos, como cachorros, gatos, coelhos… Até começarem as encomendas da vizinhança. Faria 85 anos no próximo dia 27 de fevereiro. Residia em Currais Novos desde jovem.

Suas esculturas de madeira estão espalhadas por toda parte e podem ser vistas em museus, galerias e em casas de colecionadores brasileiros e estrangeiros.

Suas obras retratavam tipos populares, nordestinos e os santos que enalteceram sua arte, a partir do talho na madeira. Suas peças de Arte Sacra, como a Sant’Ana, Nossa Senhora da Conceição, Santa Luzia, São Francisco, são consideradas obras primas.

Luzia fazia suas esculturas com a madeira da umburana e usava como instrumento de trabalho o canivete, sovela, escopo, serrote, lixa, faca e facão. Suas esculturas em estilo barroco impressiona pela riqueza de detalhes.

Para o diretor geral da Fundação José Augusto, Crispiniano Neto, “Luzia está entre os grandes mestres como Xico Santeiro, Gregório Santeiro e tantos outros. Ela foi a expressão maior da mulher nesta linguagem artística”.

Crispiniano lembra ainda que Luzia Dantas era contemplada com o Registro do Patrimônio Vivo (RPV), uma lei criada no RN para proteger artistas populares, mestres do folclore para que, recebendo uma bolsa financeira do Estado, possa repassar seus saberes e conhecimentos à nova geração.

Para a professora Isaura Amélia, fundadora da Sociedade Amigos da Pinacoteca, o Estado perdeu a nossa maior santeira. “Ela esculpia com detalhes e com muito amor, retratava nos rostos dos seu Santos entalhados, os belos traços fisionômicos dos seridoenses. Que ela seja recebida com muito luz na outra Dimensão”.

Com lembra o jornalista Iano Flávio, em matéria, a arte de Luzia Dantas teria sido “descoberta” pelos pesquisadores Veríssimo de Melo e Câmara Cascudo ainda nos anos 1960, com direito a citação em seus livros. No final da década de 1970, participou das pesquisas do programa Bolsa Trabalho Arte. Volta no ano 2000, na pesquisa Santeiros e Devoções, da professora Wani Pereira e no projeto Vernáculo, de 2012.

Suas obras formam uma das mais antigas coleções no acervo do Museu Câmara Cascudo (MCC). São 25 obras, incorporadas entre os anos 1960 até a primeira década dos anos 2000. Os trabalhos retratam na madeira, o cotidiano do sertanejo como “Mula com Barris” (1962), “Vaqueiro com boi” (1963), “Casa de farinha” (1965) e “Construção de açude” (1965), com um estilo realista, quase como a fotografia daqueles momentos.

A obra de Luzia também representa a devoção católica dos seridoenses, quando ela recupera inspirações barrocas em obras como “Cristo” (1965), “São Miguel” (1980), “Nossa Senhora Aparecida” (2006) e “O frade confessando” (1980), também representadas no acervo do MCC.


CRÉDITO DA FOTO: Cícero Oliveira

Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

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