A estreia da temporada de concertos 2019 da Orquestra da UFRN, neste sábado, seria pauta para mídia por si só. Mas a notícia de um jovem de apenas 13 anos como solista de uma peça nunca executada no Nordeste em razão de sua complexidade, saltou aos olhos de curiosos. Principalmente pela história de determinação enfrentada pelo músico prodígio para alcançar a final de um dos mais disputados concursos de violino no mundo.
O paulista Guido Sant’anna começou no instrumento aos 5 anos e, pouco depois, foi descoberto pelo maestro e pianista João Carlos Martins. Mas seu vício sempre foi o videogame. “Ele se destacou no violino graças ao videogame. Para sua primeira audição, depois de horas tentando convencê-lo a se apresentar, eu disse: ‘Guido, se você for pode jogar videogame o resto do dia’. Não precisei falar mais nada. Sua audição foi sucesso”, conta o pai, Silvano da Silva.
Mas para se inscrever no Menuhin Competition, uma das mais disputadas competições de violino no mundo, promovido em Genebra, na Suíça, as dificuldades financeiras da família também contribuíram. Silvano lembra do violino francês de segunda mão comprado após juntar dinheiro por meses, das cordas baratas enferrujadas que se tirava pra usar mais algumas semanas, do arco quase helicoidal com metade das crinas…
“Tentávamos ajustar a alma do instrumento em casa, com auxílio de um garfo. Com cola tenaz, improvisamos espaleiras, tentamos sem sucesso encrinar o arco, tudo para que ele pudesse continuar tocando”. E o jovem músico ainda percorria três horas de ônibus e trem para a aula. A mãe se debruçava em métodos e teorias para transmitir conhecimentos extras já que a família não podia pagar por esses aprofundamentos.
Mesmo diante dessas dificuldades, Guido se inscreveu, passou pela audição e, além de ser o único brasileiro já selecionado neste concurso e único sul-americano na disputa, conseguiu ir à final ficando em sexto lugar entre 300 músicos.
“Quando ele foi finalista lembrei das críticas de músicos profissionais, lembrei das tantas ‘portas fechadas’, dos ‘nãos’, sem professor, sem dinheiro. Até um grupo de amigos (Cultura Artística) acreditar nele e patrocinar suas primeiras aulas com a professora Elisa Fukuda”, recorda o pai.
Solista no concerto da Orquestra da UFRN
Dentre as peças do concerto deste sábado, a partir das 19h na Escola de Música da UFRN, uma se destaca pela virtuosidade técnica exigida e, por isso, nunca executada no Nordeste: o Concerto nº 1 para Violino e Orquestra, composta pelo gênio Paganini. Será justamente essa que Guido Sant’anna executará como solista.
“Nos sentimos orgulhos do trabalho realizado pela nossa Orquestra em trazer talentos de reconhecimento nacional e mundial para nossos concertos. E Guido é um desses nomes, mesmo tão jovem. E pela sua história fica claro como a música ainda pode ser um divisor de águas na vida de pessoas e como são importantes os projetos sociais nessa seara”, ressaltou o maestro da Orquestra, André Muniz.