por Manoel Onofre Jr.
Situada no alto de uma serra paradisíaca, Martins tornou-se uma das principais cidades turísticas do interior do Estado. O seu potencial, como estância climática, vem sendo explorado, pouco a pouco. Mas, não só o frio e belas paisagens fazem o encanto de Martins.
Velha cidade, outrora denominada Imperatriz, ela tem outras atrações, de interesse histórico e artístico, como, por exemplo, o Museu Demétrio Lemos, com uma extraordinária coleção de bustos e estatuetas em bronze, afora numerosas raridades bibliográficas doadas pelo coronel Demétrio, um benfeitor da terra.
Não menos interessante, o Sobrado, construção de 1871, antiga residência do senador Almino Afonso, abriga atualmente o Museu Histórico e o Museu Arqueológico.
Pouca gente sabe que, até as primeiras décadas do século XX, Martins era tida e havida como cidade-sanatório, “lugar pra héticos” (tísicos), no dizer do escritor Mário de Andrade, que a visitou em janeiro de 1929.
Muitas pessoas acometidas de tuberculose iam para Martins em busca de cura nos ares serranos. Uma destas pessoas, o poeta e escritor Henrique Castriciano, ainda jovem, esteve lá, por volta de 1895.
Em sua temporada na serra, segundo seu biógrafo, Câmara Cascudo, passeou pelos arredores a cavalo e a pé. E, um dia, foi visitar a famosa Gruta das Trincheiras, no sopé da serra. Percorrendo o seu interior, extasiou-se diante do fenômeno da estalactite, “o filete d’água lendário, que todos admiram e de que contam histórias fabulosas”. De súbito, inspiradíssimo, escreveu na própria pedra estes versos antológicos:
NA SOLIDÃO
A lágrima sem fim, a lágrima pesada,
Que eternamente cai do cimo desta gruta,
Representa alguma alma estranha e desolada,
Que mora a soluçar dentro da rocha bruta…
Esta alma quem será? Não sei! Mistério fundo…
Entretanto eu pressinto alguém, que se debruça,
E baixinho me diz, num gemido profundo:
Existe um coração na pedra que soluça…
No artigo intitulado “Um Panorama do Nordeste”, de 1931, Castriciano deu o seguinte depoimento:
“Estive no Martins há cerca de trinta anos. Lá deixei amigos, quantos desaparecidos na morte! Deles me recordo com saudade, quando a memória m’os deixa ver através a miragem da longínqua juventude. Os moços não me conhecem, mas devem ter ouvido falar no rapaz que deixou, na Gruta da Trincheira ao pé da serra, algumas linhas rimadas, lembrando a sua efêmera passagem”.
Vale salientar que a presença de Martins na obra castriciana não se restringe ao poema “Na Solidão”, mas estende-se pelo livro “Ruínas” (1897), como bem atesta Rodrigues de Carvalho, no prefácio ao referido livro.
Henrique Castriciano de Souza (1874/1947) foi, além de poeta e ensaísta, um pioneiro da luta pela educação da mulher, no Brasil, tendo sido de sua iniciativa a fundação da Escola Doméstica de Natal, estabelecimento modelar.
Irmão da poetisa Auta de Souza e do Senador Eloy de Souza, não teve grande participação na vida política do Estado, mas exerceu o cargo de vice-governador. Foi o primeiro presidente da Academia Norte-rio-grandense de Letras.