O engenheiro, o gavião e a moça

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por Marcius Cortez

Atrás da serra magra e ossuda se esconde uma fonte de diversidade e candura. Na frente das casinhas hospitaleiras há varandas que sorriem para os passantes. A minha terra é celeiro pobre embora rico por abrigar gente destemida. De sol a sol, o povo ara a calva da pedra para colher a fartura do roçado valente. No fim do dia, os lavradores puxam conversa com os homens da cidade, entre eles, o engenheiro Kleber de Carvalho Bezerra.

O poeta João Cabral de Melo Neto escreveu que “a luz, o sol, o ar livre envolvem o sonho do engenheiro”. Escreveu também que “o engenheiro pensa o mundo justo, mundo que nenhum véu encobre”. Não é penoso para o engenheiro KCB amar a literatura. Antes pelo contrário, em certa data, voou para Recife, em companhia de outros navegantes poéticos só porque era o dia em que o escritor Arthur Carvalho tomava posse como o mais novo imortal da Academia Pernambucana de Letras. Kleber gosta da moça e do gavião. Crônica irretocável do baiano-olindense-recifense-natalense Arthur Carvalho.

Fui testemunha de que o Professor Kleber Bezerra é o boa praça para os escritores boas praças da nação potiguar. Gente que num tá nem aí para credo religioso, ideologias, preferências sexuais, exotismos gastronômicos, gostos musicais, futebolísticos, maneiras de vestir, jeito de falar, cor da pele. Gente que acredita piamente que só os anjos podem voar porque não levam nada a sério. (Millôr dizia “as borboletas voam porque não levam nada a sério”, mas era plágio de uma frase de Eugène Ionesco. Millôr sabia “chupar”).

Quando o Professor Kleber adentrou na minha tarde de autógrafos, senti o respeito. Lá estavam reunidos duas dezenas das penas mais irreverentes da terrinha. Entre eles, os engenheiros Alex Nascimento, autor de instigantes textos informativos-psíquicos-deformativos, e meus primos João Eduardo Cortez Barros e Fernando de Paula Leitão, que logo se levantaram para abraçar o filho do “majô” Theodorico Bezerra, o polêmico Imperador do Sertão.

Louvei a nossa Londres natalense. Lembro da última vez que estive com Moacy Cirne dele me dizendo: “tô ligado no genial Cascudo. Caguei se um dia ele vestiu a camisa verde do nazismo tupiniquim, o integralismo do limitado Plinio Salgado”. A Londres natalense é como a moça e o gavião. A moça é doce, o gavião é brabo e arredio. Mas tudo bem porque toda convivência é possível. O que não se pode perder é a educação e a ternura. Isso não pode ser perdido, jamais.

Por falar nisso, viva o reaça e pé de cana Jânio Quadros que condecorou Che Guevara no Palácio do Planalto. Pendurou no peito do comuna a medalha da Ordem do Cruzeiro do Sul e o mundo não caiu. A terra continuou girando em torno do sol. Pois de sol a sol, Natal vem dando exemplo semeando diversidade e candura.


FOTO: Alex Gurgel
Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

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