Desde que foi anunciado o período de quarentena, para evitar o aumento de casos da Covid-19 (causada pelo novo coronavírus), voltei a me exercitar, algo que, aliás, deveria ter feito há mais tempo. É sempre assim, aquela velha culpa por ter uma vida sedentária quando se pode fazer algum exercício físico diariamente e, de quebra, ter mais disposição e qualidade de vida. Bem, vou tentar não parar dessa vez. Prometo. Tenho realizado minhas caminhadas no final da tarde, mas estou pensando em alternar os horários e sair alguns dias pela manhã. Geralmente acordo cedo e gosto de sentir a brisa matutina, especialmente antes de o sol ficar muito quente, como se diz por aqui.
Hoje fui caminhar pela manhã, aqui mesmo onde moro, no bairro de Neópolis, mas confesso que desejei estar em outros lugares mais adequados (e inspiradores) para se exercitar, digamos assim: o Parque das Dunas, a praia de Ponta Negra… Bem, mas esse é um outro assunto sobre o qual é melhor não pensar agora, pois não sabemos quanto tempo durará nosso isolamento social. O mais importante (e urgente) agora é preservar a saúde da população e evitar que mais pessoas se contaminem pelo coronavírus, especialmente os que fazem parte do grupo de risco – idosos, hipertensos, diabéticos, asmáticos, pessoas em tratamento contra o câncer, transplantados etc.
A doença já vitimou mais de 24.000 pessoas no mundo e 92 no Brasil, que soma mais de 3.000 infectados (detalhe: esses dados, que sofrem atualização diária, estão disponibilizados na edição de hoje, 28 de março, do jornal “El País”). Lembrando que o isolamento social é uma medida importante, mas a constante higiene das mãos e dos objetos/superfícies usados com frequência é outro aliado poderoso para evitar a contaminação. Água e sabão e álcool em gel são recomendados.
Voltando à caminhada matinal. Ao mesmo tempo que idealizava as caminhadas no parque e na praia, fiquei imaginando como seria bom se tivéssemos mais ciclovias na cidade e as pessoas pudessem se locomover mais a pé ou de bicicleta, com a necessária segurança, claro.
Eu mesma tenho esse sonho de comprar uma bicicleta e poder me locomover para locais próximos de casa, por exemplo, pedalar nos finais de semana… Confesso que o reduzido número de veículos nas ruas nesse período me faz pensar nisso como uma possibilidade real, como uma forma de melhorar significativamente minha qualidade de vida. E o que isso significa? Um ambiente menos poluído e menos estressante com o barulho ensurdecedor dos veículos. Agora mesmo, enquanto escrevo esta crônica, desfruto de um raro momento em casa, não estou escutando barulho de carro e de ônibus a todo momento (quatro linhas de ônibus circulam no meu bairro diariamente e o número de veículos que passam por aqui é incontável).
Ao mesmo tempo que pensei nas ciclovias, também imaginei um bairro, uma cidade, na verdade, com mais espaço para nos exercitarmos, com mais praças, quadras de esporte ao ar livre. (Isso me fez lembrar a cidade de Sorocaba/SP, onde estive há dois anos, toda rodeada de ciclovias. Uma beleza). Locais onde a população possa conviver de forma mais saudável, crianças e idosos especialmente. Locais onde a prefeitura pode realizar, por exemplo, eventos voltados para promover a qualidade de vida da comunidade e incentivá-la a praticar exercício físico, se alimentar de forma mais saudável, privilegiando o consumo de frutas e verduras e evitando o consumo de alimentos industrializados, campanhas educativas sobre temas diversos – descarte correto do lixo, doação de sangue, educação sexual, consumo de água, preservação do meio ambiente, normas de trânsito etc.
Tudo isso implicaria numa população mais saudável e menos confinada em suas casas e seus empregos, como se a vida se resumisse ao trabalho/obrigações e a natureza não fosse algo que devêssemos usufruir para o nosso próprio bem-estar. Lembrando que usufruir também significa preservar. Essas campanhas educativas poderiam ser realizadas, por exemplo, por bibliotecas escolares/públicas. Afinal, essa é uma das inúmeras atividades realizadas por esse profissional multitarefa chamado bibliotecário.
Espero que depois dessa crise que o país e o mundo atravessam nossos governantes pensem um pouco mais na qualidade de vida da população e nós, cidadãos, possamos continuar lutando por uma cidade melhor, menos poluída, com mais verde e mais espaço para convivência ao ar livre, e, principalmente, que cuidemos mais do meio ambiente, tendo a consciência de que nossa qualidade de vida disso também depende.
Uma cidade com mais ciclovias e menos poluição. Uma cidade mais segura para os seus cidadãos, onde se possa andar a pé sem medo de ser assaltado a todo momento. Uma cidade mais humana, colorida, limpa, sem tanta poluição ambiental/visual. Aliás, a Lei da Cidade Limpa (2006), de São Paulo, bem que poderia ser copiada por aqui e as propagandas em outdoors serem proibidas de uma vez por todas. É muita poluição visual.
Também desejo ser mais atuante nessa luta e não ficar de braços cruzados, só reclamando, sem nada fazer para mudar a realidade. Aliás, se tem uma coisa que os momentos de crise nos ensinam é que sempre é possível fazer algo para modificar a realidade em que estamos inseridos.
4 Comments
Texto leve, simples e gostoso de ler. Parabéns!
Excelente 👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽 Tbm faz tempo que penso em comprar uma bicicleta!🚲
Belo texto. Vc é fantástica. Como sempre. Bj
Se fosse preciso Andreia, eu assinaria embaixo de cada linha que você escreveu. Aliás, como sempre, um texto livre de palavras rebuscadas e rico em observações do contexto urbano de nossa bela cidade. Parabéns e obrigado pela mensagem singela e suave!