O escritor Lívio Oliveira sempre gostou de literatura, e a poesia sempre esteve na sua vida. Quando menino costumava jogar xadrez e até chegou a ser prefeito-mirim de Natal, por um dia. Nascido no bairro do Alecrim, foi morar no Barro Vermelho, onde passou a infância e adolescência brincando pelas ruas, jogando bola, ouvindo rock, lendo Fernando Pessoa, Augusto dos Anjos, Manuel Bandeira… e, claro, escrevendo, quando recebeu também o chamado para fazer Direito na UFRN.
Já adulto, estreou, pelo menos de forma pública, no jornal cultural “O Galo” de Natal, em junho de 1999, com três poemas: “A Cada Esquina”, “Náufrago” e “Culpa”. Em 2002, lança oficialmente seu primeiro livro de poemas com título muito feliz, “O Colecionador de Horas” (AS Editores, 2002). O livro tem um nível considerado bom para um poeta de estreia, enxuto, sem excessos, bem construído, sem hermetismos, o que desperta o gosto da leitura nos mais variados tipos de leitores, como por exemplo, no poema: DE CRIANÇA
Pulei
e, após o muro,
vi que meus companheiros…
eu já não os podia alcançar
AMADURECIMENTO POÉTICO
Em seu segundo livro “Telha Crua” (Sebo Vermelho, 2005), fica evidente a marca de uma maturação poética, em relação à obra inicial; nele o autor passeia livremente por temas como as memórias, erotismo, amor, solidão e referências da infância, e cada vez mais ousando de experimentos poéticos em versos minimalistas. Ganhador dos dois principais prêmios de poesia do Rio Grande do Norte, “Prêmio Luís Carlos Guimarães” e “Prêmio Othoniel Menezes”, “Telha Crua” confirmou as habilidades artísticas com as palavras, do jovem autor.
Ainda nesse período Lívio Oliveira mostrou toda sua veia de pesquisador e ensaísta no livro “Bibliotecas Vivas do Rio Grande do Norte” (Editora Sebo Vermelho, 2005). E em 2007, publica a interessante obra “Pena Mínima – Haikais & Poemas Curtos” (Edições Sebo Vermelho, 2007). O livro abre com prefácio de Nei Leandro de Castro, que resume um pouco da estrutura do que é um haikai e elogia bastante o estilo, a leveza e força verbal do poeta, que não tem medo de arriscar.
Em seu quarto livro, “Dança em Seda Nua” (Sela Azul, 2009), Lívio Oliveira inova, ao trazer para o público uma obra totalmente voltada para os elementos eróticos verbais. Destaque especial no livro são as ilustrações feitas por Dorian Gray Caldas, vários desenhos, que complementam visualmente o jogo sedutor dos versos. No mesmo período, Lívio estreia como letrista lançando, em parceria com Babal o Cd “Cineclube” que tem a participação de vários cantores como Khrystal, Valéria Oliveira e Geraldo Azevedo. Obra temática é uma homenagem ao universo cinematográfico, do qual o poeta é fã declarado.
Continuando a interagir com a poesia produzida no Brasil, nesse início de novo século, publicou, nos anos seguintes “Teorema da Feira” (Caravela Selo Cultural, 2012), “Resma” (Caravela Selo Cultural, 2014) e “`Cais Natalenses – 101 haicais de Lívio Oliveira” (8 Editora, 2014), obras bem recebidas pela crítica e pelo público.
Fica evidente ao longo dos últimos vinte anos a inquietação literária de Lívio Oliveira. Observa-se, nesse espaço de tempo, uma espécie de projeto poético em seu trabalho como literato, que começa, nos primeiros livros, com marcas de um jovem eu lírico; as lembranças de menino, as figuras, os personagens, os amores, os filmes, a descoberta do erotismo, seguindo pelo experimentalismo nos versos, seja em poemas curtos, haicais, e poemas em prosa e vai, até a simbólica e significativa afirmação do poeta maduro, firmado, com sua presença nas letras potiguares, já se tornando referência para uma novíssima geração que surge.
Tivemos a oportunidade, em 2013, de entrevistá-lo para o livro “Impressões Digitais – Escritores Potiguares Contemporâneos”, vol. 1, do qual destacamos o seguinte trecho:
Quem é o escritor e o ser humano Lívio Oliveira?
“Alguém que crê no valor da arte e um cara que já acertou algumas vezes e se equivocou outras tantas, mas que sempre buscará o caminho mais acertado, ética e esteticamente. Aprendi a pedir desculpas pelos meus erros e agradecer pelo que recebo através da generosidade dos outros. Tento fazer o bem e nunca faço o mal de caso pensado. Mas todos incomodamos, em um momento ou outro. Faz parte da natureza humana, que conheço melhor, mas que ainda me traz enigmas. Confesso, ainda, que – antes de tudo – este escritor é alguém que se sente melhor como leitor, em meio ao colorido e os cheiros de uma boa biblioteca. Aceito e trabalho razoavelmente o mundo digital e as suas novidades, mas ainda amo apaixonadamente um bom livro posto sensualmente entre as mãos e com suas palavras impressas reluzindo diante dos olhos.”
Também escrevemos sobre a sua obra poética no livro “Os Grãos – Ensaios Sobre Literatura Potiguar Contemporânea” (Sarau das Letras, CJA Edições, 2016). Afirmamos, então:
“Trata-se de uma poesia que traduz o impasse entre romper com a tradição, e / ou posicionar-se como seguidora de procedimentos típicos das vanguardas ou de outros movimentos poéticos.
Todos os dilemas e virtudes da poesia potiguar contemporânea, que na verdade é poesia brasileira, poderiam ser resumidos no livro ‘Resma’. Lívio faz experimentações felizes num momento em que parece haver uma certa estagnação em determinados segmentos da poesia produzida aqui, quando alguns poetas têm caído na cilada de escrever mais do mesmo”.
Nascido em Natal, há exatos cinquenta anos, 16-08-1969, além de poeta, Lívio Oliveira é cronista, ensaísta, letrista, ativista cultural, ex-presidente da UBE/RN, escreve para jornais, revistas e sites culturais e atua profissionalmente como Procurador Federal, tendo atuado também durante muitos anos como professor universitário. É membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, além de outras instituições culturais.